"0 CAPITAL": UMA LEITURA POPULAR Em uma carta enderecada a Carlo Cafiero, Marx elogiava "a grande superioridade" do t
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"0 CAPITAL": UMA LEITURA POPULAR
Em uma carta enderecada a Carlo Cafiero,
Marx elogiava
"a grande superioridade" do trabalho do italiano em rela cao
aos
servio
trabalhos
analogos
realizados
ingles.
ate
a
e
E
hoje
sintese
naqueles do
Livro
anos
em
I
"O
de
Capital", que tern constituido para numerosas geracoes de trabalhadores e estudantes uma das aproximacoes obriga.
.
t6rias
ao
marxismo,
mantem
o primado
da
simplicidade
didatica, Notando que a dificuldade de "O Capital" tornava o texto acessivel
a
prefacio,
que "e
balhar. meira,
uma
E essa
minoria
para outro
gente
composta
·de
se
pelos
estudiosos, tipo
de
divide em
afirma,
gente
tres
trabalhadores
que
em
seu
devo
tra
categorias: inteligentes
a e
pri com
alguma instrucao; a segunda, pelos jovens nascidos na bur· guesia, m a s q u e lutam pela causa dos trabalhadores ( . . . ) ; a . terceira, finalmente, e essa mocada de escola, crianca, dar
que �e pode comparar com
bons
picio".
frutos,
se
transplantada
ainda quase
uma arvore que pode para
um
terreno
pro·
"O CAPITAL": u m a leitura p o p u l a r
CARLO C A F I E R O
''O CAPITAL'':
uma leitura popular treduciio:
Mario Curvello
editora polis
1981
Tltulo do original: Compendio de/ Capita/e.
Capa: LUCIO YUT AKA KUME
I 1981 LIVRARIA E ED ITO RA POLIS LTDA. 04138 - R. Caramuru, 1 1 9 6 - Fone: 275-7586 Sao Paulo
"O operario fez tudo; e o operdrio pode destruir tudo, porque pode fazer tudo de novo. "
Ind ice
Ao leitor
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Prefacio do autor Capitulo I:
pital
a primeira
Mercadoria,
edicao
. . . . . . . . . . .
dinheiro,
Como nasce o capital
. . . . . . . . . . . .
Capltulo III: A jornada de trabalho
V:
Cooperacao
Capltulo
VI:
Capitulo
VII:
Capltulo
VIII:
30
. . . . . . . . . . .
37
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
43
trabalho
e manufatura
Maquina e grande indiistria
0 salario
21
47
. . . .
55
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
77
Acumulacao do capital
. . . . . . . . .
87
A acumulacao primitiva
. . . . . . . . .
117
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
139
Capltulo IX: Capitulo X:
Conclusao
Divisao do
15
. . . . . . . . . .
Capltulo IV: A mais-valia relativa Capltulo
11
riqueza e ca-
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Capltulo II:
9
Anexos: Carta de Cafiero a Marx
. . . . . . . . . . . .
Resposta de Marx a Cafiero Sob re Carlo Cafiero
143
. . . . . . . . .
145
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
14 7
Ao leitor
Esta versao do livro de Carlo Cafiero, aqui sob o titulo
de
O
Capital:
tende
ser uma
uma
versao
leitura popular,
definitiva,
mas
nem
nao
pre
por
isso
entregamos ao leitor apenas um texto provis6rio. Ela cristaliza
uma
etapa
no
trabalho
de
divulgacao
e
popularizacao da obra de Karl Marx; faz parte deste trabalho
a
elaboracao
de
um
texto
imediatamente
acessivel e, ao mesmo tempo, capaz de suscitar interesse pela obra original. 0 Compendio def Capitale de Carlo Cafiero tern essa dupla qualidade.
Eis o nosso
texto-base, ja escrito em 1 8 7 9 . D e l e fizemos diferentes versoes, ate chegarmos mais
proxima
possivel
a
escolha de uma que fosse a
do
livro
de
Cafiero,
mas
ja
tomando a liberdade de modernizar expressoes e passagens,
no
sentido
do
leitor
brasileiro
de
hoje.
No
trabalho com o original de Cafiero, vinha-nos a ideia de cortes e acrescimos, sobretudo estes, quando pen savamos em cobrir a aparente lacuna a que Marx faz referencia em sua resposta a Cafiero. Mas nao: faze-lo seria
nao
registrar
uma
concepcao
de
leitura
de
O
9
(;
Capital; dizendo mais cruamente,
em
nome
de
Marx.
Preferimos,
seria trair Cafiero
portanto,
manter a
fidelidade a esta valiosa obra de divulgacao do pensa mento
socialista
e,
ao
mesmo
tempo,
lembrar
aos
leitores o homem revolucionario e singular na historia do movimento operario internacional: Antes relacao leitor
a
de
apontarmos
presente
para
uma
edicao,
traducao
Cafiero, publicada em
algumas
Carlo Cafiero.
observacoes
chamamos brasileira
1960,
em
a
atencao
do
do
resumo
de
dentro da Colecao "Bi
blioteca de Au tores Celebres",
das
Edicoes e Publi
cacoes Brasil, sob o titulo: Karl Marx - 0 Capital; pode ser util para o leitor avaliar as modificacoes que aqui introduzimos. Para \
aspas
nao
que
paginas
sobrecarregar o texto,
demarcam
citadas
no
os
trechos
rodape
de
remetem
eliminamos O
o
Capital.
leitor
as As
para
a
edicao brasileira de O Capital, traducao de Reginaldo Sant' Anna,
Ed.
Civilizacao
Brasileira.
Observamos
que, no en tan to, nem sempre transcrevemos a referida traducao, preferindo uma traducao propria, direta do texto de Cafiero. No mais,
e
aguardar as sugestoes, as criticas dos
leitores de quern esperamos uma participacao ativa no aprimoramento desse nosso projeto de "leitura cole tiva de O Capital".
Todas as cartas serao bem rece
bidas.
Mario Curve/lo
10
Pref6cio do autor
a
primeira ediciio
Italia, marco de 1878.
Sentia uma tristeza profunda, pital,
estudando O Ca
ao pensar que este livro era e e,
sabe-se la ate
quando, inteiramente desconhecido na Italia. Mas mesmo, situacao.
se
nao
as
coisas
devo
Mas,
estao
nesse
poupar esforcos
o que fazer?
Uma
pe,
dizia
para
a
mim
mudar essa
traducao?
Droga!
Isso nao adiantaria nada. Aqueles que estao em con dicoes de compreender a obra de Marx, escreveu,
conhecem
certamente
o
como ele
frances
e
a
podem
perfeitamente usar a bela traducao de J. Roy, inteira mente revista pelo proprio Marx e que ele recomendou mesmo para os que dominam o idioma alemao.
E
para
outro tipo de gente que devo trabalhar. E essa gente se divide em tres categorias: a primeira, composta pelos trabalhadores inteligentes e com alguma instrucao: a segunda, pelos jovens nascidos na burguesia, mas que lutam pela causa dos trabalhadores e nao tern ainda a suficiente Iorrnacao,
nem o desenvolvimento
intelec-
11
tual para compreender O Capital; mente,
e
a terceira,
final
essa mocada de escola, ainda quase crianca,
que se pode comparar com uma arvore que pode dar hons frutos, picio.
se
transplantada para um
Meu trabalho
deve ser,
terreno pro
portanto,
um resumo
Iacil e curto do livro de Marx. O Capital de Marx que
arrasou
e
e
dispersou
demolidor: ao
secular de erros e mentiras. Uma guerra gloriosa
pela
vento
e
a verdade nova
todo
um
castelo
Uma verdadeira guerra! forca
do
inimigo,
e pela
forca ainda maior do comandante que a empreendeu com uma imensa quantidade de novissimas armas, ins trumentos e maquinas de todo o tipo, que o seu genio sou be extrair de toda a ciencia moderna. Incomparavelmente muito mais modesta nha
missao.
voluntaries
Devo
apenas
conduzir
ardorosos por uma
uma
estrada
e
a mi
tropa
mais
de
facil
e
rapida para o templo do capital e destruir esse deus, para
que todos
toquem com
as
o vejam pr6prias
com
os
maos
pr6prios
olhos
nos elementos
e
o
que �
compoem. Arrancaremos as vestes dos seus sacerdotes para
que
todos
possam
ver
as
manchas
de
sangue
humano que escondiam e as armas cruels que usam para sacrificar um
mimero
sempre
crescente
de
vi
timas.
E com estes propositos que me ponho a trabalhar. Possa Marx cumprir a sua promessa, dando-nos o segundo volume de O Capital, que tratara da circu lacao e das diferentes formas que o capital assume no
12
r
seu desenvolvimento, e tambem o terceiro volume que tratara da hist6ria da teoria.
O primeiro volume de O Capital foi escrito
em
alemao e logo depois traduzido para o russo e o fran. ces. Resumo-o agora em italiano para aqueles que se interessam pela causa do trabalho.
Os trabalhadores
devem ler este livro e maduramente refletir sobre ele, porque nele esta nao somente a hist6ria do desenvol vimento
da
producao
capitalista,
mas
tambem
e
o
Martirologio do Trabalhador. E,
finalmente,
dirijo-rne
muito interessada no destino
tambem
a uma
da acumulacao
classe capita
lista: a classe dos pequenos proprietaries. Como expli car essa classe, outrora tao. numerosa na Italia e hoje cada vez mais
reduzida?
A
razao
e
muito
simples.
Porque a Italia, desde 1860, percorre a todo vapor o caminho que todas as nacoes modernas precisam ne cessariamente percorrer: mulacao
capitalista.
E
o caminho essa
que
a
leva
acu
acumulacao
capitalista
teve na Inglaterra aquela forma classica,
da qual se
aproximam tanto a Italia como os demais paises mo dernos. Se os pequenos proprietaries meditarem sobre a hist6ria livro,
se
da
Inglaterra,
meditarem
sobre
referida
nas
paginas
a acurnulacao
desse
capitalista,
agravada na Italia pela usurpacao dos hens eclesias ticos e dos hens publicos, se sacudirem essa apatia que oprime a sua mente e o seu coracao, se convencerao, de uma vez por todas, que a sua causa trabalhadores,
porque para eles
lacao capitalista nao deixou
e
a causa dos
a moderna
mais
do
que
acumu
essa triste
13
condicao:
ou
se
vender por um
desaparecer para
sempre
salario
na densa
de
massa
fome do
ou
prole
tariado.
Carlo Cafiero
14
I
Mercadoria, dinheiro, riqueza e capital
A mercadoria valor:
valor
de
e
uso
um
objeto
e valor
propriamente dito.
de
que
tern
troca,
que
um
e
Se tenho, por exemplo,
duplo
o
valor
20 quilos
de cafe, eu posso tanto consumi-los para meu pr6prio uso quanto troca-los por 20 metros de tecido, por uma roupa, ou por 250 gramas de prata, se, em vez de cafe, eu
precisar
de
uma
dessas
tres
outras
mercadorias.
O valor de uso da mercadoria se baseia na quali dade propria da mercadoria: se ela comer, ou
para
divertir.
e
para beber, para
Portanto,
essa
qualidade
e
determinada para satisfazer uma determinada neces,
sidade nossa e nao
qualquer outra
de
nossas
sidades. 0 valor de uso dos 20 quilos de cafe nas propriedades
que
dades sao tais que prestam coisa.
para
o cafe possui
nos
fazer
dao
uma
e estas
a bebida cafe,
roupa
ou
E por isso que s6 podemos
e
baseado proprie mas
qualquer
tirar
neces
nao
outra
proveito
do
valor de uso dos 20 quilos de cafe se sentimos a neces sidade de beber cafe. Mas, se, ao contrario, eu preci sasse de uma camisa e nao dos 20 quilos de cafe que
15
tenho em maos?
0 que fazer?
Nao saberiamos,
se a
mercadoria nao tivesse tambem, junto com o valor de uso, o valor de troca. Encontramos agora uma pessoa que tern uma camisa,
da qual nao tern necessidade,
mas que precisa do cafe.
Entao fazemos uma troca.
Eu lhe dou os 20 quilos de cafe e ela me da a camisa . . . Mas, dades
tao
como
podem
diferentes
as
entre
mercadorias si,
serem
de
proprie
trocadas
umas
pelas outras em determinadas proporcoes? Porque a mercadoria, alem do valor de uso, tern tambem o valor de troca. .Isso ja sabemos. 0 que nao sabiamos era que a base do valor de troca, propriamente
dito,
para se produzir produzida humano
e
pelo
e
o trabalho
humano
essas mercadorias. trabalhador.
da existencia
a
necessario
A mercadoria
Portanto,
a substancia procriadora;
do valor
e
o
e
trabalho
o trabalho que
mercadoria, Em sua essencia, embora
de propriedades tao diversas entre si, todas as merca dorias sao a mesma coisa, perfeitamente iguais,
por
que, filhas de um mesmissimo pai, tern todas o mes missimo sangue em suas veias.
Se trocamos 20 quilos
de cafe por uma camisa ou por 20 metros de pano,
e
porque para se produzir 20 quilos de cafe, precisou-se de tan to trabalho humano quanto para a producao de uma camisa ou de 20 metros de tecido. Trocou-se uma camisa por tanto
de trabalho humano materializado
nos vinte quilos de cafe, ou trocararn-se os vinte quilos de cafe por tanto
de trabalho humano materializado
em uma camisa. Ou seja, trocou-se trabalho por tra balho.
16
A substancia do valor da mercadoria esta
no
trabalho humano e a grandeza desse valor e determi nada pela grandeza do trabalho humano.
Ora,
se
a
substancia de valor e a mesma em todas as mercado rias e isto quer dizer que todas as mercadorias como veiculo do valor sao todas iguais e trocaveis entre si, o
que
nos
resta,
portanto,
e
comparar
o
tamanho
dessa grandeza, medi-la. A
grandeza
trabalho;
do
valor
depende
da
grandeza
e qual e a medida do trabalho?
do
0 tempo:
hora, dia, semana, mes, etc. Em 12 horas de trabalho se produz um valor duas vezes maior do que se produ ziria
em
6
horas.
Dai,
alguem
poderia
dizer
que
quanto mais lento fosse um trabalhador, quer por ina bilidade, quer por preguica, mais valor produziria. Na da mais falso do que esta afirrnacao, pois o trabalho de que estamos falando e que da substancia ao valor, nao e o trabalho trabalho medic,
de
Pedro ou
de
Paulo,
e
sim
um
que e sempre igual e que e propria
mente chamado de trabalho social: E o trabalho que, em
um
determinado
centro
de
producao,
pode
ser
feito em media por um operario, o qual trabalha com uma habilidade media e uma intensidade media. Conhecido o duplo carater da mercadoria, isto e, de ser valor de uso e valor de troca, que
a mercadoria
s6
pode
nascer
compreendemos
por
balho, e de um trabalho util a todos.
obra
do
tra
Por exemplo, o
ar, os prados naturais, a terra virgem, e t c . , sao uteis ao homem,
mas nao constituem nenhum valor,
por
que nao sao produtos de seu trabalho e, consequente mente, nao sao mercadorias. Tambem podemos fabri-
17
car objetos para o nosso proprio uso,
mas
que
nao
podem ser iiteis a outros; nesse caso nao produzimos mercadorias; cadoria,
do mesmo modo nao produzimos mer
quando
trabalhamos
com
coisas
tern nenhuma utilidade nem para nos,
que
nein
nao
para os
outros. As mercadorias, pois, sao trocadas entre si; uma se apresenta como equivalente da outra. facilidade
das
trocas,
comeca-se
a
Para maior
empregar
uma
determinada mercadoria como equivalente para todas as outras. Esta mercadoria se destaca do conjunto de todas
as outras
para
equivalente geral,
se
colocar
frente
a elas
isto e, como dinheiro.
como
Por isso,
o
dinheiro e aquela mercadoria que, pelo costume e por determinacao legal, lente geral. Assim,
monopolizou o posto de equiva o dinheiro,
nos atraves da prata.
a moeda,
Enquanto
antes,
chegou ate
20
quilos
de
cafe, uma camisa, 20 metros de tecido e 250 gramas de prata eram entre si que
20
quatro mercadorias
indistintamente, quilos
de
cafe,
hoje,
ao
que
se
trocavam
contrario,
uma camisa e 20
tem-se
metros
de
tecido sao tres mercadorias que valem, cada uma, 250 gramas de prata, por exemplo, 500 cruzeiros. Mas,
seja atraves das mercadorias
diretamente,
seja atraves do dinheiro, a lei de trocas permanece .a mesma, sempre. Uma mercadoria so pode ser trocada por outra se o seu valor de troca for igual.
Isto quer
dizer que se uma mercadoria nao tiver o mesmo tempo de trabalho que a outra, nao ha troca. Esta so aeon tece entre trabalhos iguais. E tudo o que vamos dizer
18
de agora em diante
e
baseado nela, nessa lei de troca
de mercadorias. Com a chegada do dinheiro, da moeda, as trocas diretas
ou
imediatas
de
uma
mercadoria
por
outra
desapareceram. Agora todas as trocas devem ser feitas atraves do dinheiro. Desse modo,
qualquer mercado
ria que queira se transformar em outra, deve, antes de mais nada,
como mercadoria,
transforrnar-se em di
nheiro, e depois, como dinheiro, retransforrnar-se em mercadoria. Portanto, o esquema das trocas nao sera mais
uma
cadeia
de
mercadorias
-
uma
ab6bora
X uma melancia X um pao - e sim, uma cadeia de mercadoria e dinheiro. Ei-Ia:
mercadoria - dinheiro - mercadoria - dinheiro
M
D
M
D
Ora, se nesta formula assinalamos os giros que a mercadoria realizou, assinalamos tarnbern os giros do dinheiro.
Como veremos,
e
desta formula
que
sai
a
formula do capital. Quando temos em nossas rnaos uma certa quanti dade de mercadorias ou de dinheiro,
o que
no caso.
vem a dar no mesmo, somos possuidores de uma certa riqueza.
Se
corpo, que
e
a gente pudesse
dar
a esta
riqueza
um
um organismo que se desenvolve, que se
alimenta, entao teriamos o capital. Ter um corpo ou organismo capaz de se desenvolver significa nascer e crescer.
E nesse
desenvolvimento
que
a
origem
do
19
capital parece desaparecer, na natureza possivelmente fecunda do dinheiro. Mas de que maneira nasce o capital? Naquela formula que assinala os giros da merca doria e do dinheiro, vamos acrescentar ao dinheiro um numero que indica seu aumento progressivo:
dinheiro - mercadoria - dinheiro
1
- mercadoria
- dinheiro 2 - mercadoria - dinheiro 3 . . .
Ee
D
-
exatamente essa a formula do capital:
M
-
Dl
Como vimos,
-
M
-
D2
-
M
-
D3 . . .
a resposta ao problema ( encontrar
um metodo de fazer nascer o capital) estava contida · na resolucao de um outro problema: formula
de
fazer
aumentar
encontrar uma
progressivamente
o
di
nheiro. E como o capitalista consegue proxirno capitulo.
20
isso?
E
o
nosso
II
Como nasce o capital
Observando atentamente aquela formula do capi tal (D - M- Dl - M - D2), chega-se
a
conclusao
de que a questao da origem do capital se resolve, em iiltima
analise,
nesta outra
questao:
encontrar
uma
mercadoria que de mais dinheiro do que se gastou em sua compra. Em outras palavras, encontrar uma mer cadoria
que,
em
nossas
maos,
possa
aumentar
de
valor, de tal modo que, vendendo-a, se possa ganhar mais
dinheiro.
Portanto,
bastante elastica para valor,
deve
ser
ser capaz
a sua grandeza de valor.
de
uma
mercadoria
aumentar o seu
Esta mercadoria tao
singular existe: e a forca de trabalho. Ai esta. 0 homem do dinheiro acumulou riqueza e quer dessa riqueza criar um capital.
Ele
chega
ao
mercado com o endereco certo: comprar Iorca de tra balho. Vamos segui-lo! Ele anda pelo mercado e da de cara com vender
o operario,
sua
unica
que
esta
mercadoria:
ali
exatamente
a forca
de
para
trabalho.
Mas o operario nao vende a sua mercadoria de uma s6 vez e para sempre. Ele vende a sua forca de trabalho
21
em parte, por um dado tempo, um dia, um mes, etc. Se o operario vendesse sua Iorca,
sua capacidade de
trabalho inteiramente, nao seria mais um mercador e se transformaria ele mesmo,
sua pessoa,
em
merca
doria; nao seria mais um assalariado, mas um escravo do seu patrao. O preco da forca
de trabalho
se calcula
da
se
guinte maneira: tomam-se os precos dos alimentos, da roupa, da habitacao, enfim, de tudo que e necessario ao trabalhador para manter a sua forca de trabalho durante o ano e sempre em seu estado normal. Acres centa-se, a esta primeira soma, o preco de tudo que e necessario ao trabalhador para procriar, educar seus filhos,
alimentar e
segundo sua condicao:
depois di
vide-se o total pelos dias do ano - 365 - , e se sabera quanta, por dia, e necessario para manter a forca de trabalho,
0
seu preco diario, que e
O
salario diario do
operario, 0 que o trabalhador precisa para procriar, alimentar e educar os seus filhos entra neste calculo, porque os filhos do trabalhador representam a conti nuacao
da forca
vendesse
por
apenas ele,
de
inteiro
trabalho. a
sua
Assim,
forca
de
se
o
operario
trabalho,
nao
mas tambem seus filhos seriam escravos
do seu patrao,
eles seriam tambem
mercadoria.
Po
rem, como assalariado, ele tern o direito de conservar todo o resto,
que se encontra parte nele e parte
nos
seus filhos. Com aquele calculo obtivemos o preco exato da forca de
trabalho.
capitulo anterior,
22
A lei
das
trocas,
como vimos
no
diz que uma mercadoria nao pode
ser trocada por outra se nao tiverem o mesmo valor; isto e, se o trabalho que se requer para produzir uma nao for igual ao trabalho que se requer para ducao
da
outra.
Ora,
o trabalho
produzir o que e necessario
ao
que
se
a pro
exige
trabalhador
para
e,
por
tanto, o valor das coisas necessarias ao trabalhador e igual ao valor de sua forca de trabalho; se o trabalho necessita de 100 cruzeiros por dia para comprar to das
as
coisas
que
lhe
sao
necessarias,
logicamente
100 cruzeiros sera o preco diario de sua forca de tra balho. Pois bem. Sem alterar em nada o que falamos ate aqui, podemos supor que o salario diario de um opera rio alcance os 100 cruzeiros. Suponhamos, ainda, que em 6 horas de trabalho sejam produzidos de
prata,
que
equivalem
aos
100
15 gramas
cruzeiros.
Agora,
voltemos ao mercado. La, enquanto isso, o homem do dinheiro fez um contrato
com
o
proprietario
da
forca
de
trabalho,
pagando por ela o seu justo preco de 100 cruzeiros. Ele e
um
burgues
muito
honesto
e,
alem
disso,
muito
religioso, incapaz de especular com a mercadoria do operario.
operario
N
ern
e
necessario
s6 vai ser pago no
dizer
fim
acontece
tarnbem
e
do
t
que ele recebe o
salario
e
salario,
, por exemplo, o
arrendamento
de
do
rabalhou, depois
com outras mercadorias,
se realiza no uso, como casa ou
o
do dia, ou da semana,
ou do m e s. Enfim , s6 depois que ele que ele produziu,
que
uma
E
cujo
o que valor
aso de uma
c
terra,
cujo
preco
precisa ser pago de acordo com o prazo estabelecido.
23
Estes sao os tres elementos
do
processo
do
tra
balho:
1 ?)
forca de trabalho;
2?)
materia-prima;
3?)
os meios de trabalho.
Bern, voltando ao nosso homem do dinheiro: pois de comprar a forca de trabalho, bem a materia-prima, no caso, trabalho, isto condicoes
e,
comprou
algodao;
OS
de
tam
meios de
a fabrica com todos os instrumentos e
de trabalho ja
estao
perfeitamente
prepa
rados. E agora, diz ele, saindo apressado do mercado: -
a obra!
Maos
Uma certa transforrnacao parece ter-se dado na fisionomia
dos
personagens
do
nosso
mem do dinheiro toma a dianteira, capitalista; gue-o,
o
como
proprietario seu
da
trabalhador.
Iorca
drama.
0
ho
na qualidade de de
Aguele,
trabalho com
a
se
apa
rencia honrada, satisfeita e atarefada; o outro, timido, hesitante,
com a sensacao de quern vendeu a propria
pele no mercado e que agora nao pode esperar outra 1
coisa senao . . . ser esfolado. Enfim, chegam
a
fabrica. 0 capitalista se apressa
em botar o seu operario para trabalhar, lhe dez quilos de algodao, esse operario
(1)
e
Antes que eu me esqueca,
fiandeiro, produz fios de algodao,
Karl Marx,
0 Capital,
zacao Brasileira, 1968, p. 197.
24
entregando
trad.
de Reginaldo Sant'Anna,
Civili
E consumindo os seus tres elementos: a forca de trabalho, a materia-prima e os meios de trabalho, que o trabalho se realiza. O consumo dos meios de trabalho calcula-se do seguinte modo: da soma do valor de todos os meios de trabalho - o predio, suas instalacoes, as ferramentas, o oleo, o carvao,
etc. - subtrai-se a soma do valor dos
meios de trabalho consumida no processo de trabalho; dividindo o resultado desta subtracao pelo mimero de dias que os meios de trabalho possam durar, temos o consumo diario dos meios de trabalho. Parece
complicado,
nao?
Vamos
repetir
isso,
exemplificando com mimeros: Suponhamos que os meios de trabalho (a fabrica com
suas
instalacoes,
maquinas,
ferramentas,
devam durar 10 anos ou 3 650 dias. meios
de
trabalho,
o
capitalista
etc.)
Par todos
esses
desembolsou,
por
exemplo, CrS 1 4 6 0 000 , 00 ; dividindo essa quantia par 3 650
dias,
temos
CrS
400,00,
que
corresponde
ao
consumo diario dos meios de producao. O nosso
operario
trabalhou
durante
toda
uma
jornada de 12 horas. Ao final dessa jornada ele trans formou os 10 quilos de algodao bruto em 10 quilos de fio;
entregou-os
ao
patrao e
deixa
a
fabrica,
retor
nando para casa. No caminho, coma todo o operario, ele
vai fazendo
as
contas,
para
saber quanta
o
seu
patrao podera ganhar com aqueles dez quilos de fio. -
Nao sei exatamente quanta custa o fio - vai
dizendo para si mesmo - , mas, de qualquer modo, a conta esta praticamente feita. 0 algodao cru, eu mes-
25
mo vi quando por quilo.
ele
comprou
no
mercado:
CrS 300,00
Todas as suas ferramentas podem ter um
consumo, digamos de CrS 400,00 por dia. Bern:
10 quilos de algodao
. . . . . . . . . . .
CrS 3 000,00
desgaste diario dos meios de producao
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
meu trabalho de hoje
. . . . . . . . . .
Total dos 10 quilos de fio
. . . . . . .
CrS
400, 00
CrS
100,00
CrS 3 500,00
Ora, certamente, sobre o algodao ele nao ganhou nada:
pagou
o seu justo
preco,
nem
um
centavo
a
mais, nem um centavo a menos; do mesmo modo ele comprou
a
minha
forca
de
trabalho,
pagando
seu
justo preco de CrS 100,00 por dia, Entao, continua pensando o nosso fiandeiro, ele so pode ganhar vendendo o fio acima do seu valor. Nao pode vir de outra coisa;
ele nunca perderia tempo e
energia, gastando 3 500 cruzeiros, para depois de tudo receber os
mesmissimos
3 500
cruzeiros.
Oh!
Como
sao os patroesl A nos, trabalhadores, traquejados no mercado,
ele nao tern
como
disfarcar . . .
E esses pa
trees tern ainda a mania de bancarem os honestos na frente
dos
trabalhadores...
mas
e
um
roubo
uma mercadoria por mais do que ela vale;
e
vender
vende-la
com peso falso, um quilo de novecentos gramas. Isto proibido por lei. fechar
suas
E
roubo! As autoridades vao ter que
fabricas.
construiremos
Vai
grandes
ser
born!
fabricas
Em
publicas,
seu
lugar,
onde
produziremos as mercadorias de que precisamos.
26
e
nos
Assim,
fantasiando,
o operario
chega em
casa.
Apos jantar, se enfia na cama e adormece profunda mente, sonhando com o desaparecimento dos capita listas
da
face
da
terra
e
com
as
grandes
fabricas
piiblicas. Dorme,
pobre amigo,
dorms,
enquanto te resta
uma esperanca. Dorme em paz, que os dias de desen gano nao tardarao a chegar. Mais cedo do que pensas, vais en tender por que os capitalistas podem perfeita mente vender
sua
mercadoria
com
lucro,
sem
para
isso precisar enganar a ninguern. Ele mesmo te mos trara como pode
se
tornar capitalista
e
mesmo
um
grande capitalista, sem perder um fio de honorabili dade. Entao, o teu sono nao sera mais tao tranquilo assim.
Veras,
em
tuas
noites,
o
capital,
como
um
pesadelo, que te oprime e ameaca sufocar-te. Com os olhos aterrorizados, vais ve-lo crescer, como um mons tro com cem dentes de vampiro penetrando nos poros de
teu
corpo,
para chupar o teu
sangue.
Tomando
proporcoes desmesuradas e gigantescas, de sombrio e terrivel aspecto, com olhos e boca de fogo, transformando suas
garras
em
vais ve-lo
uma enorme tromba
aspirante em que vao desaparecendo milhares de seres humanos: homens, mulheres, criancas. De tua fronte corre agora um suor de morte, porque o monstro esta se aproximando, para agarrar a ti, tua mulher e teus filhos. Mas teu ultimo gemido sera abafado pelo riso apavorante do monstro, satisfeito em sua gula. Quan ta mais prospero, mais desumano . . . Voltemos ao nosso homem do dinheiro.
27
Este burgues, modelo de exatidao e ordem, acer tou todas as suas contas do dia;
vejam como ele cal
culou o preco dos seus dez quilos de fio:
10 quilos de algodao a 300 cruzeiros o quilo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CrS 3 000, 00
o consumo das ferramentas de trabalho
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CrS
400, 00
Mas, quanto ao terceiro elemento, que entrou na forrnacao de sua mercadoria, que operario,
ele
nada
assinalou,
e
isso
O
salario pago ao
porque
conhece
muito bem a diferenca que ha entre o preco da forca de trabalho e o preco do produto da forca de trabalho. O salario de uma jornada representa o necessario para manter o operario em 24 horas, mas nao representa de fato o que o operario produziu
em
uma jornada
de
trabalho. 0 nosso homem do dinheiro sabe perfeita mente que os
100
cruzeiros
de
salario
que ele
paga
representam a manutencao de seu operario por vinte e quatro horas e nao o que este produziu nas doze horas de trabalho em sua fabrica. Ele sabe tudo isso, exata mente como o agricultor sabe a diferenca que existe entre o que currais,
e
a manutencao
alimentacao,
etc.,
e
de O
uma vaca com
seus
que essa vaca produz
em termos de leite, queijo, manteiga, etc. A forca de trabalho tern a propriedade singular de render mais do que custa e
e
por isso que o homem
do dinheiro foi busca-la no mercado. E o operario nao pode reclamar,
28
porque ele pagou o justo
preco pela
sua
mercadoria.
A
observada. Alem meter
no
uso
lei
do
que
das
que,
trocas
foi
o operario
o comprador
rigorosamente
nao tern
Iara
de
sua
que
se
merca
doria, do mesmo modo que o dono do arrnazem nada tern a Ver com O USO que Seu fregues da as mercadorias que vende. Paginas trabalho
se
atras,
supusemos
produzem
lentes a 100 cruzeiros.
15
que
gramas
Ora,
em
de
6
horas
prata,
de
equiva
se em 6 horas a forca de
trabalho produz um valor de 100 cruzeiros, em 12 horas produzira,
portanto,
um valor de 200 cruzeiros.
As
sim, o valor dos 10 quilos de fio passa a ser calculado desse modo:
pelos 10 quilos de
algodao cru,
300 cruzeiros por quilo pelo
consumo
dos
a
. . . . . . . . .
meios
de
CrS 3 000,00
tra-
CrS
400, 00
pelas 12 horas da Iorca de trabalho
CrS
200,00 · ..
Total
CrS 3 600,00
balho
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
'
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O homem do dinheiro,
depois de ter gasto 3 500
cruzeiros, obteve uma mercadoria que vale 3 600 cru zeiros. Conseguiu, portanto, O
seu
dinheiro
deu
cria;
embolsar
pronto,
100 cruzeiros.
resolvemos
o
pro
hlema: o capital acaba de nascer.
29
Ill
A jornada de trabalho
Nern hem nasceu,
o capital sente a necessidade
imediata de alimento para se desenvolver. E o capita lista, que vive somente para a vida do capital, cupa-se atentamente com
as necessidades
preo
deste
ser,
tornando-se o seu coracao e sua alma, sabendo como alimenta-lo. O primeiro meio empregado pelo capitalista em beneficio do seu capital
e
o prolongamento da jornada
de trabalho. Obviamente, a jornada de trabalho tern os seus pr6prios limites. Antes de mais nada, um dia nao tern mais do que 24 horas. Dessas vinte e quatro horas ja
se
tern
que
eliminar
umas
tantas,
pois
o
operario precisa satisf azer suas necessidades fisicas e espirituais: dormir, comer, descansar para criar nova forca, ler, passear, etc. Fala, Marx: Mas estes limites sao, por si mesmos, muito elas ticos e deixam
muito espaco para
manobra.
Assim,
encontramosjornadas de trabalho de 6, 10, 12, 14, 16 e 18 horas,
ou seia,
das mais variadas
duracoes
e o
capitalista comprou a forca de trabalho pelo seu valor
30
diario. Com isto, ele adquiriu o direito de fazer traba lhar, durante todo um dia,
o trabalhador que esta a
seu service. Mas, o que e afinal um dia de trabalho? Em todos os casos, Mas,
de
quanto?
e menor do que um dia natural. 0
capitalista
tern
a
sua
propria
maneira de ver a questao sobre o limite necessario da jornada de trabalho. 0 tempo durante o qual o ope rario trabalha, e o tempo durante o qual o capitalista consome
a
forca
de
trabalho,
operario.
Se o assalariado consome o tempo que tern
disponivel para si mesmo,
que
ele
comprou
do
ele esta roubando o capi
talista. 0 capitalista nao se apoia em outra nao seja a lei das trocas das mercadorias.
coisa que Ele,
como
todo comprador, procura tirar da mercadoria, do seu valor de uso, o maior beneficio possivel. Mas, eis que o operario levanta a voz e diz: A mercadoria que te vendi se distingue de todas as outras mercadorias, porque o seu uso cria valor, e um valor maior do que o seu proprio custo.
E e por
isso que a compraste. 0 que para ti parece ser cresci mento de capital, para m i m e excesso de trabalho. Tu e eu nao conhecemos outra lei, que nao seja a da troca das mercadorias, 0 consumo da mercadoria nao per tence ao vendedor, que a aliena, mas ao comprador, que a adquire. 0 uso de minha forca de trabalho te pertence, pois. Mas com o preco diario de sua venda, eu devo todos os dias poder reproduzi-la, para vende la de novo. Tirando a idade e outras causas naturais de desgaste,
preciso arnanha estar tao
forte e capaz
como hoje, para retomar o meu trabalho com a mes-
31
inissima forca. Tu me pregas constantemente o evan gelho da "economia" e da ser um mizar
Tai!
Quero
administrador sabio e inteligente para
econo
a
balho;
minha
devo
jamento. mento,
iinica
fortuna:
abster-me,
Quero,
po-la
a
"abstinencia".
a
minha
portanto,
diariamente, trabalhar,
de
forca
qualquer
coloca-la
enfim,
de
esban
em
gasta-la
tra
movi apenas
quando for compativel com sua duracao normal e seu desenvolvimento natural.
Alern
longamento na jornada de dia
mobilizar
uma
do
que,
trabalho,
quantidade
tao
com
um
pro
podes em um s6
grande
de
minha
forca de trabalho que nao vou poder repo-la nem com tres jornadas. 0 que ganhas em trabalho, eu perco em substancia. Presta, pois, muita atencao: o emprego da minha
Iorca
coisas rio,
distintas,
vivo
em
trabalho muito
media
30
e
o
seu
distintas. anos,
desfrute
Se
eu,
sao
como
trabalhando
duas
opera
num
ritmo
razoavel, e tu consomes a minha forca de tra
medic balho
de
em
dez
anos,
tu
nao
terco do seu valor diario: todos os dias,
dois
pagas
me
portanto,
mais
roubas
que de
um
mim ,
tercos de minha mercadoria. Exijo,
pois , uma j ornada de trabalho de
duracao normal, e a
exijo sem apelar para seu
coracao porque em neg6cios
nao
Tu
poe
se
modelo; mais e,
Pouco
sentimento.
ainda
aos
nada normal,
um
Sociedade Protetora
o
que
interesses porque
representas. do
meu
Es
coracao.
burgues dos
Ani
inteiramente
Exijo a jor
quero o valor da minha
doria como qualquer outro vendedor.
32
ser
por cima, exalar cheiros de santidade . . .
importa
estranho
a
ate pertencer
podes
merca
Como se ve, estamos entre limites muito elasticos e· a
natureza
limite seu
a
jornada
direito
longar
mesma
como
a jornada
de
da
troca
trabalho.
comprador, de
trabalho
nao
impoe
nenhum
0 capitalista
mantem
quando o
procura
maximo
pro- ·
possivel
e
tentando fazer de dois dias um s6. Por outro lado,
a
natureza especial da mercadoria vendida exige que o seu consumo pelo comprador nao seja ilimitado, trabalhador
mantem
o
seu
direito
como
e o
vendedor,
quando quer restringir a duracao da jornada de tra balho a uma duracao normalmente determinada. Di reito contra direito,
entre o capitalista e o trabalha
dor, de acordo com a lei de troca das mercadorias, ha um empate. E, o que decide entre dois direitos iguais? A forca.'
Como se emprega essa forca,
que hoje
e
toda do
capital e para o capital, nos dirao os fatos que agora exporemos. 0 que vamos contar neste livro sao quase todos epis6dios do capital na lnglaterra. Em primeiro lugar porque foi la o pais em que a producao capita lista chegou ao maximo em
seu
desenvolvimento;
e,
em segundo lugar, porque somente na lnglaterra en contramos um material adequado de documentos, fa lando das condicoes de trabalho e recolhidos por obra de
comissoes
governamentais,
instituidas
para
este
fim. Os modestos limites deste manual nao nos permi tem, entretanto, reproduzir mais do que uma peque-
(2)
0 Capital, p. 265.
33
nissima parte do rico material recolhido
na obra de
Marx. Eis aqui alguns dados de uma pesquisa feita em 1860 e 1863, na indiistria de ceramica: W. Wood, de
nove
anos,
tinha
7
anos e meio
quando comecou
a
trabalhar. Wood trabalhava todos os dias da semana, das 6 da manha ate as 9 da noite, ou seja, 15 horas por dia. J. Murray, de 12 anos, trabalhava numa fabrica, trazendo as formas e girando uma roda. Ele cornecava a trabalhar as seis da manha, as vezes, as quatro; seu trabalho
era
prolongado
de
tal
modo,
que
muitas
vezes entrava pela manha seguinte a dentro. E isto em companhia de outros 8 ou 9 meninos que tados
do
mesmo
modo
que
ele.
0
eram
medico
tra
Charles
Parsons assim escreveu a um comissario do governo: "Falo com base nas minhas observacoes pessoais e . nao
sobre
dados
estatisticos.
Nao
posso
esconder
minha revolta ao ver o estado destas pobres criancas, cuja saude e sacrificada por um
trabalho
para satisfazer a cobica dos seus
pais
excessivo,
e de
seus pa
troes." Ele conclui
enumera a relacao
ainda com
varies
a causa
casos
de
doencas
principal:
as
e
/ongas
horas de trabalho.
Nas Iabricas de f6sforos, a metade dos trabalha dores eram criancas com menos de 13 anos
e adoles
centes com menos de 18. Somente a parte mais pobre da populacao cede os seus filhos a esta indiistria tao insalubre
e
imunda.
Entre
as
vitimas
interrogadas
pelo Comissario White, 270 nao tinham mais que
34
18
anos; 40 tinham menos de dez anos; 12 de oito anos de idade e 5 de apenas seis anos. A jornada de trabalho nessas fabricas variava entre 12, trabalhavam incertas,
durante
a
noite
14 e 15 horas.
e
comiam
em
Eles
horas
quase sempre no mesmo local de producao,
tudo empestado pelo f6sforo. Nas
fabricas
de
tapete,
nas
epocas
de
grande
movimento, como nos meses que antecedem o Natal, o trabalho durava,
quase sem interrupcao,
das seis da
manha ate as dez da noite; as vezes, tambem ate altas horas da noite. No inverno de 1862, de 19 meninas, 6 contrairam doencas por causa do excesso de trabalho. Para mante-Ias acordadas durante o trabalho era ne cessario estar sempre gritando e sacudindo-as. As me ninas viviam tao cansadas que nao podiam manter os olhos abertos. Um operario depos a Comissao de In querito nestes termos: "Este meu garoto, quando tinha 7 anos de idade, eu o levava as costas, por causa da neve, da casa para a fabrica,
da fabrica para casa.
lhava normalmente tive
de me
ajoelhar
estava na maquina,
16
Meu
horas por
para
dia.
alimenta-lo,
garoto
traba
Muitas vezes, enquanto
ele
porque nem podia abandona-la,
nem desliga-la." Pelos fins de junho de 1863, osjornais de Londres destacavam em suas manchetes a morte de uma mo dista de 20 anos, por excesso de trabalho. Ela morrera nas dependencias da manufatura em que trabalhava. A jornada
de
trabalho
horas e meia por dia.
nessa
manufatura era
Entretanto,
por
causa
de
16
de um
35
baile
no
palacio
do
governo,
para
quern
a empresa
executava as encomendas, suas operarias tiveram que trabalhar 26 horas e meia, sem parar. Eram cerca de 60 mocas
que
trabalhavam
em
pessimas
condicoes,
espremidas no reduzido espaco da oficina. A modista das manchetes do dia seguinte, alem disso, dormia em um quarto muito estreito e sem ventilacao. rera
antes
de
concluir
sua jornada
de
Ela mor 0
trabalho.
medico chegou tarde demais. Em seu laudo, alern de observar
as
condicoes
de
trabalho
das
costureiras,
assinalou acauxa mortis: excesso de trabalho. Em uma das regioes mais populosas de Londres, morriam, anualmente, 31 entre cada 1 000 serralhei ros. E o que pode ter a natureza humana contra essa profissao? Nada! M a s o excesso de trabalho tornou-a destrutiva para o homem. Assim, o capital tortura o trabalho, pois de muito sofrer,
procura,
se.
se
Os
Estado
trabalhadores determine
trabalho.
E o que
uma se
finalmente,
organizam duracao
pode
o qual,
esperar
defender
e exigem
para
que
a jornada
disso?
de
o de
Resposta
facil, considerando que a lei e feita e aplicada pelos mesmos capitalistas: os operarios deverao estar sem pre atentos as medidas tomadas pelos patroes e unidos para protegerem as suas vidas.
36
IV
A mais-valia relativa
A forca de trabalho, produzindo um valor maior do que ela vale, isto e, uma mais-valia, gerou o capi . tal; aumentando ainda esta mais-valia atraves do pro longamento da jornada de trabalho, conseguiu o capi tal o alimento suficiente para a sua primeira idade. O capital vai crescendo e a mais-valia precisa ir aumentando dade.
Mas,
para
satisfazer
aumento de
essa
crescente
mais-valia,
necessi
como vimos
ate
agora, nao quer dizer outra coisa que prolongamento da jornada de trabalho. E claro que essa jornada tern o seu limite natural, por mais elastica que seja a sua duracao, Por mais reduzido o tempo que o capitalista
deixa ao
trabalhador para
que ele
mais prementes necessidades,
satisfaca
a jornada de
as
suas
trabalho
sera sempre menor do que 24 horas. Portanto, a jor nada de trabalho tern um limite natural, e a mais-valia, por
conseguinte,
encontra
um
obstaculo
intranspo
nivel. lndiquemos a jornada de trabalho com a linha AB:
A---- D ----C-------- B
37
A letra A nos
indica o principio,
e B o fim,
o
limite natural que nao se pode ultrapassar. Seja AC a parte da jornada na qual o operario produz o valor do salario recebido e CB operario produz
a parte
da jornada em
a mais-valia.
Como vimos,
que
o
o nosso
fiandeiro recebendo 100 cruzeiros de salario, com uma metade de sua jornada reproduzia o valor de seu sala rio, e com a outra metade produzia mais-valia. valor
do
0 trabalho AC,
salario,
chama-se
100 cruzeiros de
com o qual se produz o trabalho
necessario,
en
quanto o trabalho CB, que produz a mais-valia, cha ma-se trabalho excedente ou sobretrabalho. 0 capita lista esta interessado no sobretrabalho, que
cria
jornada
a de
mais-valia. trabalho,
0 a
porque e ele
sobretrabalho
qual
encontra
prolonga
o
seu
a
limite
natural B, representando um obstaculo intransponivel para o sobretrabalho e para a mais - valia. E agora,
o
que fazer? 0 capitalista encontra logo o rernedio. Ele observa que o sobretrabalho tern dais limites, um B o fim da jornada de trabalho; o outro e C - quando acaba o tempo de trabalho necessario, irremovivel:
0 limite
B
e
o capitalista nao pode criar um dia com
mais de 24 horas. M a s o mesmo nao acontece com o limite C. Diminuindo o tempo de trabalho necessario C,
recuando-o
ate
o
ponto
D,
o
sobretrabalho
CB
aumenta a sua extensao no mesmo tanto representado em DC, que corresponde exatamente
a
diminuicao do
trabalho necessario AC. A mais-valia encontra, assi m, uma forma de continuar crescendo;
agora,
nao
mais
de modo absoluto, isto e , simplesmente pro l o ng an d o a
38
jornada de trabalho. A partir desse momento, a mais valia cresce em relacao ao aumento do sobretrabalho e
a
correspondente
diminuicao
do
tempo
de
trabalho
necessario. No primeiro tipo de exploracao, que cha mamos
de
mais-valia
absoluta,
o patrao
esticava
a
jornada de trabalho de 10 para 12 horas; no segundo tipo de exploracao, que chamamos de mais-valia rela tiva, o capitalista a embolsa, diminuindo o tempo de trabalho necessario. O fundamento
da
mais-valia
nuicao do trabalho necessario. balho
necessario
salario;
se
relativa
e
a
dimi
A diminuicao do tra
fundamenta
na
diminuicao
a diminuicao do salario se fundamenta,
do por
sua vez, na diminuicao do preco dos produtos neces sarios
e
ao trabalhador; portanto, a mais-valia relativa
fundamentada
no ,
barateamento
das
mercadorias
.
que servem ao operano. Alguern esta se perguntando agora, se nao have ria um jeito mais simples para o capitalista arrancar a mais-valia relativa, se ele, por exemplo, ao comprar a mercadoria do trabalhador, ou seja, a sua Iorca de trabalho, cabe;
isto
lhe
e,
pagasse nao
lhe
um
salario
pagasse
menor
o justo
do
preco
que
lhe
de
sua
mercadoria. De
fato,
esse
expediente
e
muito
usado.
Mas,
aqui, s6 vamos considerar a lei de trocas em toda a sua pureza: todas as mercadorias - incluindo a forca de trabalho - devem ser vendidas e compradas pelo seu justo valor.
E,
alern
disso,
o nosso
capitalista
e
um
39
burgues absolutamente honesto, jamais usara de qual quer meio para fazer crescer o seu capital que nao seja inteiramente digno dele. Suponhamos que em uma jornada de trabalho de 12
horas
um
operario
produza
6
unidades
de
uma
mercadoria. 0 capitalista vende essas 6 uoidades pelo preco de CrS 75,00, porque no valor desta mercadoria entram CrS 15,00 gastos em materia-prima e meios de trabalho e mais CrS 60,00: CrS 30,00 pelo salario de 12 horas de trabalho e CrS 30,00
de
mais-valia;
em
cada mercadoria, ele tira CrS 5 , 00 de mais-valia, por que ele desembolsou,
por cada uma,
CrS
7 ,50,
ven
dendo depois a CrS 1 2 , 50 por unidade. Agora, supo nhamos que, gracas a um novo sistema de trabalho ou simplesmente
com
o
aperfeicoamento
do
antigo,
a
producao se duplique: em vez de 6 unidades por dia, o capitalista recebe
12.
Se
antes,
em
6
unidades,
ele
desembolsava CrS 15,00 em materia-prima e meios de trabalho, em 12 unidades serao necessaries CrS 30,00 ou CrS 2,50 por cada uma. Estes CrS 30,00 sao acres centados aos CrS 60,00, produto da forca de trabalho em 12 horas, totalizando, portanto, CrS 90,00, que preco dos 12
artigos,
vendidos
ao
preco unitario
e
o
de
CrS 7,50. No mercado de hoje, portanto, o capitalista pre cisa de um espaco maior para vender o dobro de sua mercadoria, o que ele consegue vendendo-a um pouco mais barato. Em outras palavras, o capitalista tern a necessidade de
encontrar uma razao pela
qual
mercadorias possam ser vendidas em quantidade
40
suas duas
vezes
maior
do
que
antes;
e
a
razao
ele
encontra,
logico, na baixa de preco. Ele vendera os seus artigos a um preco menor do que CrS 12,50, que era o seu preco anterior, mas mais caro do que CrS 7 ,SO que
e o valor
de hoje de cada um.
Digamos que o venda a CrS 10,00 e ja tera assegurado o dobro: CrS 60 , 00 - foi quanto lucrou com a venda de seus produtos - dos quais 30 cruzeiros sao de mais valia e os outros 30 ele conseguiu da diferenca entre o seu valor
real e o preco
Como veem, tirando
grande
pelo
qual
o capitalista nao
proveito
Todos os capitalistas
do
sao
foram
vendidos.
dorme
aumento
altamente
da
no
ponto,
producao.
interessados em
aumentar a producao de suas indiistrias, como aeon tece hoje
em
dia em
quase
todos
os
ramos
da
pro
ducao. Mas aquele lucro extra que ele retirava da dife renca entre o valor da
mercadoria e o seu
preco
de
venda dura pouco; o novo ou aperfeicoado sistema de producao passa a ser adotado, necessariamente, pelos outros capitalistas.
Resultado: o valor da mercadoria
cai para a metade. Antes, cada artigo valia CrS 12,50 e agora vale CrS 6 , 25 . M a s o capitalista continua tendo
o mesmo lucro, apenas dobrando a producao, Antes, 30
cruzeiros
de
mais-valia
em
mesma mais-valia, CrS 30,00,
6
unidades;
entretanto em
hoje,
a
12 uni
dades. Mas como os 12 artigos foram produzidos no mesmo tempo em que eram produzidos os 6 artigos, isto
e,
em
12 horas
de
trabalho,
tem-se
sempre
30
cruzeiros de mais-valia em uma jornada de 12 horas, mas o dobro da producao.
41
-=-
Quando esse aumento de producao atinge os pro dutos necessaries ao trabalhador e sua familia,
cai o
preco da forca de trabalho e com isso diminui tambem o tempo de trabalho necessario, aumentando o sobre trabalho, que constitui a mais-valia relativa.
42
v Cooperaciio
Vamos deixar um pouco de lado o nosso capita lista, a estas alturas pr6spero e rico. Vamos para sua fabrica e la teremos o prazer o
fiandeiro.
Venham
aqui,
de
rever nosso
juntos.
Pronto,
amigo, ja
en
tramos. Puuuu . . .
quanto
operariol
Nao
e
somente
um,
mas muitos e em pleno trabalho. Todos em silencio e ordenados, assim como se fossem soldados. Parecendo oficiais, la estao apontadores e chefes que passeiam no meio deles,
dando ordens e vigiando o · cumprimento
fiel do trabalho. Do capitalista, nem sombra. Ei! Es pere! Estao abrindo aquela porta de vidro! Quern sabe
e
o patrao . . .
Vamos
mesmo muita figura, o patrao, nao dinados ouvern
se as
e
dar
e
espiada.
0
tipo
tern
muito serio tambem, mas nao
o capitalista. Pssiu . . .
aproximam suas
uma
ordens
do
homem;
com
a
e
(Alguns subor todos
maxima
solicitos, atencao.)
Trimm! Triim! Telefone! A secretaria atendeu e agora esta comunicando ao
senhor
diretor
que
chama imediatamente para uma reuniao.
o patrao Bern,
o
mas
43
onde esta o fiandeiro,
nosso velho conhecido? Como
encontra-lo no meio de tantos operarios? Ah! la esta ele! ali no canto, inteiramente concen trado
no
seu
trabalho.
Nossa!
coma
emagreceu!
E
vejam coma esta palido! E que tristeza e aquela? Nern parece
o
mesmo
homem
que
tratar,
de igual para igual,
vimos
no
a venda de sua
trabalho com o homem do dinheiro . . . corniseracoes! qualquer.
Hoje
Como
ele
e
muitos
um
de
mercado
Mas,
operario
forca
de
nada de
coma
seus colegas,
a
ele
outro
e opri
mido par uma jornada de trabalho cavalar, enquanto o homem do dinheiro tornou-se um grande capitalista e vive agora coma um deus, la no alto de seu Olimpo, de onde manda suas ordens atraves de um verdadeiro sequito de intermediaries. Mas,
afinal,
o
que
aconteceu?
Nada
mais
sim
ples. 0 capitalista prosperou, teve sucesso. 0 capital cresceu e muito. E, para satisfazer as suas novas ne cessidades, o capitalista estabeleceu o trabalho coope rativo,
que
e
o
trabalho
realizado
com
a uniao
de
muitas forcas. Naquela fabrica, que antes empregava uma s6 Iorca de trabalho, hoje atuam muitas forcas de trabalho em cooperacao. 0 capital saiu de sua infan cia e se apresenta, pela primeira vez, com o seu verdadeiro aspecto. E que
.
vantagens o capital
Pelo menos quatro:
leva
na cooperacao?
primeira vantagem,
na coo
peracao, o capital tern a vantagem de realizar a verda deira
forca
de
trabalho
social.
Ja
vimos:
forca
de
trabalho social e a forca media entre um mimero de
44
operarios, trabalhando com grau media de habilidade e
intensidade,
ducao.
em
um
determinado
centro
de
pro
Um operario sozinho pode ser mais habil ou
menos habil
do
que
a
forca
de
trabalho
media
ou
social, e esta so pode ser medida juntando na fabrica um grande mimero de forcas de trabalho, trabalhando em cooperacao, uma com as outras. A segunda vantagem esta na economia
dos meios
de trabalho. 0 mesmo predio, as mesmas instalacoes, etc., que antes serviam apenas a um, hoje servem para muitos operarios. A terceira vantagem da cooperacao e o aumento da forca de trabalho: O poder de ataque de um esquadrao de cavalaria ou o poder de resistencia de um regimento de infan taria
difere
essencialmente
da
viduais de cada cavalariano ou
soma de
de
cada
forcas
indi
infante.
Do
mesmo modo, a soma de forcas mecanicas dos traba lhadores isolados difere da forca social que se desen volve quando muitas maos agem simultaneamente, na mesma
operacao
indivisa,
por
exemplo,
quando
e
necessario levantar uma carga, girar uma pesada mani vela ou remover um obstaculo,
3
A quarta vantagem e a possibilidade de combinar a uniao
de
forcas
de
trabalho
para
a execucao
de
trabalhos que uma forca isolada jamais conseguiria, e se o tentasse o faria de modo muito imperfeito. Quern ainda
(3)
nao
viu
coma
SO
operarios,
em
apenas
uma
0 Capital, p. 374.
45
hora,
podem
transportar
uma
carga
enorme,
en
quanto uma unica forca de trabalho nao conseguiria, nem mesmo em 50 horas,
mover um milesimo dessa
carga? Quern nao viu ainda, numa construcao, como 12 operarios dispostos em hora uma quantidade
fila transportam
de tijolos
em uma
imensamente
maior
do que um s6 operario conseguiria em 12 horas? Quern nao sabe que 20 pedreiros fazem em um dia o trabalho que um trabalhador isolado A cooperacao capitalista."
eo
46
faria
em
20
dias?
modo fundamental da producao
Conclui Marx, encerrando mais este ca
pitulo.
(4)
nao
0 Capital, p. 38..C:,.
VI Divisio do trabalho e manufatura
Quando um capitalista reiine na sua fabrica os operarios e cada um executa as diferentes operacoes que criam a mercadoria, ele da um carater todo especial:
a
cooperacao simples
ele estabelece a divisao do
trabalho e a manufatura. A manufatura nada mais
e
do que um mecanismo de producao cujos orgaos sao os seres humanos. Embora a manufatura se baseie sempre na divi sao do trabalho, ela tern uma dupla origem: em alguns casos, a manufatura reuniu na mesma fabrica os di versos oficios necessaries
a
producao de uma merca
doria; estes oficios estavam antes, como todas as ativi dades artesanais,
separados e divididos entre si.
Em
outros casos, a manufatura dividiu as diferentes ope racoes de um trabalho que antes formavam um todo
na producao de uma mercadoria, e juntou-as na mes ma fabrica. Por exemplo, uma carruagem, dessas que a gente ve no cinema, era o produto global dos trabalhos de numerosos
artesaos
independentes
como
o
carpin-
47
teiro,
o estofador,
o costureiro,
o serralheiro,
o tor
neiro, o passamenteiro, o vidraceiro, o pintor, o enver nizador, o dourador, etc. A manufatura de carruagens reuniu
todos
fabrica, rando
esses
onde
um
diferentes
trabalham
com
o
outro.
artifices
numa
simultaneamente, Nao
se
carruagem antes de estar pronta;
pode se,
mesma colabo
dourar
porem,
uma
muitas
carruagens sao feitas ao mesmo tempo, umas podem ser douradas enquanto outras se encontram em outra fase do processo de producao. A fabricacao da agulha, por exempo, foi dividida pela manufatura em mais de vinte operacoes
parciais,
que
agora
processo de Iabricacao total dessa
fazem
agulha.
parte
do
A manu
fatura, portanto, ora reuniu varies oficios em um s6, ora dividiu um mesmo oficio em muitos.
5
A forca e os instrumentos de trabalho foram tam bem multiplicados pela manufatura, nou
terrivelmente
reduzidos
a
uma
mas ela os tor
tecnicos
e
iinica
invariavel
e
simples
porque
foram
operacao
ele
mentar. Sao grandes as vantagens que o capital realiza na manufatura ao determinar essas tarefas elementares e repetitivas para diferentes forcas de trabalho,
pois a
forca de trabalho ganha muito em intensidade e pre cisao,
Todos aqueles poros,
aqueles pequenos
inter
valos entre as diferentes fases de elaboracao de uma mercadoria isolado,
(S)
48
que
a
gente
desaparecem,
0 Capital, p. 386-387.
encontrava
quando,
no
agora,
trabalhador esse
mesmo
trabalhador
executa
sempre
a
mesma
operacao.
0
trabalhador daqui pra frente nao precisa mais passar anos a fio, aprendendo um oficio; o que ele precisa
e
saber executar apenas uma das muitas operacoes que formam todo um oficio e essa operacao ele aprende em muito pouco tempo. tempo rias
e
ao
Esta diminuicao de custos e de
tambem uma diminuicao de coisas necessa trabalhador,
ou
seja,
uma
tempo de trabalho necessario e um
diminuicao aumento
de
corres
pondente de sobretrabalho e mais-valia. 0 capitalista, pois, verdadeiro parasita, as custas do trabalho alheio, cada vez mais rico e o trabalhador, por isso, sofrendo cada vez mais. Enquanto a cooperacao
simples,
em
geral,
nao
modifica o modo de trabalhar do individuo, a manu fatura
o
revoluciona
inteiramente
e
se
apodera
da
forca individual de trabalho em suas raizes. Deforma monstruosamente o trabalhador, levando-o artificial mente a desenvolver uma habilidade parcial, as custas da repressao de um mundo de instintos e capacidades produtivas, lembrando aquela pratica das regioes pla tinas onde se mata um animal apenas para tirar-lhe a pele e o sebo. Nao
s6
e
o trabalho
dividido
e
suas
diferentes
fracoes distribuidas entre os individuos, mas o proprio individuo
e
mutilado e transformado em instrumento
automatico de um trabalho parcial, tornando-se reali dade,
assim,
a
fabula
Menennius Agrippa,
absurda
em
que
do
patricio
romano
o ser
humano
aparece
representado por um iinico fragmento de seu pr6prio
49
corpo, o estomago.
Dugald Stewart chama os traba
lhadores de manufatura automates vivas, empregados na fracao de um trabalho. Originariamente, o trabalhador vendia sua forca de trabalho ao capital por lhe faltarem os meios mate riais para produzir uma mercadoria. Agora, sua forca individual
de
trabalho
· vendida ao capital;
nao
funciona
se
nao
para poder funcionar,
estiver
ela neces
sita daquele centro social que s6 existe na fabrica do capitalista.
0 povo eleito trazia escrito na testa
que
era propriedade de Jeova: do mesmo modo, a divisao do trabalho ferreteia o trabalhador com a marca seu proprietario: o capital. que domina um oficio
Storch dizia:
completo pode
de
"o operario
trabalhar por
toda parte para se manter; o outro, o da manufatura,
e
apenas um acess6rio e, separado de seus colegas de
trabalho,
nao
tern
nem
capacidade,
nem
indepen
dencia, sendo forcado a aceitar a norma que lhe que rem impor". As forcas
intelectuais
da producao
- continua
Marx - se tornam bitoladas , ao se desenvolverem em apenas
um
sentido,
tolhidas
em
tudo
que
nao
se
enquadre em sua unilateralidade. 0 que esses traba lhadores parciais perdem, se concentra no capital que com eles se confronta.
As forcas intelectuais da pro
ducao material, com a divisao manufatureira do tra balho,
aparecem
ao
operario coma
propriedades
de
outros e coma poder que os domina. Esse processo de dissociacao ja comeca com a cooperacao simples, em que o capitalista representa para o trabalhador iso-
50
lado a unidade e a vontade do trabalhador
coletivo.
Na manufatura, esse processo se desenvolve e mutila o trabalhador a ponto de reduzi-lo a uma particula de si
mesmo.
Na
indiistria
moderna,
temos
o processo
completo, perfeito, que faz da ciencia uma forca pro dutiva independente do trabalho e que a recruta para servir ao capital. Na manufatura,
o enriquecimento
dor coletivo e, por isso,
do
trabalha
do capital, em Iorcas produ
tivas sociais, realiza-se as custas
do empobrecimento
em forca produtiva do trabalhador individual. "A ignorancia", diz Ferguson, tria como o
e
da supersticao.
"e mae da indiis
0 raciocinio e a imagi
nacao estao sujeitos a erros; mas o habito de mover o pe ou a mao nao depende nem de um, nem da outra.
Por
isso,
as
manufaturas
requer menos inteligencia,
prosperam de
modo
mais
que,
onde
se
nao tendo
necessidade de forcas intelectuais, a fabrica pode ser considerada como uma maquina cujas pecas sao seres humanos. "
Marx, para ilustrar o caso desse trabalhador mu tilado, nos fala de algumas manufaturas que, em mea
dos do seculo XV II I , empregavam de preferencia indi viduos meio idiotas, em certas operacoes simples, mas que eram segredos de fabricacao. Smith disse sobre a imbecilidade do trabalhador parcial: " a inteligencia da maior parte dos homens se forma necessariamente no decorrer de sua ocupacao do
dia - a - dia .
Um
h omem,
que
passa toda
a vida
a
executar um pequeno mimero de operacoes simples,
51
nao tern nenhuma condicao de desenvolver a sua inte ligencia, nem de exercitar a sua imaginacao . . . Ele se torna, em geral, tao estupido e ignorante quanta uma criatura humana pode vir a se-lo". E, continua Adam Smith: rompe
"A
uniformidade
naturalmente
o
da
vida
animo
estacionaria
desse
cor
trabalhador . . .
·Chega mesmo a destruir a energia de seu corpo,
tor
nando-o incapaz de empregar suas forcas com vigor e perseveranca em qualquer outra tarefa que nao
seja
aquela para que foi adestrado. Assim, sua habilidade em seu oficio particular parece adquirida com o sacri ficio de suas virtudes intelectuais, sociais e guerreiras, E em toda sociedade desenvolvida e civilizada, esta condicao pobres
a que
que
ficam
necessariamente
trabalham,
isto
e,
a
e
reduzidos
grande
massa
a
os do
povo". Para
remediar
resulta da divisao
esta
degeneracao
do trabalho,
A.
completa
Smith
que
receita em
doses prudentemente horneopaticas o ensino popular pago pelo Estado.
Essa ideia de Smith,
que
era um
ingles, foi combatida com coerencia pelo seu tradutor e comentador frances,
G.
Garnier,
que,
no primeiro
imperio frances, encontrou as condicoes naturais para se transformar em instrucao
popular
senador.
e
trabalho e adota-la todo o nosso
Segundo
contraria
as
leis
seria o mesmo
sistema
esse da
que
social.
Vejam
outras
divisoes
sujeito, divisao
acabar
como
ele
a do
com
se ex
pressou: "Como que
52
existe
todas
entre
o
as
trabalho
do
mecanico
e
trabalho, o
a
trabalho
intelectual se torna mais acentuada e mais evidente
a
medida que a sociedade ( e esse Garnier chama 'socie dade' o Estado com a propriedade de terra, o capital, etc.) se torna mais rica. Como qualquer outra divisao do
trabalho,
sados
e
esta
e causa
de
consequencia
progressos
de
progressos
futuros . . .
Deve
pas
en tao
o
governo contrariar essa divisao e retardar sua marcha natural? Deve empregar uma parte da receita piiblica para confundir e misturar
duas especies
de
trabalho .
que tendem por si mesmas a se separar?" "A arte de pensar, num tempo em que tudo esta separado,
pode
mesmo
se
constituir em
um
oficio
a
parte", escreveu Ferguson. Certa deforrnacao fisica e espiritual mesmo
da
divisao
do
trabalho
na
e
inseparavel
sociedade.
Mas,
como o periodo manufatureiro leva muito mais longe a divisao social do trabalho e, com sua divisao peculiar, ataca o individuo em suas raizes vitais, que primeiro fornece patologia
industrial.
o material e Ramazzini,
o
e
esse periodo
impulso
professor
para
de
a
medi
cina pratica em Padua, Italia, publicou em 1 7 1 3 a sua obra De saos. foi,
morbis artificum ,
A sua lista
naturalmente,
moderna, ram
de
sobre
doencas
que
doencas entre atingem
o operario
muito aumentada com a indiistria
como o demonstram os escritores
depois
dele:
arte
Dr.
A.
L.
Fonterel,
que vie
Paris,
1858;
Eduardo Reich, Erlangen, 1868 e outros, alem de uma pesquisa muito importante encomendada pela
Socie
dade de Artes e Oficios, em 1854, na lnglaterra, sobre a saude piiblica.
' '
"Subdividir um homem pena
de
morte;
e
e
executa-lo, se merece a
assassina-lo
e
subdivisao do trabalho
se
nao
a
merece.
A
o assassinato de um povo",
afirmou D . Urquhart, em 1855. Hegel, um dos grandes pensadores na hist6ria da filosofia, tinha opinioes muito hieraticas, muito idea listas,
sabre a divisao
do
trabalho.
Vejam
como ele
colocou o problema em sua obra, Filosofia do Direito: "Por homem aquele
que
e
culto
entendemos,
capaz
de
fazer
em
tudo
primeiro lugar, o
que
os
outros
Iazem". Botando
as
coisas
no
chao,
na
sua
realidade,
vamos concluir mais este capitulo, com essas palavras de Marx: A divisao do trabalho, em sua forma capitalista,
nao
e
mais do que um metodo particular de produzir
a mais-valia relativa, ou de fazer aumentar, as custas do operario, os lucros do capital -
e
o que chamam
de riqueza nacional. As custas do trabalhador, desen volve-se a Iorca coletiva do trabalho em prol do capi talista.
Criam-se
novas
condicoes
para
assegurar
a
dominacao do capital sabre o trabalho. Essa forma de divisao do trabalho
e uma
economica da sociedade,
fase necessaria na Iormacao
e
um meio civilizado e refi
6
nado de exploracaol
r
(6)
54
0 Capital, p. 4 1 7 - 4 1 8 .
VII Maquina e grande industria
Em
seu livro,
Princlpios de Economia Politica,
John Stuart Mill escreveu:
"Resta ainda saber se
as
invencoes mecanicas realizadas ate agora aliviaram
O
trabalho diario de algum ser humano". Besteira desse
Mill.
Em
primeiro
lugar,
nao
e
essa a intencao do capital, quando emprega uma ma quina. Como qualquer outro desenvolvimento da for ca produtiva
do
trabalho,
a maquina,
na
producao
capitalista, tem por fim baratear as mercadorias, en curtar a parte do dia de trabalho na qual o operario trabalha para si mesmo e, com isso, prolongar a outra parte da jornada de trabalho que ele da gratuitamente para o capitalista. A maquina e um metodo de fabri car a mais-valia relativa. Em segundo lugar,
ainda em relacao
a
frase de
Mill, ele deveria ter dito: "de algum ser humano . . . que nao viva
do trabalho
alheio".
As
maquinas
aumen
taram, com certeza, o mimero dos ricos ociosos. Mas, lhador?
quern e que pensa alguma
Se o capitalista
S"
vez
preocupa com
no ele,
traba e so-
55
mente para estudar uma forma melhor de suga-lo. 0 operario vende sua forca de trabalho e o capitalista a compra, coma a iinica mercadoria que, criando mais valia, faz nascer e crescer o capital. 0 capitalista, par outro lado,
s6
se
ocupa em
fabricar
sempre mais
e
mais mais-valia. Depois de ele ter exaurido a fonte de mais-valia absoluta,
encontrou a mais-valia
relativa.
Agora ele sabe: com as maquinas, ele pode obter, ao mesmo tempo, um produto duas, quatro, dez, muitis simas vezes maior do que antes.
E o que
e
moco religioso, honesto e, ainda par cima, tecnologia avancada pode fazer? para os seus trabalhadores! fatura,
se
transforma
amigo da
lmpor as maquinas
A cooperacao,
assim
que esse
na
grande
moderna e as suas oficinas na Iabrica,
a manu indiistria
propriamente
dita. Depois de ter mutilado e estropiado o trabalha dor com a divisao do trabalho; depois de te-lo limitado a uma unica e
macante
agora nos oferecer um
operacao,
espetaculo
o
capitalista
mais
triste
vai
ainda.
Ele arrancou das maos do trabalhador as ferramentas · que lhe restavam, liquidando, assim, dacoes de seu antigo oficio, homem completo,
as unicas recor
de seu antigo estado
e o amarra
a
maquina.
Agora,
de o
operario virou escravo da maquina, exatamente coma o capitalista precisa dele. Com a introducao da maquina, o capitalista tern imediatamente um
enorme lucro;
dissemos da mais-valia relativa,
recordando o que
a gente compreende
logo o par que, Mas com a generalizacao do sistema
56
r
de producao mecanica, aquele lucro extra acaba, res tando
apenas
o
aumento
da
producao,
resultado geral dessa generalizacao,
que,
como
diminui o valor
das mercadorias necessarias ao trabalhador, o tempo de trabalho necessario e tambem os salaries. aumenta
e
o sobretrabalho e,
com ele,
0
que
a mais-valia.
O capital se compoe de uma parte constante e de uma parte variavel,
Chamamos de
capital
constante
•
aquela parte que
e
representada pelos meios de
tra-
balho e pelo material de trabalho (rnateria-prima). 0 predio da fabrica, suas instalacoes, os instrumentos de trabalho,
mesmo
os
uniformes,
com
capacetes
de
seguranca e tudo; o material auxiliar como a graxa, o carvao,
o oleo,
a energia eletrica,
etc.;
a materia de
trabalho, como o ferro, o algodao, a seda, a prata, a madeira, o plastico, e t c . , sao coisas que fazem parte do capital constante. O capital variavel salario, isto meiro
e
e,
e
aquela parte representada no
no preco da forca de trabalho.
chamado constante porque o seu valor,
entra no preco da mercadoria, nao se altera, nece constante. 0 segundo porque
0 pri
o seu
valor
e
que
perma
chamado capital variavel
aumenta,
e
esse
aumento
entra
tambern no valor da mercadoria. E s6 o capital varia vel que cria mais-va/ia. E a maquina, como nao pode
deixar de ser, faz parte do capital constante. Do mesmo modo que o capitalista lucrou de uma massa de forcas naturais, ele se propoe, na indiistria moderna, a lucrar de uma massa enorme de trabalho
57
morto e de
graca.
Mas,
para
alcancar seu
necessita ter todo um mecanismo,
objetivo,
que se compora de
materia mais ou menos custosa e que sempre absor vera uma certa quantidade de trabalho. Certamente, o capitalista
nao
cornprara
a
forca
do
vapor,
ar;
claro
propriedade motriz
da
agua e do
que
as
descobertas
nao
comprara
e
sua
nem
a
tambem aplicacao
mecanica, nem as invencoes e o aperfeicoarnento dos instrumentos de um oficio. Isso ele pode usar quanto quiser,
sempre
Agora,
o
que
que o
quiser,
capitalista
sem
a
precisa
menor
e
despesa.
encontrar
um
mecanismo capaz de aproveitar tudo isso. A maquina entra entao
como
meio
de
trabalho,
como parte
do
capital constante; ela passa a entrar no valor da mer cadoria em uma proporcao que esta em razao direta com
o seu
proprio
materias auxiliares,
desgaste como
e
do
carvao,
consumo graxa,
razao inversa ao valor da mercadoria.
de
etc.,
suas e em
Isto quer dizer
que, na producao de uma mercadoria, quando mais se Iaca USO da
maquina e de
maior
e
doria:
enquanto
a parte
de que,
seu ao
SUaS
valor
materias que
contrario,
auxiliares,
passa quanto
a
merca
maior
o
valor da mercadoria para a qual a maquina trabalha, menor ,
e
a parte de valor que advern do consumo da
.
maquma. Voces ja imaginaram o valor que o desgaste e o consumo de carvao, e t c . , de um mastodonte como um martelo-pilao gigante passaria para uma mercadoria, se ele fosse empregado para bater preguinhos?
Pois
bem: uma tal maquina distribui um valor muito redu-
58
r
zido pela enorme quantidade de ferro martelado que ela produz diariamente. Quando, na
grande
7
em razao da generalizacao
industria,
a maquina
deixa
do
de
direta cle lucro extra para o capitalista,
sistema
ser
fonte
ele encontra
outros meios pelos quais pode continuar a bombear do operario urua enorme quantidade de mais-valia rela tiva, atraves do emprego da maquina. Mulheres! primeiras
Criancas!
palavras
Ao
trabalho!
de ordem
meca a empregar maquinas,
do
Sao
capital
Este
essas
quando
meio poderoso
as co de
diminuir o trabalho do homem, torna-se logo um meio de aumentar o mirnero de assalariados. sob o regime capitalista, de
uma familia,
sem
A maquina,
subrnete todos os membros
distincao
de
sexo
e
idade,
ao
chicote do capital. 0 trabalho comandado pelo capital rouba o lugar dos jogos infantis e do trabalho livre no lar; e, justamente, esse trabalho domestico era o sus 8
tentaculo econornico da moral da familia. Anteriormente, o valor da forca de trabalho era determinado pelas despesas necessarias do
operario e de
sua
familia.
a
Jogando
manutencao a familia no
mercado, distribuindo assim, entre diversas forcas de trabalho o valor de uma so, a maquina deprecia essa Iorca de trabalho. Pode ser que as quatro forcas, por exemplo, que uma familia operaria vende, mais
do
que
dava
antes
(7)
0 Capital, p. 443.
(8)
0 Capital, p. 450.
a
forca
unica
do
lhe deem chefe
da
59
famiha,
mas,
ao
mesmo
tempo,
quatro jornadas
de
trabalho entraram no lugar de uma s6; portanto, seu
e
preco
rebaixado em proporcao ao excesso de sobre
trabalho de quatro sobre o trabalho de apenas uma. Resumindo,
o
capitalista
tinha
a
antes
apenas uma jornada de trabalho,
disposicao,
agora tern quatro.
Quatro pessoas devem agora fornecer nao apenas tra balho, mas ainda sobretrabalho ao capital, uma
so
familia
possa
viver.
E
assim,
para que
pois,
que
a
maquina, aumentando a rnateria humana exploravel, mulheres e criancas,
aumenta,
ao
mesmo
tempo,
o
grau de exploracao, O emprego capitalista da maquina revolucionou em suas bases o contrato, no qual a primeira condicao era que capitalista e operario devessem se apresentar face a face como pessoas livres, um
possuidor
de
dinheiro
e
mercadores os dois,
meios
de
producao,
o
outro possuidor da forca de trabalho. Mas agora, sob o ponto de vista juridico,
o capitalista compra seres
dependentes ou parcialmente dependentes.
0 opera
rio que antes vendia sua propria forca de trabalho, da qual podia dispor livremente,
vende agora mulher e
filhos. Virou um traficante de escravos. Se a maquina
e
o meio mais poderoso de aumen
tar a produtividade do trabalho, isto
e,
de diminuir o
tempo
de
mercadorias,
necessario para
a producao
como sustentaculo do capital, ela roso
de
prolongar
a jornada
de
e
o meio mais pode
trabalho,
alem
todos os limites naturais. 0 meio de trabalho, transformado
60
em
rnaquina,
nao
esta
mais
de
agora
subordi-
r
nado ao trabalhador; tornou-se independente. Uma so paixao toma conta do capitalista: reduzir ao minimo a resistencia que lhe opoe essa barreira natural, flexivel, que
e
o homem. Nesta obra de escravizacao ajudam
no a aparente leveza do trabalho junto as maquinas e tambem
o emprego
de elementos
mais
submissos
e
maleaveis, como as criancas e as mulheres. O desgaste senta sob uso,
um
como,
material
duplo
por
de uma
aspecto.
exemplo,
maquina
Um,
uma
em
nota
se
razao ou
apre- ·
de
seu
moeda
de
CrS 10,00 passando de mao em mao; outro, por ina .;ao,
por
permanecerem
sem
funcionar,
como
uma
espada inativa que se enferruja na bainha. Neste ulti mo caso, a acao de elementos naturais a desgastam. No primeiro caso, quanto maior for o uso da maquina, mais rapido sera o seu desgaste; razao
e
no segundo caso, . a
inversa, ou seja, quanto mais a maquina ficar
parada maior sera o seu desgaste. Mas a maquina sofre, alem do material, um des gaste que podemos chamar de
moral.
Esse
desgaste
moral ocorre quando uma maquina vai perdendo va lor, pois maquinas do mesmo tipo vao sendo reprodu zidas
a precos
mais
baixos
ou
na
medida
em
que
maquinas mais aperfeicoadas passam a lhe fazer con correncia.
9
Para remediar esse prejuizo, a
necessidade
de
fazer
a sua
o capitalista sente
maquina
trabalhar
o
maximo possivel, e comeca antes de mais nada com o
(9)
0 Capital, p. 461-462.
61
prolongamento do trabalho diario, introduzindo o tra balho noturno e o trabalho de turma, turno, que como o nome mesmo indica, balho
e
e
o sistema em
que
um
tra
executado por duas equipes de trabalhadores,
se revezando em cada doze horas ou por tres equipes se
revezando
trabalho
em
segue,
cada
oito
horas,
sem interrupcao,
de
modo
durante
que
as vinte
o e
quatro horas do dia. Esse sistema tao lucrativo para o capital foi adotado imediatamente com o surgimento das maquinas, lista em
tirar
para satisfazer a ganancia do capita-· a maior
quantidade
possivel
de
lucro
extra, que, com a propagacao da maquinaria, nao vai poder mais obter. O capitalista, portanto,' com a introducao de ma quinas,
acaba
com
todos
os
obstaculos
de
tempo,
todos os limites da jornada que durante o periodo da manufatura eram impostos ao trabalho. E quando ele alcanca o limite da jornada natural, absorvendo todas as 24 horas do dia, ele encontra um modo de fazer, de apenas um dia, dois, tres, quatro e mais dias, intensi ficando o trabalho em duas, tres, quatro e mais vezes. De fato, se em uma jornada de trabalho o operario obrigado a fazer um trabalho duas vezes, quatro vezes, etc., maior do que antes,
e
tres vezes,
e claro
que a an
tiga jornada de trabalho correspondera a duas,
tres,
quatro ou mais jornadas de trabalho. Tornando o tra balho mais intensivo,
comprimindo,
em outras pala
vras, em uma unica jornada o trabalho de varias jornadas, o capitalista consegue, gracas car seus objetivos.
62
a
maquina, alcan-
'
O aperfeicoarnento da maquina a vapor aumen tou
a velocidade
economia
de
de
seus
energia,
pistoes
que,
movimenta
com
agora
grande
um
meca
nismo mais volumoso com o mesmo motor, mantendo O
mesmo
consumo
nuindo esse
de
consumo
carvao de
e,
as vezes,
combustivel;
ate
dimi
diminuindo
o
atrito no mecanismo de transmissao, reduzindo o dia metro e o peso dos grandes e pequenos eixos do motor, dos discos de cilindro, e t c . , cada vez mais, alcanca-se . transmitir com muito mais rapidez a acrescida forca de impulsao do motor a toda a rede de mecanismos da operacao. 0 pr6prio mecanismo foi aperfeicoado. As dimensoes da maquina-ferramenta foram
reduzidas,
enquanto sua mobilidade e sua precisao aumentaram, como no
moderno
tear
a vapor;
ou
o
tamanho
e
a
quantidade de ferramentas crescem com as dimensoes da maquina, como e o caso da maquina de fiar.
En
fim, esses instrumentos sofrem incessantes modifica coes de detalhes,
como aquelas
que
ha
mais
de um
seculo atras, na decada de 1850, conseguiram aumen tar em fiar.
1/5 a velocidade dos
fusos
das
maquinas
de
10
Ja em 1836, declarava um industrial ingles: "O
trabalho
que
hoje
se
executa
nas
Iabricas
aumentou muito, comparado com o de antigamente, em virtude da maior atencao e atividade exigidas do trabalhador devido ao grande aumento da velocidade das maquinas."
(10)
0 Capital, p. 470.
63
E,
em
"O
1844,
trabalho
ouviu-se nas
maior do que antes,
na
Camara
fabricas
de
dos
e
hoje
Comuns: tres
vezes
quando se iniciou este genero de
operacoes. Sem diivida, a maquina tern realizado tare fas que exigiriam a forca de milhoes de homens, mas multiplicou
assustadoramente
o
trabalho
daqueles
que sao governados pelos seus terriveis movimentos." Na fabrlca, a virtuosidade
ao trabalhar com uma
ferramenta passa do operario para a maquina: a efica cia da ferramenta nao depende mais do trabalhador e sim da maquina.
A classificacao
fundamental
se
da
entre os trabalhadores que estao diretamente ocupa dos
com
os
instrumentos
trabalhadores
da
encarregados
maquina de
(inclusive
abastece-la
com
combustive! necessario) e seus manobristas ( que quase
exclusivamente
criancas).
Entre
esses
os o
sao
mano
bristas estao aqueles que alimentam a maquina com a materia-prima a ser trabalhada. Ao lado dessas duas classes principais,
ha
um
pessoal
que se ocupa com o controle de toda repara continuamente,
como os
nicos, marceneiros, etc. Esta trabalhadores,
uns
e
pouco
numeroso,
a maquinaria e a
engenheiros,
meca
uma classe superior de
possuindo
forrnacao
cientifica,
outros dominando um oficio; estao fora do circulo dos trabalhadores de fabrica,
es tan do apen as re uni dos a
eles. Qualquer crianca aprende com muita facilidade a adaptar os seus movimentos ao movimento continuo e uniforme de uma maquina. A rapidez com a qual uma crianca .aprende a
64
dominar
um
trabalho
mecanico,
suprime radicalmente a necessidade de converter esse trabalho em oficio exclusivo de uma classe particular de trabalhadores.
A especialidade em
manejar eter
namente um unico instrumento, se torna a especiali dade de servir por toda a vida uma maquina parcial. Abusam da maquinaria para fazer do operario, desde a infancia, uma peca de maquina, que e, por sua vez, apenas uma parte de um complexo mecanico. Nao s6 diminuiu consideravelmente o custo para a reprodu �ao desse operario, mas a sua dependencia da Iabrica, portanto do capital, tornou-se absoluta. Na
manufatura e no
usava sua ferramenta; maquina.
La,
artesanato,
na Iabrica,
o
ele
e
trabalhador usado
o movimento da ferramenta era
pela dado
por ele; na Iabrica, ele nao faz outra coisa senao seguir o movimento imposto pela maquina, pelo instrumen tal
de
trabalho.
Na
manufatura,
os
trabalhadore s
eram membros de um organismo vivo; na fabrica, os operarios
sao incorporados a um
mecanismo
morto,
que existe independente deles. A pr6pria facilidade do trabalho torna-se tortura, pois a maquina nao liberta o operario do trabalho, mas sim liquida todo o inte resse que poderia haver no trabalho. de trabalho agora
e
0 instrumental
um automate que se coloca frente
ao operario no processo de trabalho, trabalho morto, de capital,
sob a forma de
que domina e suga a sua
Iorca viva. Na grande industria moderna se completa, final mente, a separacao entre o trabalho manual e o tra balho intelectual da producao, separacao que se trans-
65
forma em poder do capital sobre o trabalho. Ao opera rio, sua habilidade parece ridicula frente aos milagres da ciencia, frente as imensas forcas da natureza, frente a grandeza do trabalho social, na maquina e que
constitui
humano,
o poder
do
incorporado patrao.
Na
cabeca desse capitalista, desse patrao, o seu monopolio sobre as maquinas se confunde com a existencia das maquinas mesmo. Assim, como se ele pr6prio as tivesse parido. E,
como disse Friedrich Engels - e nao vamos
confundi-lo com os escritores burgueses citados neste livro;
Friedrich Engels,
como
estas
suas
palavras
o
demonstram, concordava inteiramente com Marx e foi seu a m i g o - , pois bem, como dizia Engels, o capita lista, ao entrar em conflito com seus operarios, tern a mania
de lhes
atirar
na cara palavras
humilhantes,
comoessas: "Os
operarios
nao
deviam
se
esquecer
de
que
fazem um trabalho inferior e que nao ha outro mais Iacil de se aprender e melhor pago, tendo em vista a sua qualidade; basta um tempo minimo e um aprendizado minimo para adquirir toda habilidade exigida. A nossa maquinaria desempenha um papel muito mais impor tante do que o trabalho e a habilidade