Ensaio Sobre the Great Gatsby

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CARACTERÍSTICAS REALISTAS PRESENTES NA OBRA THE GREAT GATSBY Frederico Dias Freire Lincoln Rodrigues Barbosa Marina Rodrigues de Oliveira Paulo Henrique Vieira do Nascimento Shirley Carvalho*

Escrita por Francis Scott Fitzgerald, considerado por muitos um dos maiores escritores norte americanos, The Great Gatsby teve sua primeira publicação em abril de 1925. A estória se passa na cidade de Nova York, durante o escaldante verão do ano de 1922, e trata-se de uma audaz crítica ao “sonho americano”, isto é, a ilusão de que se poderia atingir a prosperidade e o sucesso financeiro por meio do trabalho árduo, cultivando a falsa ideia da igualdade de oportunidades. Para melhor embasar os elementos presentes na obra e confirmar as alegações expostas no presente trabalho, faz-se necessário, primeiramente, realizar se uma breve recapitulação histórica dos principais acontecimentos das primeiras décadas do século XX, que foram influentes para a criação da realidade retratada na obra. Como se sabe, os Estados unidos foram os principais fornecedores de insumos (tanto bélicos como de gêneros alimentícios) para os países aliados durante e depois da primeira grande guerra (1914/1918). Consequentemente, obtiveram altíssimos lucros em razão desse monopólio, fazendo com que sua economia se desenvolvesse em ritmo acelerado. A industrialização cresceu, o índice de desemprego era mínimo, e o consumo era incentivado através de margens de crédito que pretendiam cada vez mais fomentar aquele momento de expansão econômica. Entretanto, esse breve e intenso momento de prosperidade não contava com a tão rápida recuperação das economias dos países europeus envolvidos na guerra, fato que fez com que as importações e transações comerciais diminuíssem significativamente. Porém, as indústrias norte americanas continuavam a produzir a todo vapor, fazendo com que houvesse um excedente de mercadorias, para um mercado em que não existiam consumidores suficientes para tal demanda. O ápice desse desastre foi a queda da bolsa de Nova York, em 1929, também conhecida como a grande depressão. The Great Gatsby retrata os anos áureos que antecederam essa catástrofe. No entanto esse glamour é desnudado pela obra. Nela, assim como nos romances do Realismo, são * Acadêmicos do 5° período noturno do curso de Letras, do Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, no semestre letivo 2013/1.

mostradas de forma categórica todas as mazelas cultivadas pela sociedade de uma determinada época, seu materialismo exacerbado, em conjunto com sua hipocrisia descarada. Talvez a verossimilhança da obra com a realidade retratada se deva ao fato de Fitzgerald ser contemporâneo a tais acontecimentos, pois como se sabe, o autor, nascido em 21 de dezembro de 1940, em Minnesota, viveu na íntegra todo o contexto que se passa em sua obra. Fitzgerald foi fascinado pela pelo estilo de vida da elite, fato que o fez buscar prestígio junto a essa minoria. Casou-se com uma mulher da alta sociedade e logo se viu inserido em um cotidiano onde festas dispendiosas e viagens para a Europa se faziam frequentes. Apesar de ter conquistado notoriedade e dinheiro como escritor, uma superficial análise biográfica sobre o autor comina na conclusão de que o os pontos baixos de sua vida se sobressaíram aos altos, ou seja, sua vida foi repleta de várias tribulações e decepções. Sua esposa foi internada vítima de uma moléstia de ordem mental, e quando ele se muda para Hollywood, com a intenção de se tornar um grande roteirista, não obtém o êxito esperado, em consequência disso, torna-se um boêmio inveterado, servindo de um modelo vivo para tudo que o mesmo critica, ou seja, a sociedade da qual ele era fruto. Sendo assim, The Great Gatsby trata desse universo artificial embalado pelo jazz, que é adotado como a música da elite, o ritmo dos bem abastados. O objetivo do presente trabalho é o de traçar alguns paralelos entre a obra e características do Realismo/Naturalismo. Deixando bem claro que é evidente que a obra em análise não foi escrita sobre a influência de tal proposta, porém, como é notório que a divisão e classificação da literatura em escolas literárias têm como maior objetivo facilitar o ensino e a compreensão dessa matéria para os estudantes, portanto, não é algo fora do normal encontrar características em uma determinada obra que extrapolem a sua época ou a sua classificação quanto à escola literária. Pois como se sabe, a arte, quase sempre, não obedece a regras lineares, ela pode tanto fugir do seu tempo cronológico, como também retratar sentimentos e sensações particulares, psicológicas, além de até ousar dar um salto rumo a um possível e, talvez, improvável futuro. Enfim, tratando se de arte, seja na música, literatura, artes plásticas, talvez a única premissa que se obrigue a cumprir seja a liberdade de criação, de expressão. Finalizada a delimitação do objetivo desse ensaio, ateremo-nos à obra então. A partir dos primeiros trechos do livro, percebe-se que a narração da obra é em primeira pessoa. Nesta introdução, o narrador/personagem Nick Carraway, conta um pouco de sua história, desde os tempos de faculdade, a origem de sua família, e sua passagem pela primeira grande guerra.

My name is Nick Carraway. I was born in a big city in the Middle West. My family has been well-known there for seventy years. [...] When I came back from the war, life in the Middle West was dull. I could not settle down. I decided to GO East and lear the Bond business. [...] I had planned to stay in the East for several years, but I was there for only summer. This book is the sotry of that summer. (FITZGERALD, Francis p.5)

Por meio do fragmento acima apresentado, pode-se perceber que a obra foi escrita utilizando se do tempo cronológico, ou seja, existe uma sequência lógica predominante do desenrolar dos fatos, apesar de algumas vezes, como se percebe ao ler todo o livro, ocorrerem flashes backs, momentos onde personagens citam fatos ocorridos no passado. Nesse trecho, quando Nick diz que a sua intenção era a de passar alguns anos fora de sua terra aprendendo sobre negócios (no entanto ele fica somente por um verão) nos é entregue de, antecipadamente, parte da temática da obra. Nick demonstra, mesmo sem mencionar de maneira clara, que algo não satisfez com as suas expectativas. Subentende-se que algo o frustrou, que a vida que o mesmo levou fora de sua terra não foi como imaginava. Dentro dessa perspectiva, aproveitaremos o momento para situar o espaço, local onde a obra se desenrola. A estória se passa em West Egg e em alguns momentos em Nova York. Ocorre fechada, quando os personagens desenvolvem situações dentro certos ambientes, como apartamentos e casas, e aberta quando os fatos acontecem fora desses ambientes. Vários imóveis são utilizados como elementos integrantes do espaço físico fictício elaborado para a obra, é necessário ressaltar o luxo e o requinte de tais lugares. O materialismo exacerbado nas obras realistas se evidencia também em The Great Gatsby. A exaltação e o culto a ostentação não se limita somente aos imóveis, qualquer característica que sirva como ícone para se classificar um indivíduo como bem abastado (rico), se faz presente na vida da casta privilegiada que integra a trama de Fitzgerald. Abaixo seguem trechos da obra em que e pode perceber tais evidências. The Buchanan´s house was a big one, overlooking the bay. The lawns and gardens started at the house and went down to the sea. […] Then we looked at the rose garden and walked down to the sea. There was a big motorboat at the end of the dock. (FITZGERALD, Francis p.9)

No próximo fragmento do livro, ainda dentro dos elementos da ostentação, é mostrado o viés boêmio das festas oferecidas pelo personagem Gatsby. Homem de origem humilde cuja fortuna adquirida não se encontra explicação, fato responsável por muita especulação. My neighbour, Mr Gatsby, fave parties all through the Summer. Nearly every night his house and gardens were full of music. Men and women walked among the beautiful flowers, laughing, talking and drinking champagne. In the afternoons, Gatsby´s guests swam in the sea or sat on his beach. His motorboat roared acroos the bay. Every weekend, Gatsby´s cars carried his guests to and from the city. Coloured lights hung from the trees in Gatsby´s gardens. Food was brought from New York –

rich, beautiful food – and it was put on long tables under the trees. There was every kind of drinks. (FITZGERALD, Francis p.19)

No “universo paralelo” criado pelas grandiosas festas propiciadas por Gatsby, não se importava o que se acontecia no mundo, se aqueles momentos eram patrocinados por dinheiro sujo ou de origem duvidosa, se a maioria da população não possuía condições de desfrutar de momentos semelhantes, a regra era usufruir, se intregar àqueles prazeres. O anfitrião era dotado de um ideal de vida romanesco, e fazia com que essa sua tendência contagiasse a todos. O “carpe diem” era o lema, sem mesmo se importar que essa realidade, talvez, possuísse raízes ligadas a oportunismos mercantis praticados pelos Estados Unidos durante e depois da grande primeira guerra. Outro ponto que faz do livro de Fritzgerald ter características em comuns com romances realistas são os inúmeros casos de adultério presentes na obra, o que mostra que a tão sistemática e formalista sociedade norte americana, apesar de sustentar dogmas religiosos provenientes de suas raízes protestantes, instituindo, inclusive, leis como a que proibia a comercialização de bebidas alcoólicas em seu território, não passava de uma instituição falida e medíocre. Se a prosperidade econômica fosse a resposta para todos os males, por que a criação de leis para impedir a difusão do alcoolismo? Por que os laços matrimoniais perdiam cada vez mais para práticas luxuriosas? Uma vez que não existiriam problemas significativos para abalar o principal pilar responsável pela instituição familiar. A reposta para essas e outras questões podem ser encontradas na busca desesperada pela manutenção das aparências, assim como nas obras realistas, a imagem e a honra da família deveriam ser preservadas a qualquer custo, mesmo que por de trás de toda essa fachada o que se encontre seja horrendo e deplorável. Na obra, pode-se citar como exemplo de casamento de “aparência” o caso dos personagens Tom e Daisy, em que Tom possuía uma amante e Daisy, mesmo ciente dessa relação extraconjugal, não toma medidas a respeito dessa situação. Inclusive, posteriormente, se envolve também em um caso com o personagem Gatsby. „Don‟t you know?‟ Miss Baker said. „Tom‟s got a woman in New York, I thought everyone knew. But she shouldn‟t phone him at home, should she?‟ At that moment, Daisy and Tom came back together. „Sorry we had to leave you,‟ Daysy said. The candles were lit again. We sat for a while in silence. (FITZGERALD, Francis p.09)

É perceptível que Daisy sabe do adultério do marido. O fato de não buscar o divórcio pode encontrar origens que estejam além dos formalismos culturais pregados pela sociedade das primeiras décadas do século XX. Pois se separar de Tom significaria abrir mão de uma vida de riqueza, motivo esse o mais importante para se justificar a manutenção do casamento.

Além do mais, outros tipos de satisfações poderiam ser encontrados no adultério. Esse comportamento de busca pelo prazer através do sexo, notado também em outros personagens, tem relações com o Naturalismo, vertente mais extremista do Realismo, em que o homem se mostra entregue a instintos animalescos, distanciando se da razão. Dentre as diversas possíveis constatações que poderiam ser feitas sobre a obra, pois se trata de um livro muito rico no que diz respeito a refletir a sociedade da época, uma em particular não poderia ficar fora do presente trabalho. Estamos nos referindo à figura enigmática do rico anfitrião das mais pomposas festas dos anos vinte se configura como o principal elemento de The Great Gatsby. Não é à toa que o livro é intitulado com o seu nome. Gatsby representa o homem que não desfrutou das grandes oportunidades oferecidas por aquile momento histórico. Alguém nesse momento poderia refutar essa afirmação baseado no fato dele ser rico, o que até certo modo não é errado. Porém, por meio de uma análise mais aprofundada da obra, percebe-se que Gatsby não é como os demais “burgueses”. Ele é alvo das mais variadas suposições a respeito da origem de sua fortuna. O que se pode afirmar com certeza sobre o mesmo é que era o possuidor de uma enorme riqueza, e que era um homem de origem humilde. Traça-se aqui mais uma relação com as características realistas presentes na obra, ou seja, o Determinismo. Como se sabe, o Determinismo é a teoria filosófica que explica que todo acontecimento é explicado pelas leis da causalidade e hereditariedade. Baseando se nessa vertente de pensamento um homem que nascesse pobre, de uma família sem prestígio, nunca conseguiria mudar sua sorte. Deveria então morrer pobre, sem prestígio, sem chances de mudar a sua trajetória. A obra é influenciada por um viés determinista em relação à figura de Gatsby. As teorias a respeito da origem de sua fortuna, na íntegra, não passam de especulações preconceituosas, pois como se sabe, Gatsby não tinha “berço”, por isso a alta sociedade não conseguia aceitar aquela ascensão “milagrosa”. Durante o desenrolar da trama, nenhuma suposição baseada na conquista da prosperidade por meio do trabalho duro e honesto é direcionada a Gatsby. Alguns supunham até mesmo que ele era um assassino, e outros insinuavam que o mesmo poderia ter ligações com contrabandistas, a máfia, fato que apesar de não esclarecido na obra, tende a seu o mais certo. A verdade é que nada se sabe sobre Gatsby. Se a sua fortuna foi conquistada por meios lícitos ou ilícitos, nada se pode afirmar. O que importava é que ele não era bem visto pela alta sociedade. Apesar de ter suas festas lotadas de pessoas, quando morre no final da trama, nota-

se que não tinha nenhum amigo. Fica evidenciado que era cercado de invejosos, de pessoas que queriam somente desfrutar de seus memoráveis eventos. Nem mesmo sua amada, Daisy, compareceu em seu velório. Aquele homem, que por conta de sua origem desafortunada, fora desprezado pela pequena parcela da sociedade que era abastada, se encontrava mais uma vez à margem de todo aquele sistema, provando que mesmo depois de suas conquistas, nunca se tornaria um membro da alta sociedade, pois as suas origens já o condenaram desde o nascimento. Assim encerram-se as breves análises do presente trabalho, ressaltando que assim como nas obras realistas, em que o foco era a crítica e denúncia das mazelas praticadas pela sociedade da época, The Great Gatsby também assume esse compromisso, mostrando que a literatura, além de possuir características estéticas, estilísticas e de entretenimento, pode sim, também, servir como instrumento engajado com contextos reais vividos pelo homem, mostrando que a arte não se resume a “arte pela arte”, mas que existe arte em retratar a realidade e que a realidade pode servir de inspiração para a arte.

REFERÊNCIAS FITZGERALD, Francis Scott. O grande Gatsby. Tradução de Breno Silveira; Abril Cultural, São Paulo, 1980. COSTA, Luíz Angélico da. O grande Gatsby e o sonho american. Disponível em: . Acesso em 05 de junho de 2013.