Eugene Boylan_A Dificuldade de Orar

EUGENE A BOYLAN DIFICULDADE DE ORAR http://alexandriacatolica.blogspot.com.br EDITORI AL ASTER LISBOA A D I F I

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EUGENE

A

BOYLAN

DIFICULDADE DE

ORAR

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br EDITORI AL

ASTER

LISBOA

A D I F I C U L DAD E D E ORAR

EUGENE BOYLAN, neste livro, dirige-se sobretudo

àquelas pessoas

que

encontram

dificuldades nos métodos usuais de meditação. Fala de oração àquelas almas que sentem

a necessidade de falar com Deus, porque sabem que é Pai, e dá-nos uma lição prorunda e

simples: sendo a oração absolutamente

necessária para a vida cristã, não pode estar obrigatoriamente ligada a processos compli­ �dos, diriceis para a mentalidade normal. A oração tem de ser natural e constante,

como a respiração para a vida rlsica. O autor dirige-se, portanto, a todos os

cristãos, mostrando-nos como a todos é aces­ sfvel a oração - tanto ao religioso arastado

do mundo, como ao sacerdote secular, ou ao simples cristão na

sua

vida corrente -,

porque a oração é afinal o resultado da ami­ zade que se possuir com Deus, sendo, ao mesmo tempo, causa duma progressiva inti­ midade com Ele.

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Há um processo para imprimir desenhos a cores que requer a elaboração de chapas separadas para cada cor elementar que compõe o desenho.

As impressões

de cada uma destas chapas são sobrepostas umas às outras e, se a intensidade relativa de cada cor é correcta, o resultado é bastante natural.

Se, no entanto, qual­

quer dos tons é demasiado fraco, então haverá um defeito correspondente na reprodução final

da cor

autêntica, que pode talvez corrigir-se com uma impres­ são suplementar do elemento enfraquecido. Ora a finalidade destas páginas é algo parecido com essa impressão suplementar.

Não é que a apresen­

tação corrente da oração mental seja defeituosa, mas a ideia que muitas almas receberam da oração mental precisa de ser reforçada em algumas «cores».

Esta

finalidade expiica a extensão Irregular em certas maté­ rias, que o leitor notará nestas páginas.

O assunto da

meditação metódica é apenas esboçado, já que há tantos livros excelentes que a tratam

elft pormenor.

Além disso, as almas a quem este livro é primeiramente dedicado, são aquelas que não conseguem aproveitar com os métodos usuais de meditação, e também aquelas que em tempos foram capazes de meditar, mas que agora acham que se lhes tornou impossível fazê-lo. 9

PREFÁCIO

Para

enquadrar

esta

impressão

suplementar

no

quadro geral da oração esboçou-se pelo menos o assunto na generalidade, abordando-se mais largamente algu­ mas faces que parece necessitarem de um tratamento mais minucioso.

Mas há outro motivo para que insis­

tíssemos em incluir uma análise de estados de oração como aquela a que chamamos a oração de fé, e para que peçamos ao leitor, seja qual for a sua posição na escada da oração, que leia a obra toda.

Diga-se o

que se disser àcerca da lei geral do desenvolvimento da oração, quando se observa e se tira a média entre um grande número de almas diferentes, a maior parte dos indivíduos acha que a sua trajectória de progresso é extremamente sinuosa e revela variações rápidas e amplas.

Parece, portanto, que, excepto talvez mesmo

ao principio, uma familiarização com a natureza e a técnica de todos os estados de oração é não só vantajosa em qualquer estado, mas até necessária em todos eles. Esta obra, apesar do título, não é uma análise cien­ tífica ou um catálogo classificado das várias dificul­ dades que podem surgir na oração, como uma solução prática completa para cada um, colocada no lugar devido.

O seu objectivo é, antes, discutir a natureza

e os modos de oração, não com objectividade cientilO

PREfÁCIO

fica, mas do ponto de vista individual, encarando-a como ela aparece a cada um.

Deste modo espera-se

colocar a alma em cpndições de lutar com a maior parte das suas dificullades.

Além disso, o objectivo

principal não é tanto instruir o leitor como animá-lo a insistir na oração e levá-lo a procurar novos esclareci­ mentos nos

trabalhos de penas mais

competentes.

Por isso é que o tratamento do assunto é tão conden­ sado; e tanto é assim que será necessária uma segunda leitura para extrair dele tudo quanto tentámos dizer. Esta segunda leiu t ra é ainda mais aconselhável pelo facto de que os capítulos iniciais serão mais fàcilmente entendidos à luz dos seguintes. Por ser ponto tão bem tratado em muUas outras obras, supõe-se que o leitor tem consciência da neces­ sidade da oração mental.

Um cristão que não ora, é

como um homem que nem pensa nem quer ples animal na vida espiritual.

�·um sim­

A busca da perfeição

é completamente impossível sem a oração mental que pode, é claro, fazer-se com bastante

inconsciência.

De facto, pode dizer-se que se um homem não ora, não pode salvar a sua alma. E nem mesmo nos é lícito pensar que os próprios leigos estão, pela sua vida, excluídos de aspirar a um 11

PREFÁCIO

progresso na oração como o que se indica neste livro. Qualquer pessoa que esteja preparada para servir a Deus com boa vontade e dedique diàriamente tempo bastante à leitura espiritual e à oração pode com fun­ damento esperar crescer em amizade com Deus, isto é, progredir na oração.

As dificuldades dos leigos na

vida interior requerem uma análise mais detalhada do que se pode fazer neste livro, mas não são insuperáveis e não podem impedir que nenhum leigo de boa vontade tenha uma vida interior de oração mesmo no mundo. Somos, além disso, completamente contrários à teo­ ria de que não há nenhum estado de oração entre a meditação metódica ordinária e a contemplação pas­ siva.

Como, segundo esperamos, se tornará evidente

nestas páginas, a oração parece-nos ser o resultado de uma progressiva

intimidade e

amizade

com

Deus.

Se a oração não pode progredir, então tão-pouco pode progredir a amizade. Este ponto é de grande importância prática, porque as falsas noções a este respeito podem fazer com que a alma perca todas as esperanças de alcançar a união com Deus.

Ao longo do que se segue, tentaremos

mostrar como esta união pode ser procurada e encon­ trada por uma intimidade sempre crescente com Jesus 12

PREFÁCIO

na oração e no trabalho. exercício da

Isto conduz a encarar cada

vida religiosa como um ponto de encon­

tro onde o cristão tem a certeza, não só de achar Jesus, mas também de poder e.f_tar unido com Ele. Notar-se-á ainda que se evitou, em grande parte, dividir a oração em estados de desenho e recorte nítidos. As definições, quando de todo se dão, são frequente­ mente amplas e algumas vezes vagas. é propositado.

Isto, no entanto

Não vale a pena querermos ser mais

precisos nem mais rigorosos nas nossas noções do que o é a própria realidade da oração.

Ora a oração, em

especial do ponto de vista individual, pode muitas vezes ser muito imprecisa e inclassificável.

E ainda mesmo

se existe uma escada de oração bem marcada para cada individuo, não é de modo algum necessário, pelo menos como regra geral, saber em que degrau se encontra. O importante é evitar parar, e subir sempre. O facto de a mesma dificuldade reaparecer com fre­ quência em diferentes estados do progresso na oração, e de o mesmo principio ter muitas aplicações ao longo da vida espiritual conduziu a algumas repetições no texto.

Num livro escrito para ir ao encontro das neces­

sidades de almas isoladas e que foca o seu assunto de diferentes pontos de vista e tenta tratar os muitos mal 13

PREFÁCIO

entendidos e noções erradas com que se pode topar, tal repetição parece justificada e será, segundo cremos, perdoada de bom grado. Não nos desculpamos de fazer o que só pode ser uma tentativa imperfeita na difícil tarefa de esboçar a dou­ trina de S. Paulo sobre a habitação das pessoas divi­ nas na alma baptizada e a incorporação da alma em Cristo.

Esta doutrina foi o alicerce do ensinamento

do apóstolo.

É ainda um fundamento sem rival para

uma vida de oração, parecia-nos que é não só o melhor encorajamento para ela, mas também o mais seguro apoio para a esperança de levá-la a bom termo.

Em

particular, o próprio S. Paulo dá testemunho de que o Espírito Santo auxilia a incapacidade da nossa oração, e muitos teólogos vêe11J uma estreita relação entre a operação dos dons do Espírito Santo e o desenvolvi­ mento da oração. O facto da busca da oração implicar a busca da san­ tidade, não há-de causar alguma dúvida a ninguém quanto à possibilidade de a alcançar.

Quando o nosso

Salvador se lavantou de entre os mortos, tinha tomado sobre si mesmo e

triunfado de todos os possíveis

obstáculos do nosso passado, do futuro

de nós mes­

mos ou da nossa volta, que pudessem interferir na 14

PREFÁCIO

nossa santidade.

A

agonia que despedaçou o seu

sagrado Coração no Horto, foi o pensamento de que depois de ter feito e sofrido tanto - muito mais do que seria porventura necessário - pela nossa santidade, nós havíamos de tornar o seu sangue inútil pela nossa cobardia e pela nossa ausência de fé e de confiança n' Ele.

O maio� valor que nós podemos dar aos sofri­

mentos de Cristo, é acreditar que podem santificar até mesmo os que são como nós. Temos de facto de completar em nós mesmos aquilo que falta à ressurreição de Cristo no seu Corpo, dei­ xando-o ressuscitar em nós pela nossa santidade. Se se desprender destas páginas alguma graça, algum bem, algum proveito, isso deve-se à intercessão de Maria- Mãe de Cristo-, deve-se à graça do Espf­ riU) Santo que opera no mais indigno sacerdote, deve-se aos sofrimentos de

Cristo, que mereceu todas as

graças para os homens, deve-se à misericórdia do Pai do Céu, que quer restaurar todas as coisas em Cristo, no qual, na unidade do Espfrito Santo, reside toda a sua glória.

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br 15

IN T R O D U

Ç Ã O

Perante a dificuldade sempre crescente de levar uma vida santa em contacto com um mundo que se torna cada vez mais flagrantemente pagão, impelidas muitas vezes pelo sentimento mais ou menos cons­ ciente das necessidades de um dos momentos mais críticos da história da cristandade, muitas almas começaram a examinar o estado da sua saúde espi­ ritual e a procurar meios de progredir. A necessi­ dade de maior energia interior levou-as a considerar em especial a sua oração, pois foi-lhes dado chegar a compreen der que a oração é a fonte do seu vigor e o centro da sua vida espiritual. O resultado da investigação é, em muitas casos; insatisfatório e desanimador. Muitos acham que alguma coisa está mal na sua oração ; notam uma falta de progresso, uma dificuldade cada vez maior e mesmo uma crescente falta de gosto nesc:e exercício. Alguns concluem que para eles é uma pura perda de tempo continuar a «oram como t�m feito ; outros acham o tempo dedicado à oração uma carga que se está a tornar quase intolerável. É na espe­ rança de fazer alguma coisa para aliviar estas difi­ culdades que estas páginas foram escritas. Não há razão nenhuma para que os seculares, no mundo, não encontrem proveito na discussão destes dramas. Mesmo os principiantes podem cobrar 17

A DIFICULDADE DE ORAR

coragem se as possibilidades da oração lhes são postas diante, e uma vez que se corrijam os seus mal-entendidos sobre a natureza da oração, tentarão a sua prática regular com renovado propósito. Mas só depois de se ter feito uma tentativa continuada na oração regular, é que estas linhas encontram por completo a aplicação pretendida. Não se pretende fornecer um catálogo exacto das dificuldades da oração, com um remédio determinado para cada uma ; antes esperamos, que examinando as origens donde procedem as dificuldades, o leitor se tomará capaz, talvez depois de algumas experiências, de encontrar uma solução para os seus problemas. Visto que muitas das dificuldades surgem de noções erradas da sua natureza, vamos em primeiro lugar passar uma breve revista ao desenvolvimento da oração, de modo a fixar a nossa perspectiva, para então voltarmos a uma análise mais detalhada dos seus vários elementos e estados. Falando tecnicamente, a oração é uma elevação do espírito e do coração para Deus, para o adorar, para o louvar, para lhe agradecer os seus benefícios e lhe pedir graça e misericórdia. Num sentido mais restrito, a palavra restringe-se à oração de petição, isto é, ao pedir a Deus coisas convenientes. Os seus principais efeitos são fazer-ncs amar a Deus mais e mais, conformar a., nossas vontades com a sua, fazer-nos verdadeiramente humildes e levar-nos a estar mais intimamente unidos a Ele. Pode com acerto descrever-se como uma conversa amorosa com Deus, especialmente se se recorda que a conversa abrange tanto o ouvir como o falar, e que os grandes amigos podem com frequência conversar sem palavras. Quando com os lábios utilizamos uma dada fórmula e procuramos confor­ mar de algum modo os nossos pensamentos e dese18

INTRODUÇÃO

com us nossas palavras, temos o que vulgarmente chnmu oração vocal. Mas, é claro, para que che­ �uc a ser oração, o espirito tem de tomar nela alguma pnrtc. Naquilo que se chama oração mental pro­ curamos fazer surgir estes pensamentos e desejos em nós, por alguma reflexão e então dar-lhes expressão por palavras- palavras nossas, em geral- ou mesmo por aquele eloquente silêncio em que o cora­ ção fala a Deus e lhe dá o louvor adequado sem o ruldo das palavras. Mas ainda que articulemos palavras, ou pronunciemos esses actos e desejos, a nossa oração não deixa por isso de ser oração men­ tal. É este, um erro que algumas pessoaf corr.etem, pensando que devem reprimir qualquer expressão articulada ou discurso, na oração mental. Pelo contrário, se, como é frequentemente o caso, a arti­ culação com os lábios contribui para tornar os nossos actos mais ferverosos ou mais reais, pode perfeita­ mente usar-se. Mas não é essencial. Nisto, como em assuntos semelhantes deve prevalecer uma santa liberdade de espírito. Os «actos» que fazemos na oração, chamam-se afectos. O significado corrente desta palavra é inteiramente diverso do que se lhe dá aqui. Os afectos na oração são essencialmente actos de von­ tade pelos quais ela se dirige para Deus, e suscita outros actos das diversas virtudes, tais como fé, esperança e amor, arrependimento, humildade, gra­ tidão ou l ouvor. Nos primeiros estados da vida espiritual, estes afectos não podem, geralmente, ser produzidos sem uma consideração laboriosa e um e.:;forço fatigante. As coisas desta vida, o afogadilho da actividade humana, a experiência diária dos sen­ tidos, de tal modo inundam li imaginação e excitam as emoções que as verdades mais abstractas da fé e os mistérios da vida de Cristo, a dezanove séculos 1os

HC

19

A DIFICULDADE DE ORAR

de distância, pouco cabimento têm no espirito. Temos, portanto de gastar algum tempo da oração a passar em revista estes pensamentos e a estimular o coração para que actue e dê expressão aos seus desejos. A palavra meditação, no seu sentido estrito, denota este trabal ho preparatório da reflexão e considera­ ção, que ainda não é realmente oração ; é apenas um prelúdio para a oração. Os afectos e petições cons­ tituem a verdadeira oração. Por este motivo é pouco feliz o costume de aplicar a pal avra meditação ao conjunto de exercícios da oração mental. Apesar de reservarmos este ponto para uma análise mais completa num capítulo pos­ terior, diga-se desde já que a palavra meditação, no seu sentido mais lato, quando aplicada ao exer­ cício da oração mental em conjunto, abrange muito mais que o sentido estrito da palavra. Para que possa chegar a ser oração, tem de incluir algumas petições ou actos. À medida que se avança na vida espiritual, desen­ volvem-se convicções que fàcilmente se revivem no momento da oração ; a leitura e a reflexão, dois ali­ mentos essenciais da vida espiritual, aprofundam o conhecimento de Cristo e da sua doutrina, e fazem-nos crescer no seu amor ; a realidade das coi­ sas do espirito toma-se mais intensa. O resultado é que o tempo necessário para a consideração preli­ minar se reduz cada vez mais e os afectos apresen­ tam-se mais fàcilmente e ocupam gradualmente a maior parte do tempo da oração. Uma tal oração chama-se «oração afectiva». Nessa altura, exactamente como quando se esta­ belece a amizade entre dois homens, amadurecem a mútua compreensão e a comunhão de objec­ tivos e as palavras começam a ganhar toda uma riqueza de significado, assim também, à medida 20

INTRODUÇÃO

que cresce a intimidade com Deus, a virtude progride paralelamente, podemos descobrir que os nossos afectos - isto é, os nossos actos de vontade e das outras virtudes - necessitam cada vez de menos palavras para se exprimirem, e pode algumas vezes acontecer que nos contentemos com ajoel har em adoração silenciosa, ou em mudo arrependimento, ou com qualquer outro «afecto» semelhante, sem usar pa1avras. Assim, a nossa oração simplifica-se. A esta oração simplificada chama-se frequente­ mente .

115

A NOSSA IDENTIFICAÇÃO C O M CRISTO

Se um homem pratica um crime ou comete uma injúria contra alguém, os seus amigos podem natural­ mente fazer muito para o ajudar. Podem reparar a injúria cometida ; podem aplacar a ira da pessoa injuriada; podem ajudar o próprio homem a fazer ambas estas coisas ; podem animá-lo e pedir perdão por ele. Mas não podem, em estrita justiça, aliviar a sua responsabilidade da pena submetendo-se eles à pena, nem tão-pouco podem apagar a nódoa da sua culpa. Culpa, pena e mérito são coisas pessoais ; não podem ser tratadas por procuração. No sentido estrito, nenhum homem pode tomar sobre si a culpa de outrem ; nenhum pode merecer ou ser punido justamente por outro. Então, como foi que Cristo nos salvou ? Como desviou Ele o castigo que nos era devido ? Como mereceu Ele por nós ? Como chegou Ele a sofrer pelos nossos peca­ dos ? A resposta mais satisfatória para estas per­ guntas e outras semelhantes acha-se nas páginas de S. João e de S. Paulo. S. João dá-nos as próprias palavras de Cristo : «Eu sou a vide, vós sois os ramos». S. Paulo insiste uma e outra vez : «Vós sois o ' corpo de Cristo». Não é fácil tarefa resumir e explicar a doutrina que tão vivamente é expressa nestas duas frases. A verdade sobre que assenta é tão rica, tão maravi117

A DIFICULDADE DE ORAR

lhosa, tão profunda, tão inegualável, que tem de ser apreciada de muitos pontos de vista diferentes, e temos d�! fazer uma síntese das várias - quase contra­ ditórias - ideias assim obtidas, antes que se chegue a uma compreensão razoàvelmente completa da sua natureza. Aqui apenas poderemos dar algumas representa­ ções parciais da verdade, mas serão o bastante para o nosso objectivo. Na incarnação, Deus Filho, a segunda pessoa da Trindade, uniu hipostàticamente a si uma natu­ reza humana, de modo que Jesus Cristo, o Filho de Maria, era Deus de verdade e homem de verdade, uma pessoa com duas naturezas . Isto, no entanto, não foi o fim do processo de união com a raça humana. As palavras do Evangelho de S. João e das Epístolas de S. Paulo esclarecem que o Sal­ vador quis entrar numa união real mas miste­ riosa com cada membro da raça humana e que Ele une de facto cada ser humano a si próprio no baptismo, de modo a formar com ele uma só coisa, um só corpo, um só homem, um só Cristo místico. De certos pontos de vista poderíamos quase enca­ rar esta união como formando uma só pessoa, mas deve entender-se claramente que não perdemos a nossa individualidade nesta união. No entanto, a união é tão estreita que Cristo pode sofrer com toda a justiça os nossos pecados, e nós podemos com toda a justiça usar os seus méritos como próprios. As controvérsias dos teólogos nos últimos séculos têm tendido a desviar a nossa atenção desta tremenda doutrina da nossa incorporação em Cristo, e tanto isto é assim que, para alguns, esta afirmação pod e parecer demasiado vigorosa. Os Padres, no entanto, especialmente Santo Hilário, S. Cirilo, S. João Cri118

A NOSSA IDENTIFICAÇÃO COM CRISTO

sóstomo e Santo Agostinho, são muito mais vee­ mentes e vigorosos nas suas expressões. S. Tomás de Aquino, cujas palavras foram medidas com aquela precisão que é característica do príncipe dos teólogos, afirma simplesmente que no bap) para descrevê-lo, não podemos nunca duvidar da sua realidade. É a maior das realidades para Deus : é a nossa única esperança, é o plano de Deus que quer restabelecer todas as coisas «em Crista>). Sob risco de aumentar a confusão que esta múlti­ pla exposição possa talvez ocasionar, seria bom indicar um outro modo de encarar este mistério, porque poderá ser útil para algumas ahnas na sua oração. O Senhor, tomando um corpo humano no seio de sua Mãe Maria, tornou-se homem, viveu a sua vida humana para nossa salvação, morreu e ressuscitou de novo para esse mesmo fim. Não é que este fosse o seu único fim, pois a glória do Pai deve ter vindo antes de todos os demais. Mas Ele queria glorificar a misericórdia -de seu Pai, salvando135

A DIFICULDADE DE ORAR

-nos. Ora este processo não terminou com a Res­ surreição. Ressuscitado dos mortos, continua a sua vida em cada um de nós. Poderíamos ver toda a nossa existência como se fosse um corpo - um corpo inanimado, porque sem Cristo é sobrenatu­ ralmente morto -, um corpo no qual Cristo está a ser gerado gradualmente, conforme lhe submete­ mos, através das operações de graça e cooperação da nossa vontade, cada vez mais e em maior número as nossas acções. Este conceito disfruta, até cen o ponto da auto­ ridade de S. Paulo, que diz aos Gálatas que Ele está «em trabalhos» até que Cristo esteja formado neles. Também nós estamos (