Bateson - Mente e Natureza: a Unidade Necessária

~ Gregory Bateson \ . 'tE/iTE ElY4TUImia passar urn mes comigo para trabalbar no manuscrito . Seu empregador do Ira,

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Gregory Bateson

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'tE/iTE ElY4TUImia passar urn mes comigo para trabalbar no manuscrito . Seu empregador do Ira, a Reza Shah Kabir Univemty, generosarnente deu-Ihe uma lieen9a profissional. Os primeiros cinco capitulos do Iivro devem muito Ii sua critica elucidativa e ao seu trabalbo simples e arduo. Agrade~o tarnbem a Stewart pela publica, informa~ao, tautologia, homologia, missa (newtoniana ou cristiI),' explica9iio, descri~o,-reJUa de dimeD.oes, tipo 16gico, metafora, topologia, e assim por diante. 0 Que sao borboletas? 0 que sao estrelas-domar? 0 que sao a beleza e a feiura? Pareceu-me que a descricao de algumas dessas ideias elementares poderia ser intitulada, com urn pouco de ironia, "Every Schoolboy Knows". Entretanto, aO trabalhar em Lindisfame ness~s dois manuscritos, adicionando algumas vezes alguma coisa a urn e algumas vezes ao outro, os dois gradualmente tornaram-se urn so, e 0 produto dessa jun9[0 foi o que penso ser urna visao plat6nica. 1 Pareceu-me que em "Schoolboy" eu estava assentando ideias muito elementares sobre epistemologio (ver Glossario), isto e, sobre como n6s podemos conhecer qualquer coisa. No pronome nos, inclul, naturalmente, a estrela-do-mar e as florestas de sequoias, 0 ovo segrnentado e 0 senado dos Estados Unidos. No "qualquer coisa" que essas criaturas conhecem diferentemente inclu! "como evoluir para uma simetria de cinco dir~Oes", "como sobreviver a urn incendio oa floresta," "como crescer e ainda manter a mesma fonna" , ' "como aprender", "como redigir urna constitui~lIo" , "como inventar e dirigir urn c~o", "como contar ate sete'\ e assirn por diante. Criaturas maravilhosas com conhecimentos e habilidades quase miraculosos. Acima de tudo, inclui "como evoluir", pois pareceu-me que tanto a evolu~lio como 0 aprendizado devem ..e ajustar as mesmas regularidades fonnais denominadas leis. Eu estava, como podem ver, come~an-

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A mais famosa descoberta de Platio diz respeito Ii "realidade" das ideias. Pensamos comumente que urn prato de jantar ¢ "real", mas que sua circularidade e "somente uma ideia". Entretanto P1atao observou, primeiro, que o prato nio reabnente circular, e, segundo, que podernos observar que contern urn grande numero de objetos que simulam. aproximam-5e ou procuram a "circularidade". Assim, ele afIrmou que a "circularidade" e ideal (0 adjetivo derivou de ideia) e que tais componentes ideais do universo mo a base explanat6ria real para suas formas e estrutura. Para ele, assim como para . William Blake e muitos outros. esse "Universo Ffsico" que nossos jornais consideram "real" foi uma especie de deriva\=io do real verdadeiro, isto e, das fonnas e das ideias. No corne~o existia a ideia.

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do a utilizar as ideias de "Schoolboy" para criticar Dao nosso proprio conhecimento, mas aquele conhecimento rnais amplo que e a cola que mantem juntos as estrelas-do-mar e as anemonas-do-mar e as flores~ de sequ6ias e os comites humanos. ---=9 Meus dais manuscritos estavam se transformando em urn Unico Uvro .PQ!:,j-'" No Capitulo 2, "Every Schoolboy Knows", reunirei para 0 leitor alguns exemplos do que encaro como pequenas verdades nece~rias necessarias em primeiro lugar para que 0 estudante possa urn dia apren· der a pensar e, ern segundo lugar. porque, como acredito, 0 mundo bio16gico esta encaixado nessas simples proposi,oes. No Capftulo 3 operarei da mesma maneira, mas trarei para 0 lei· tor alguns casos nos quais duas ou mais fon tes de informa~ao se unem para fomecer informa,ao de urn tipo diferente do que estava em cada fon te separadamen teo Nao existe no momento uma ciencia cuja interesse central seja a combinayao de fragmentos de inforrna,ao. Demonstrarei, entre tanto, que 0 processo evoluciomirio deve depender de tais incrementos duplos de informayao. Cad a degrau evolucionario e uma adi~ao de informa,ao a urn sistema ja existente. Devido a isso, as combinayOes, harmonias e discordancias entre partes sucessivas e camadas de informa,ao apresen· tarilo muitos problemas de sobrevivencia e determinarao muitas dire· yOes de mudanya. o Capitulo 4, "Criterios de Sistemas Mentais", tratara das ca· racteristicas que de fato pare cern ter sido sempre combinadas na nossa biosfera terrestre na elabora~ao da mente. 0 restante do livro focalizara mais estreitamente problemas da evoluyao biol6gica. Do principio ao fun, a tese sera de que e possivel e vale a pena pensar sobre muitos problemas de ordem e desordem no unive"o bio· 16gico e que temos hoje urn suprimento consideravel de instrumentos de pensamento que nao sao utilizados, parcialmente porque - no que diz respeito tanto a professores como alunos - ignoramos muito conhecimento elisponivel, e parcialmente porque nao queremos aceitar as neces· sidades que decorrem de uma visao clara dos dilemas human os.

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I~

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EVERY SCHOOLBOY KNOWS ...

A moioria fo; mal orientada pela educa¢o; A,uim acredifam porque oS6im faram criadol. o padre continua 0 que a ama·,feco co m e~o u. E o$sim a criJnfO. il'}1plle-,e ao'-homem. - JOHN DRYDEN, The Hind and the Panther

A ciencia, como a arte, a religi[o, 0 comercio, a guerra e mesmo o sono, e baseada em pressuposifoes. Ela difere, entretanto, da ma;oria dos outros ramos d. atividade humana no sentido de que nlo s6 os ca· minhos do pensamento cientifico slIo determinados pelas pressuposi· I'oes dos cientistas, como tambem suas metas slIo a verifical'lo e a revislIo dos antigos pressupostos e a crial'ao de novos. Nessa ultima atividade e c1aramente desejavel (embora nao absolutamente necessario) que 0 cientista conhel'al conscientemente e seja capaz de formular suas proprias pressuposil'Oes. E tambem conveniente e necessario para a elaboral'ao do julgamento cient{fico 0 conhecimento dos pressupostos dos colegas que trabalham no mesmo campo. Acima de tudo, e necessario que 0 leitor da materia cientifica conhel'a as pressuposil'lles do autor. Lecionei varios ramos da biologia do comportamento e antropologia cultural a estudantes americanos, desde calouros a residentes em psiquiatria, em varias escolas e hospitais de treinamento, e encontrei uma lacuna muito estranha em .suas maneilas de pensar, que provem de uma falta de determinados instrumentos para a elaboral'ao do pensamento. Essa deficiencia e quase igualmente distribuida em todos os niveis educacionais, entre estudantes de ambos os sexos, entre hurnanistas e cientistas. Especificamente, isso e urna falta de conhecimento das pressuposil'Oes tanto da ciencia como tambem da vida do di a a·dia. Estranhamente, essa lacuna e menos vis!vel em dois grupos de 31

estudantes que deveriam nonnalmente contrastar violentamente entre si: os Cat6liros e os Marxistas. Ambos os grupos pensaram ou aprenderam urn pouco sobre os Ultimos 2.500 anos do pensamento humano, e ambos os grupos reconhecem de certa maneira a importancia das pressuposi.

se as palmeiras fossem bem baixas, as girafas teriam problemas (embarrassees}."

... se as girafas tivessem pesco,os cunos, elas teriam proble· mas ainda majores. ..

Extraida de urn desenha sem data de Caran d'Ache (18581909). 162

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A flexibilidade e a sobrevivencia serao favorecidas por qualquer altera9ao que teilla a propensao de manter as varhiveis flutuando no meio de Suas amplitudes. Qualquer ajuste somatico extremo, porem, presssionara uma ou mais variaveis para valores extremos. Conseqiientemente, existe sempre urna tensao disponivel a ser atenuada pela alter'9ao genetica, desde que a expressao fenotipica da mudan9a nao signifique urn aumento maior da tensao ja existente. 0 que e solicitado e uma altera9ao genetica que altere os niveis de tolenincia para valo-

res rnais altos elou rnais baixos da vawel. 80, por exemplo, antes da altera9ilo genetica (atraves de muta9ao mais provavelmente, atraves do reembaralhamento dos genes), a tlerancia de urna varhivel dada estivesse dentro dos limites de 5 a 7, uma altera~ao genetica que mudasse os limites para novas valores, 7 a 9, teria urn valor de sobreviv€ncia para uma criatura cujo ajustamento somatico estivesse se esfor9ando para manter a variavel dentro do antigo limite superior de 7. Alem disso, se 0 ajustamento somatico alterasse 0 novo valor para 9, haveria urn incremento adicional disponivel de sobrevivencia • ser obtido par urn. posterior altera9ao genetic:i que permitiria ou pressionaria os niveis de tolerancia para cima na mesma escala. No passado, era dificil considerar a mudan9a evolucionaria relacion.da com 0 desuso. Era facil imaginar que urna a1tera9ao genetica que ocorresse na mesma direy[o que os efeitos do h entre a mente e os assuntos de sua compu ta,ao. 0 processo de ' codific39ao ou representa,ao que substitui a ideia de porcos ou cocos pelas coisas ja e urn passo, mesmo urn vasto pulo, na representa,a:o logica. 0 nome nlio e a coisa denominada, e a ideia de porco nlio e 0 porco. Mesmo se pensannos em sistemas de circuitos maiores que se estendam alem dos limites da pele e chamarmos esses sistemas de menie, incluindo dentro da mente 0 homem, seu machado, a Orvore que ele 195

esta abatendo, e 0 corte no lado da arvore/ meSIllO se tudo isso for visto como urn unico · sistema de circuitos que correspondam ao criterio de menie oferecido no Capitulo 4; mesmo assim, nao ha more, nem homem, nem machado na mente. Todos esses "objetos" sao somente represenlados na mente maior sob a forma de imagens e informal'oes deles mesmos. Podemos dizer que eles se propoem a si mesmos ou que prop5em suas proprias caracteristicas. Em qualquer caso, parece-me ser profundamenle verdadeiro que alguma coisa como a relal'ao que sugeri entre a tautologia e os assuntos a serem explicados pre domina no decorrer de lodo 0 campo de nossa investigal'iio. 0 primeiro passo que parle de porcos e cocos para 0 mundo de versiles codificadas mergulha 0 pensador num universo abslralo, e, acredilo, laulologico. Esla muilo bern defmir a explical'iio como "colocando a taulologia e a descril'iio lado a lado" . Isso e somenle 0 come1'0 do assunlo e reslringiria a explicayao aespecie humana. Cerlamenle os cachorros e gatos, poderiamos dizer, aceitam as coisas como sao, sem todo esse raciocinio; mas nao e assim. 0 impulso do meu argumento ¢ que 0 proprio processo de percepyao e um alo de represental"o logica. Cada imagem e.wn complexo de codificay5es e demarcay5es de varios iiiveis. Certarnente os cachorros e gatos tern suas imagens visuais. Quando olham para voce, seguramenle eles veem "voce". Quando uma pulga morde. 0 cach~rro com certeza tern uma irnagem de wna "comichao", localizada "ali". Ainda falta, naturalmenle, aplicar eSSa generalizayao ao campo da evolul"o biologica. Antes de tenlar essa larefa, enlretanlo, e necessario expandir as ideias sobre 0 relacionamento entre a fonna e 0 processo, tratando a nOl'iio de fonna como an:iloga ao que tem sido chamado de tautologia e,processo como an:ilogo ao agregado de fenomenos a serem explicados. A forma eslii para 0 processo assim como a laulologia eSI. para a descril'ao. Esta dicolomia, que prevalece em nossas proprias mentes cientifi. cas quando olhamos para "fora" em urn mundo de fenomenos. e caracterislica lamoom das relal'Oes entre os proprios fenomenos que procura'mos analisar. A dicotomia existe em am bos os lados da cerca enlre nos e nossos objetos de exposil'ao. As coisas em si proprias (0 Dinge an sich), que sao inacessiveis a invesliga,ao direta, lem relal'0es entre elas que sao comparaveis aquelas rela,oes que prevalecem entre elas enos.

Elas, tambem (mesmo as que eSlao vivas), podem nao ler experiencia mutua direta - urn assunto de significado rnuito grande e urn primeiro postulado necessario para qualquer entendimenlo do mundo vivo. 0 que e crucial e a pressuposi,~o de que as ideias (num senlido basfanfe amplo da palavra) tem um poder de conviCY30 e reiiIfdade. Elas sao 0 que podemos sabev. e nao podemos saber mais nada. As regularidades au "leis" que unetn as idtHas - eis os "fatos". Isso e 0 mais proximo que podemos chegar da verdade final. Como um primeiro passo na direl'ao de tomar essa lese inleligivel, descreverei 0 processo de minha propria an:ilise de uma cultura da Nova Guine.' o trabalho que elaborei no campo foi moldado num grau elevado pela chegada na Nova Guine de um manuscrito de Ruth Benedict denominado Patterns of Culture e pela colabora9~0 no campo com Margaret Mead e Reo Fortune. As conclus5es leoricas de Margaret sobre seu Irabalho de campo foram publicadas como Sex and Temperament in Three Primitive Societies. 3 0 leitar que estiver interessada em examinar a hist6ria das ideias teoricas com maiores detalhes devera estudar 0 meu Noven, 0 Sex and Temperament de Mead, e, naluralmente, 0 rudimen4 tar Patterns. of Culture de Benedict. Benedici tentou construir uma tipologia de culturas utilizando termos como Apolbnieo, Dionisico. e paranoide. Em Sex and Temperament e em Naven, a enfase e desviada da caracteriza