Salmos - Introdução (66 Pg) Artur Weiser

ARTUR WEISER PAULUS - 1994 SÃO PAULO INTRODUÇÃO Dentre os livros do Antigo Testamento o Saltério foi aquele a que a c

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ARTUR WEISER PAULUS - 1994 SÃO PAULO

INTRODUÇÃO

Dentre os livros do Antigo Testamento o Saltério foi aquele a que a comunidade cristã teve acesso mais direto e pessoal. Em todos os tempos a hinologia cristã se inspirou na fonte inesgotável dos salmos, especialmente na época da Reforma. Assim seus ecos e pensamentos continuam vivos na comunidade cristã ao lado do uso litúrgico dos próprios salmos e partes deles no culto divino. Desde os primeiros tempos do cristianismo (cf., por exemplo, l Cor 14,15.26; Ef 5,19) e até hoje o culto sempre procurou despertar e manter uma relação particularmente íntima da comunidade litúrgica com os salmos. Mas a importância do Saltério não se limita ao seu uso litúrgico. Embora de maneira menos tangível, mas com efeito não menos duradouro e profundo, o livro dos salmos contribui para a edificação pessoal, como base da devoção familiar, como livro de consolação e oração, como guia para Deus nas horas de alegria e de tristeza. Não se pode imaginar e dificilmente superestimar a força irradiada pêlos salmos e a sua influência na história da piedade pessoal. Em lugar das vozes de inúmeros desconhecidos, citemos o juízo de Lutero nas palavras do seu segundo prólogo ao Saltério alemão (l 528); "Ali podes contemplar o coração de todos os santos, como belo e delicioso jardim, ou antes como o céu, e ver como nele brotam delicadas, encantadoras e deliciosas flores de toda sorte de belos e felizes pensamentos sobre Deus e suas obras de bondade. Onde encontrarás palavras mais profundas, mais sofridas, mais cheias de tristeza que as lamentações dos salmos? Aqui mais uma vez penetras no coração de todos os santos como na morte, ou antes como no inferno, e vês como tudo é tenebroso e escuro diante da visão da ira de Deus. Também quando falam de temor ou de esperança usam de tais palavras como nenhum pintor que representa o temor e a esperança e nenhum Cícero ou outro orador foi capaz. E o melhor de tudo é que falam tais palavras sobre Deus e com Deus... Esta é também a razão por que o Saltério é o livrinho de todos os santos. Qualquer que seja sua situação, cada qual encontra nele salmos e palavras que se aplicam à sua condição e lhe são tão apropriadas como se fossem escritas somente para ele, de tal modo que nem ele próprio seria capaz de encontrar e desejar outras palavras melhores... Em resumo: se quiseres ver a santa Igreja cristã pintada em cores vivas e emoldurada num pequeno quadro, toma o Saltério e terás um espelho límpido, claro e puro que te mostra o que é o cristianismo; nele encontrarás também a ti mesmo e o verdadeiro 'gnothi seauton' (conhece-te a ti mesmo) e além disso, o próprio Deus e todas as criaturas". 10

I. TÍTULO A designação "Salmos" provém do Novo Testamento (Lc 20,42; 24,44; At 1,20; 13,33) e remonta à versão grega do Antigo Testamento (Septuaginta), que foi feita a partir do século III a.C. na diáspora judaica de Alexandria. No Codex Vaticanus da Septuaginta o título do Saltério é psalmoi e o subtítulo biblos psalmon, enquanto o Codex Alexandrinus traz psaltérion (um instrumento de cordas). Como título de uma coleção de cânticos, podemos entender a palavra em sentido semelhante ao da "Lira e Espada" de Kõrner ou do "Saltério e Harpa" de Spitta. O termo psaimós provavelmente provém do hebraico mizmôr, que aparece como título individual de 57 salmos e provavelmente significa um cântico (para instrumento de cordas). Na Bíblia Hebraica o livro dos Salmos originalmente não trazia um título geral. A comunidade judaica chamava os salmos de fhillim = hinos. Esta estranha forma masculina, também atestada por Orígenes, Jerônimo e outros Padres da Igreja, talvez indique o livro de cânticos como um todo, enquanto a forma feminina usual (no singular) Vhillâ se encontra como título individual do SI 145 e na Massora judaica. O termo fphillot = orações parece ter sido usado num estágio anterior da coleção dos Salmos (SI 72,20). Nenhuma das duas palavras abrange todos os tipos de cânticos reunidos no Saltério e certamente foram dadas a parte potiori. O uso lingüístico limita-se ao cântico religioso mais usado no culto. II. DIVISÃO O livro dos Salmos está longe de incluir todos os salmos. Tanto no próprio Antigo Testamento como fora dele existe uma série de salmos que não foram incluídos no Saltério, por exemplo Ex 15,1-18; 1Sm 2,1-10; Is 38,1020; Jn 2,3-10; os hodayot de Qumrã e os chamados Salmos de Salomão da época de Pompeu. O livro dos Salmos do Antigo Testamento inclui 150 salmos. O Salmo 151, que se encontra em alguns manuscritos da Septuaginta e na versão siríaca, não faz parte da coleção. Alguns cânticos foram reunidos num único salmo, por exemplo SI 19 e SI 27; inversamente, às vezes um salmo é dividido em dois, por exemplo, SI 9 e 10; 42 e 43. Na Septuaginta os salmos 9 e 10 bem como 114 e 115 são reunidos num único salmo, enquanto SI 116 e SI 147 são divididos em dois salmos, de tal modo que sua numeração de SI 9,22 até 146,11 não corresponde à do texto hebraico. Certamente por analogia com a Torah, os 150 salmos são divididos em 5 livros, cada qual com uma doxologia litúrgica no fim. No último livro, todo o salmo 150 tem a função de doxologia final. O livro I compreende SI 1-41; o II, SI 42-72; o III, SI 73-89; o IV, 90-106; o V, SI 107-150. 11

III. O USO DOS SALMOS O Saltério foi chamado de "livro de cânticos da comunidade judaica". Há uma certa razão para isso, pois no próprio Saltério encontram-se diversas indicações referentes ao uso litúrgico dos salmos no culto do templo e especialmente da sinagoga no judaísmo tardio. Os títulos de alguns salmos mencionam as ocasiões para as quais o respectivo cântico servia: SI 30 para a dedicação do templo, SI 100 para o sacrifício de ação de graças, SI 92 para o sábado; segundo a Septuaginta SI 24 para o domingo; SI 48 para a Segundafeira; SI 94 para a quarta-feira; SI 93 para a sexta-feira; segundo a antiga tradução latina e a versão armênia SI 81 para a quinta-feira. Estes salmos eram cantados no holocausto matutino regular (tamíd) e por isso se chamam salmos do tamíd. O Taimud, que também prevê o SI 82 para a terça-feira, conhece o uso litúrgico de fazer preceder a oração por alguns versos hínicos de salmos, bem como o costume, registrado no Novo Testamento (Mt 26,30), de recitar os salmos do hallel (l 13 a 118) na Páscoa e outras grandes festas. De acordo com o livro de orações da sinagoga, no sábado, em dias de festa e dias de semana a comunidade reza determinados salmos. Além disso, há vestígios do uso cúltico dos salmos nos subtítulos litúrgicos que foram acrescentados a diversos cânticos. Entre esses inclui-se o responsório hínico Halleluia que aparece nos assim chamados salmos de aleluia, isto é 105; 106; 111-113; 115; 117; 135; 146-149; 150, certamente como indicação do seu uso litúrgico'. Na mesma direção apontam as observações musicais, que igualmente são acréscimos posteriores, e estão relacionadas com a execução musical dos salmos no culto. É o caso da expressão lamm