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ROSENFIELD, Kathrin H. Grande Sertão: veredas: roteiro de leitura. São Paulo: Editora Ática, 1992. 111 p.     

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ROSENFIELD, Kathrin H. Grande Sertão: veredas: roteiro de leitura. São Paulo: Editora Ática, 1992. 111 p.











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As infrações e violências contra as convenções do narrar fazem parte do segundo processo – a travessia literária do narrador que explora a experiência vivida e a experiência discursiva da época. 6 p. PROBLEMA: Qual é o discurso que dá conta da realidade? O do homem simples e “ignorante”, o do poeta, o do teólogo, o do filósofo, o do cientista, o do político ou o do homem erudito “instruído” e lido? 6 p. Em Riobaldo surge a heterogeneidade desses discursos, criando ecos com esses diferentes modos de pensar e expor os seus jogos de linguagem. A travessia de GSV corresponde, portanto, à passagem de uma aventura subjetiva e particular a uma aventura universal, válida não apenas para o sertanejo, mas para todo e qualquer ser humano. 7 p. Mistura, hibridização dos discursos, matéria vertente; invenção e inovação como os movimentos sub-reptícios da matéria vertente: recombinações inesperadas de elementos conhecidos em novos conjuntos que adquirem, assim, um impacto e uma significação ultrapassando as expectativas e a compreensão. 7 p. Hibridizações: elementos alheios ou até inconciliáveis, que conferem um aspecto paradoxal ao relato. 8 p. Nonada. (No-Nada) questionamento dos dogmas religiosos e dos pressupostos filosóficos. MEDO – Demo: anagrama da “matéria vertente”. “[...] é o medo que suscita a ‘fantasiação’ das pessoas, fazendo com que elas criem imaginariamente os ‘nomes de rebuço’, as figuras infinitamente variadas do demo. [...] o demônio não é a causa do medo, mas aparece como sua consequência [...]” 14-15 p. Passagem da Obra (PO): “E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente.” (79 p.) 15 p. “O que está em jogo são as coisas mutáveis, os fenômenos e objetos que vertem no seu contrário – o amor e o ódio, o medo e a coragem, a bondade e a maldade, o preto e o branco, a angústia e a beatitude – e que parecem se confundir de maneira inextricável. Sertão, demo, medo tornam-se, além de serem palavras com significações fixas, realidades fonossemânticas que desdobram num jogo de ecos e repetições sonoras o tema da ‘matéria vertente’.” 15 p. O verter das coisas no seu contrário. Fluxo narrativo. “Todo o romance é, por assim dizer, carregado por uma voz que declara sua intenção de comunicar algo, sem, no entanto, saber exatamente o quê.” 18 p.



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“A um saber categórico e seguro de si substitui-se a atenção humilde para com os aspectos contraditórios e irreconciliáveis de nossas crenças, de nossos conhecimentos e informações.” 19 p. O IMPOSSÍVEL SABER. “O levantamento das contradições entre os múltiplos discursos que coexistem num mesmo universo cultural (aquilo que se diz nas conversas corriqueiras, na teologia, na filosofia, nas ciências, etc.) começa desde o primeiro parágrafo. É a polissemia, os sentidos diversos, e, muitas vezes claramente contraditórios, atribuídos a uma mesma palavra, que dirigem as divagações do narrador.” 19 p. (Não seria uma questão similar o debate sobre a informação?) “Embora o demo possa ser apenas uma projeção da nossa mente superticiosa, o sem-limite, a selvageria e o querer demoníaco persistem como referentes reais da inquietude, do medo e do desejo de saber dos homens.” 19 p. “O que lhe importa não são as repostas peremptórias da fé ou da ciência, mas o espanto diante da precariedade destas respostas.” 1920 p. (Quando fala de espanto, pode-se fazer uma remissiva ao pensamento de Heidegger.) “As aporias (contradições que não podem ser solucionadas dentro dos limites do pensamento ou do discurso que levaram a estes problemas) surgem não apenas entre os diferentes discursos, porém no âmbito de cada um deles.” 20 p. {O senso-comum, a poesia, a prosa, a ciência, a filosofia, como criadores de aporias!} A única resposta aos males ilimitados do sertão é a violência sem limites. 22 p. (cf. vídeos de Chauí sobre a ética.) Monstruosidade – falta de limites. Causos narrados por JGR, primos carnais q se casam e filho com a mão. (Associar com o mercado). “No mundo selvagem do sertão parece não haver lugar para preocupações éticas, o que interessa é a mera sobrevivência física.” 23 p. (Associar com o mercado) Passagem da obra: “Mas onde a bobice é a qualquer resposta, é aí que a pergunta se pergunta.” (p. 86) 24 p. “Os dois conjuntos narrativos paralelos (a narrativa associativa e caótica de um lado, os causos intrinsecamente coesos, do outro) vão no mesmo sentido. Ambos apontam para a estupefação que significa a perda de um recurso transcendente (a imagem de uma instância ordenadora) tradicionalmente atribuído às figuras paternas.” 24 p. (O narrador está colocando um foco a falta de paternidade de Riobaldo e Diadorim) “[...] sua percepção-compreensão é um processo em permanente evolução. Cada dado é suscetível de modificar-se a partir de novas relações com outros dados ou considerações.” 25 p. Frase: precariedade do seu lugar simbólico na sociedade. 26 p. “As sucessivas ‘fugas’ do adolescente, que se chama a si mesmo um ‘fugidor’ e um ‘seguidor’, compreender-se-iam assim como périplos de uma grande busca, da ‘travessia’ do menino-sem-pai em direção a











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um substituto simbólico deste ordenador dos sentimentos, dos valores e dos lugares que cada um pode legitimamente ocupar na família, na comunidade ou na sociedade.” 29 p. A travessia como errança. “Errança no duplo sentido da palavra: procura sinuosa, demorada e desamparada do princípio do bem que passa, entretanto, pelo erro, pela descoberta ativa, prática e cognitiva do mal.” 29 p. {Ver verbete desamparo, na obra freudiana, cf. Dupas e passagens de Gullar e Garcia-Roza.} Diadorim. O prefixo Dia- significa em grego “através de” ou “mediante”, de forma que o nome do belo e meigo amigo pode vir a significar ‘através da dor’ ou ‘travessia pela dor’. 29 p. “[...] Riobaldo e Diadorim são também diametralmente opostos nas suas atitudes intelectuais: Diadorim tem a convicção da fé que não duvida, mas adere firmemente a pressupostos inquestionáveis. Riobaldo, ao contrário, demonstra a inquietude do observador agudo que interroga os pressupostos à luz da experiência viva.” 30 p. Joca Ramiro. “Uma representação análoga aparece na figura de Pã, cujo corpo é dividido em duas metades: uma que aponta para a sua origem celestial e que tem forma humana (a parte de cima), outra que pertence ao mundo da baixeza material, isto é, o corpo da paixão e do sexo abaixo da cintura tem a forma de pés de bode, do animal emblemático da luxúria.” 32 p. “Já para Platão (no diálogo socrático Crátilo), Pã é a encarnação da condição trágica do homem aprisionado pela ambiguidade, pela impureza e pelo incessante verter das coisas no fluxo temporal.” 32 p. Riobaldo se dispõe à morrer, se oferece como alvo, desejando “pôr fim a uma contradição insuportável e incompreensível.” 33 p. Amor e ódio, fundo passional do ser humano. “É na perturbação após a batalha que Riobaldo questiona o sentido e a finalidade da existência dos jagunços. ‘Mas, a gente estava com Deus? Jagunço podia [...] esperar de Deus perdão de proteção?’ 39 p. “Ser jagunço parece resumir-se no viver-a-guerra e existir-na-violência – sem perguntas e sem alternativas.” 39 p. (Cf. vídeos de Chauí.) “Se a alma permanece incompreensível e obscura, o homem perde não apenas o bom caminho do agir ético. A escuridão e os labirintos do “sertão” (geográfico e espiritual) dificultam também a ordem do narrar, a consistência do relato.” 41 p. Passagem da obra: “Conto ao Senhor é o que eu não sei se sei, e que pode ser que o senhor saiba.” (p. 175) 40 p. (A máxima socrática da construção do entendimento através da ignorância, do desconhecimento, da ausência.) SISTEMA REPUTACIONAL E GARANTIA DA REPRODUÇÃO. “Os guerreiros míticos (os Lupercas em Roma, os Gandharva na Índia, as tropas de Odin na Germânia) formam um grupo de seres à parte da humanidade normal. Além da juventude, eles portam as marcas do animalesco e do mágico, da natureza bestial (cavalo, cão, cabra) e do sobre-humano (poderes mágicos). Eles representam o aspecto da





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destruição fertilizante, isto é, da violência inovadora e conquistadora. A eles se contrapõe a categoria dos ‘seniores’ (dos mais velhos, portanto, ponderados e graves), encarregados de institucionalizar os costumes e de conservar os bens conquistados. Cabe os seniores a exata observação das obrigações e promessas, da justiça e da equidade, que exigem a contenção dos reflexos impulsivos e a limitação dos excessos juvenis. No sistema mítico, é o equilíbrio destas duas categorias que assegura a harmonia social.” 42 p. {Boa passagem para referir-se ao sistema reputacional.} {o Rei-ordenador. Cf. O príncipe de Maquiavel.} “A oposição dos dois princípios (natureza selvagem e cultura ordenada por leis) aparece também nos espaços que os dois chefes habitam respectivamente: o Hermógenes reina num acampamento ‘infernal’ marcado pela bestialidade, enquanto Joca Ramiro retira-se periodicamente para sua Fazendo de São João do Paraíso.” 43-44 p. Justiça regrada. “Joca Ramiro aparece neste julgamento como o grande justiceiro que introduz uma inovação capital na existência jagunça. Em vez de matar e destruir sumariamente o inimigo, ele concorda em poupar a vida de Zé Bebelo, a fim de investigar sua culpa e de infligir uma pena simbólica correspondente. A inovação substituiria a guerra primitiva e selvagem por uma guerra civilizada, regida por leis e não apenas pelo impulso passional e violento.” 47-48 p. Ricardão, o ‘bruto comercial’. “[...] a avidez de dinheiro é concebida apenas como uma outra forma da violência primordial [...]” 48 p. Por vir. A incessante revelação. “A ideia do magma – matéria primordial que constitui o centro do planeta e na qual tudo está potencialmente contido [...]” 52 p. “Diadorim ‘me veio’ – isto é, surgiu, invadiu a existência de Riobaldo – como a manifestação concreta da impossibilidade de saber. Ao saber impossível do princípio, das regras e da ordem, substitui-se o ‘adivinhar’ e o ‘sonhar’, ou seja, a intuição fantasmática.” 53 p. “Diadorim enquanto ‘sentimento’ do narrador e do personagem Riobaldo aparece assim como figura-construção da alma sensível, daquilo que os antigos concebem como a ‘paixão’. Mas as aflições do corpo, a dor que medeia Diadorim, levará do sentir e do nãosaber à errança e à exploração cognitiva da travessia literária.” 53 p. {teoria do conhecimento – o sentir e o não-saber levam à errança, à procura e o erro inerente a travessia.} NONADA: o tema da vanitas (vazio, vaidade). “A travessia torna-se árida e estéril – como o próprio sertão na entrada da seca [...]” 54 p. Passagem da obra: “Veredas, No mais, nem mortalma. Dias inteiros, nada, tudo o nada [...]” (239) 54 p. “A formulação inusitada ‘nada, tudo o nada’ ressalta que o nada torna-se uma coisa quase que concreta, como se fosse um imenso e interminável espaço vazio.” 55 p.





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Nonada. “Esta palavra, que significa na fala sertaneja ‘algo de pouca importância’ ou ‘bagatela’, enche-se agora de novos sentidos e vem a significar: no universo do nada, no vazio, no oco, no vão. Todas estas figuras do nada ocupam, nesta segunda metade do romance, cada vez mais espaço, reforçando assim a atmosfera pesada de loucura, vaidade e de errança.” 55 p. “O homem aparece como um bicho selvagem, dominado pela sua alma bestial e propensa a todas as perversões.” 55 p. {Cf. Foucault e a morte do sujeito.} O sujeito encontra-se inviabilizado e negado. Passagem da obra: “Mundo, o em que se estava, não era para gente: era um espaço para os de meia-razão.” (239) 56 p. Zé Bebelo. Nome representa um anagrama demoníaco reversível no nome “Belzebú”. 58 p. Princípio racional da não-contradição. “A ação de Riobaldo não é o resultado de uma determinação racional ou de uma decisão consciente. Ele parece agir, ao contrário, seguindo intuições e palpites que captam múltiplas e contraditórias possibilidades. Estas contradições tendem a perturbar as decisões racionais e unívocas.” 61 p. “Riobaldo nega a existência e todos os atributos do ser existente: nomes, títulos e aparências (visagem, parecença). Ele fala ‘em mansas ideias’, sem raiva ou agressividade, como se se tratasse de uma evidência que o ser, a existência e consequentemente a ação são meras vaidades sem consistência.” 62 p. Passagem da obra: “Eu estava estando.” (266) 62 p. Verbo auxiliar estar. “Este verbo sempre designa estados passageiros, condicionados por determinadas circunstâncias: estar em um lugar, estar em uma situação são formulações que falam dos aspectos acidentais da vida e nada têm a ver com o peso metafísico do verbo ser.” 62 p. Na consciência de Riobaldo “a existência tornou-se tão frágil e precária que não merece mais o tom afirmativo do verbo ser que visa existências consistentes e verdades perenes.” 62 p. Fojo: caverna, gruta. Lugar profundo na terra ou no leito de um rio. Riobaldo e as dúvidas dos “fojos do mundo”. Ex.: chacinas; questionamentos do ser. “Dos fojos do mundo, dos fundos obscuros do sertão, o texto leva o leitor para a descoberta do fundo sem fundo da alma humana.” 64 p. A palavra forma associada a fundo, profundo, substância. “O medo transforma-se agora em ‘medo de homem humano’.” 65 p. “No Fausto de Goethe, por exemplo, o pactário procura ativamente o demônio e exige dele, em contrapartida da sua alma, o que lhe parece ser o bem supremo: saber e prazer. Fausto discute e argumenta com Mefistófeles até acertar os termos exatos do contrato.” 65 p. “O pacto em Grande Sertão: veredas representa, como já foi dito, o ponto culminante do despojamento progressivo do sujeito dos seus

















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atributos (razão, vontade, liberdade). Esta cena parece assim desdobrar e encenar de maneira intensa o lema secreto do romance – ‘No nada’.” 65 p. “O que está em jogo neste ‘pacto’ – se é que se pode falar propriamente em pacto – é a fragilidade da existência humana no ‘sertão’, isto é, num mundo selvagem e desregrado onde proliferam todas as perversões.” 66 p. Vênus e Lúcifer. “Vênus – deusa do amor e da vida que transforma até o nome do demônio invocado agora como Lúcifer. Lúcifer é o nome que os medievais deram ao planeta Vênus e significa ‘aquele que traz a luz’.” 67 p. “Por ironia, o pacto que levou Riobaldo a chamar por Satanás (figura da morte) termina sendo um pacto com Lúcifer, com a luz e a vida.” 67 p. “Este tipo de representação não corresponde mais à concepção moderna do sujeito humano, visto, desde Freud, como um sujeito dividido. Ora, a moderna teoria do sujeito não concebe mais o indivíduo como habitado por forças opostas. A clivagem decorre do fato da dupla existência do ser humano enquanto corpo (dotado de energia) e linguagem.” 74 p. “O corpo é, em consequência, sobredeterminado pela linguagem – pelo registro dos signos, isto é, pelas palavras ou gestos que formam os discursos regendo o tecido social: regras da família, do Estado, da justiça, etc. O corpo não é mais visto como uma realidade independente e separável do ‘espírito’ ou da linguagem.” 74 p. “A humanidade (aquilo que distingue o homem do animal) aparece assim como um problema de escritura, de inscrição do meramente material (as energias) no registro dos signos ordenados (linguagem, discursos regendo a comunidade).” 75 p. (Cf. conceito de informação de Latour.) “A distância ‘ponderada’ de seô Ornelas diante das vaidades do mundo o faz aparecer como o digno representante de vida regrada segundo leis que ultrapassam o querer impulsivo – aqueles impulsos que constituem, em contraste, o elemento de Urutú Branco. ‘Eu queria tudo, sem nada’ – comenta o narrador introduzindo seu devaneio da Idade do Ouro.” (382) 79 p. “A imposição física e imediata que caracteriza a existência dos jagunços cede aqui a um laço simbólico, criador de vínculos legítimos que regulam as relações entre gerações (pais-filhos-netos) e categorias distintas de parentesco (filiação biológica e simbólica).” 80 p. Passagem da obra: “Parente não é o escolhido – é o demarcado.” (323) 81 p. Mar de paixões imediatas. Diadorim como um amor ‘nebuloso’ para Riobaldo. A neblina como o persistente não-saber. 84 p. O Quereres, Caetano. “A repetição do verbo ‘querer’ constrata aqui com as outras descrições do amor que mostram nitidamente as

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oscilações do sentir cuja natureza é precisamente o fluir e o verter, mudando de objeto em objeto – transformando-se, invertendo-se e pervertendo-se. São os matizes do cheirar, do ver e do ouvir que constituem a paixão, muito mais do que o ‘querer’ que é, sobretudo aqui, um movimento da vontade e da razão conscientes.” 85 p. Querer: desejo: procurar saber: busca: errança. Platão. Dialética da altura: ascensão e queda. “Nestas figuras do distanciamento espacial anuncia-se a tentativa de ultrapassar a realidade banal, forçando assim a percepção de uma outra ordem. A repetição insistente de fórmulas que afirmam a ascensão de Riobaldo a lugares elevados no espaço (colina, sobrado) e a um status simbólico fora do comum (‘eu era chefe em glórias’) evoca o termo contrário e oposta da ascensão – a queda.” 86 p. “A homofonia entre o substantivo amor e a indicação espacial a mor (mais abaixo) sugere poeticamente a relação intrínseca entre o amar e o ser-jogado numa posição inferior. Este mesmo vínculo está, aliás, presente na palavra ‘paixão’, que significa ao mesmo tempo um forte movimento da alma e o sofrer da alma subjugada.” 87 p. RIO-BALDANZA. “O nome Riobaldo permite ser decomposto em dois elementos – o que designa o fluxo e a movimentação da água (rio) e o elemento – baldo que evoca a palavra dantesca “baldanza”, traduzível, segundo a sugestão do próprio JGR, como ‘saborear preguiçoso’.” 88-89 p. {O homem enquanto movimento e estagnação / Ser como um tornar-se e como um ente imutável.} “No nome está, assim, secretamente inscrita a disposição íntima de caráter do personagem que tende a abandonar-se passivamente às expectativas da vida. Ele chama-se a si mesmo de ‘seguidor’ e de homem ‘sem convicção nenhuma’ que vai longe na observação de hábitos alheios, sentindo-se consequentemente sempre ameaçado pela deriva – deriva do sentir, do imaginar e do inventar.” 89 p. “Mesmo após a descoberta da feminidade, Diadorim não se presentifica na mente de Riobaldo como mulher, mas como ‘encanto’, como ser encantado, isto é, como aquilo que Freud e psicanálise costumam chamar de fantasma – figura imaginária na qual se presentifica e se expressa a constituição psíquica do sujeito.” 90 p. “A verdadeira estória é a estória do fantasma, isto é, o relato do verter da realidade imaginária, das suas obscuridades, dos seus enigmas e das suas contradições.” 91 p. “Para o narrador da modernidade, não se trata mais de criar a ilusão da objetividade e da linearidade factual do relato épico. O que ele tem a contar não é ‘uma vida de jagunço’, mas a exploração da existência fragmentada e mutante da ‘matéria vertente’, distinguindo-se fundamentalmente do relato objetivo que encerra o romance.” (454-460) 91p. ANALISAR o significado de INVERTER no dicionário. “virar-se no sentido oposto ao natural; pôr-se às avessas.” {Conferir ensaio de

Antonio Cândido – o homem aos avessos / o demo, o medo, como certeza. Deus é incerteza, paciência. O natural é a matéria vertente.}