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A REVOLUÇÃO CONSERVADORA 0

Indice Aspectos e figuras da Revolução Conservadora alemã (1918-1932) Algumas figuras Especificidade da KR Un Amor fati nietzscheano As três grandes tendências da KR A Revolução Conservadora e seu legado Os visionários de um novo Reich Arthur Moeller van den Bruck Edgar Julius Jung Oswald Spengler Ludwig Klages Spann e o Estado Unificado Hans Zehrer Werner Sombart Ernst Jünger Ernst Niekisch Carl Schmitt Karl Haushofer As influências da revolução conservadora Sobre a Revolução Conservadora

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Introdução

O movimento revolucionário conservador foi um movimento conservador nacionalista alemão, proeminente nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial. A escola conservadora do pensamento revolucionário defendeu um novo conservadorismo e nacionalismo que fosse especificamente alemão, ou prussiano em particular. Como outros movimentos conservadores no mesmo período, eles procuraram pôr fim à maré crescente do liberalismo e do comunismo. Os revolucionários conservadores basearam suas idéias em pensamento orgânico e não materialista, em qualidade em vez de quantidade, e em Volksgemeinschaft (comunidade popular) em vez de conflito de classe e "domínio da máfia". Esses escritores produziram uma profusão de literatura nacionalista radical que consistiu em diários de guerra, combate a obras de ficção, jornalismo político, manifestos e tratados filosóficos, descrevendo suas idéias para a transformação da vida cultural e política alemã. Indignados pelo liberalismo e igualitarismo, e rejeitando a cultura comercial da civilização industrial e urbana, defendiam a destruição da ordem liberal, por meios revolucionários, se necessário, para abrir caminho para o estabelecimento de uma nova ordem, baseada em princípios conservadores. O movimento teve uma grande influência entre muitos dos jovens, universidades e classes médias mais talentosos da Alemanha.

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Aspectos e figuras da Revolução Conservadora alemã (1918-1932)

Na esteira de pais espirituais como Friedrich Nietzsche, o movimente revolucionário-conservador desenvolveu-se, na aurora do século XX, como uma oposição radical aos sistemas ideológicos nascidos das “Luzes”, da Revolução Francesa e do triunfo progressivo dos “valores” burgueses. A sua expressão alemã constitui-se no ponto principal e é melhor conhecido desde o trabalho monumental do historiador das ideias Armin Mohler. Resultante de um sentimento de crise face à civilização capitalista moderna, esta corrente de ideias complexas esforçou-se por ultrapassar aquela através de um novo modelo de sociedade civil e política. Malgrado a sua especificidade alemã, a Konservative Revolution (KR) junta-se a outras tentativas na Europa de responder ao desgaste causados pelo progresso destruidor de valores e das estruturas tradicionais.

Desejando conciliar libertação nacional e revolução social numa óptica identitária de «Terceira via», nem de direita nem de esquerda, os representantes da KR formam a terceira família de opositores à República de Weimar depois dos comunistas e dos nacional-socialistas. Geralmente hostil ao «jacobinismo castanho» destes últimos, considerando-os como plebeus, totalitários e massificadores, os autores da KR repartem-se, segundo Mohler, em três grandes famílias: os jovens-conservadores, os nacional-revolucionários e os volkischen aos quais se juntam duas cristalizações passageiras: nomeadamente as tendências relativas às Ligas de Juventude (Bündische Jugend), herdeiras dos velhos Wandervögel, e o Landvolkbewegung (revolta camponesa do Schleswig-Holstein).

Algumas figuras Entre as figuras mais conhecidas, encontramos Arthur Moeller van den Bruck, Oswald Spengler e Carl Schmitt nos jovens-conservadores; os irmãos Jünger, Ernst von Salomon e o nacionalbolchevique Ernst Niekisch na família nacional-revolucionária; Herman Wirth, Ludwig Ferdinand Clauss e Hans F.K. Gunther entre os volkischen.

Para o escritor berlinense Arthur Moeller van den Bruck, reunindo as suas forças vivas o povo seria capaz de por si só inverter o processo de divisão inerente ao grande capital. O seu Das Dritte Reich (que deveria intitular-se no início O Terceiro Partido) publicado em 1922 queria-se por um lado “revolucionário”, “socialista”, “proletário” – de acordo com o “direito dos povos jovens”. Ele afirma que ser conservador, é criar os valores que merecem ser conservados e pretende que o seu socialismo nacional seja capaz de recriar uma comunidade destruída pela sociedade moderna. A 3

dialéctica entre esses dois termos, retomando a antítese cultura/civilização, tem um aspecto formal (“Devemos ter a força de viver nas contradições” disse ele), mas trata-se, antes de tudo, de acabar com Weimar em nome de valores superiores. Para ele a nação havia tomado o lugar do proletariado como sujeito-objecto da história (versão marxista), havia se tornado a última razão (versão liberal), uma ideologia heróica capaz de aristocratizar as massas, uma terceira frente, entre o liberalismo humanista (unido pelo conservadorismo modernizado e liberalizado e por uma social-democracia revisionista) e o socialismo marxista que combate a exploração capitalista mas permanece animado pelo mesmo projecto de igualdade abstracta.

Oswald Spengler, frequentemente apresentado – e um pouco rapidamente – como um profeta do declínio, surge como outro grande pensador da KR. Ele não possuía segundo ele próprio sentido geral da história, a humanidade não sendo senão uma entidade abstracta, sendo as únicas unidades históricas reais as culturas que um método de morfologia histórica permite identificar e estudar. A história universal não é mais do que a biografia comparada das culturas movidas por uma necessidade imanente que é o seu “destino”. Em oposição ao seu método interpretativo, o tema da cultura ocidental e do seu declínio (a fase do declínio corresponde, no vocabulário de Spengler, à civilização) tem uma tonalidade trágica. Defendendo uma concepção orgânica das civilizações, para ele só a Alemanha – como Roma que absorveu e continuou a herança grega – pode assegurar a sobrevivência do Ocidente, declinação de um tema forte do romantismo. O Imperium Germanicum impor-se-á se conseguir reconciliar os diversos grupos sociais (Socialismo e Prussianismo, 1920): a ideia de luta das classes é assim rejeitada, bem como a dos partidos que não servem senão os seus próprios interesses; os que acicatam os antagonismos são incapazes dessa grandeza necessária para reunir os alemães.

À constelação KR, pertencem também os irmãos Jünger, sem compromisso com as elites e em que Ernst dá conta de que a modernização técnica conduz a uma ordem planetária que torna de uma certa maneira o seu nacionalismo obsoleto, o jurista católico Carl Schmitt, que coloca em equação a política e o Estado, dando à primeira a prioridade e fazendo do segundo a imagem fútil de uma acção efémera da história, um instante destinado a desaparecer (em contrapartida a política é, por oposição natural a todas as contingências, a própria substância, que se manifesta numa relação, ao mesmo tempo natural e específica, entre os homens: nomeadamente a amizade e a inimizade. O princípio político e a acção manifestam-se nesta relação. As diversas formas de poder em que as lutas sociais e económicas manifestam a violência contida nas sociedades), ou o antigo líder social-democrata Ernst Niekisch que retém da Rússia estalinista uma forma particularmente eficaz de socialismo nacional. A amplitude da actividade estendida por estes neo-conservadores mostra bem que esta corrente é proteiforme: mais de 500 publicações, perto de 400 “organizações”, desde as formações paramilitares às ligas, passando por múltiplos círculos culturais.

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Especificidade da KR Esta vontade de destino presente na KR deve sobretudo o seu impulso ao choque da I Guerra Mundial, verdadeiro traumatismo que marca verdadeiramente a mudança de século. Enquanto que a velha direita monárquica vê a derrota como o resultado de uma conspiração das esquerdas derrotistas, aqueles a que vamos chamar revolucionários-conservadores consideram-na não como um azar mas como uma necessidade da qual convém decifrar o sentido: “Tínhamos de perder a guerra para ganhar a Nação” dirá Franz Schauwecker, figura do movimento nacionalrevolucionário; uma vitória da Alemanha guilhermina, burguesa e esclerótica, teria sido uma derrocada da “Alemanha secreta”. Essa prova (espécie de Krisis entre a vida e a morte) pode e deve, por conseguinte, permitir à Alemanha ultrapassar o guilhermismo, recomeçando sobre novas bases. Estas últimas são simples, apresentando por isso mesmo uma coerência ideológica da KR:

- Hostilidade à Europa ocidental e à “civilização”, entendida como quinta-essência da razão pura, das Luzes, da efeminação dos costumes, da decomposição dos valores, do espírito burguês e da arte clássica. A isto os conservadores-revolucionários vão ôpor a “cultura”, ou seja a subjectividade expressa pelas artes e em especial o romantismo, expressão da procura do infinito. À “massa”, opõem o “povo”.

- Interesse pelo leste de acordo com um certo espírito prussiano e pela análise de que os povos alemães e russos têm interesses comuns face ao Ocidente. Daqui deriva uma certa benevolência em relação à Rússia bolchevique, levada ao extremo pela corrente nacional-bolchevique.

- Vontade de transformar a experiência da guerra em origem de um mundo novo de acordo com uma orientação nietzscheana. De facto, numerosos serão aqueles que se recusarão a adaptar-se à vida civil e à normalização individual burguesa.

- Concepção cíclica ou “esférica” do tempo, o que explica o uso do termo “revolucionário” no seu primeiro sentido. Para este movimento político e intelectual, trata-se de fechar um ciclo para abrir um novo. Mas mais do que ter uma concepção redonda mas linear do tempo – que é o círculo – encarando este último como uma esfera onde qualquer futuro é possível por pouca que seja a vontade humana. Em todos os casos, opõe-se de maneira virulenta à concepção linear e limitada do tempo cristão ou marxista, globalmente similares.

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Se a KR encarna a luta contra a ideologia dominante da época de Weimar (preconizando uma democracia “formal”, defensora do liberalismo burguês), ela não pode, contudo, ser reduzida a uma antecipação do nacional-socialismo. Por um lado, as ideias da KR encontram-se, sob formas especificamente nacionais, em todos os países da Europa desde a segunda metade do século XIX. Por outro lado, este formidável “laboratório de ideias” portador de um projecto de civilização (uma germanidade renovada) que é a KR verá parte dos seus temas adoptados pelo Estadopartido, sobretudo para melhor asfixiar o seu potencial subversivo. Tendo em conta o niilismo europeu (descristianização a partir do século XVIII, seguido pela atomização social aquando da segunda Revolução Industrial, são, de resto, mais os sintomas que causas desta lógica niilista), a tensão constitutiva da KR como “modernismo anti-modernista” não pode ser reduzida a uma “linguagem totalitária”. Visando um Estado autoritário que teria voltado a dar à Alemanha o seu estatuto de grande potência, a KR rendeu o lugar ao Estado totalitário que esta tinha, sem dúvida, a intenção de impedir.

Historicamente, é reconhecido hoje que os meios da oposição real (ou potencial) ao hitlerismo levaram a marca da KR, mostrando, por conseguinte, uma autonomia em relação aos movimentos de massificação da época. Renegada por um conservadorismo que a encarava como demasiado liberal ou por um socialismo proletário que a considerava demasiado revisionista ou materialista, a KR adopta, no entanto, uma atitude voluntariosa perante a evolução do mundo moderno: visa tanto a “grande noite” como o “grande momento decisivo”. Os promotores da KR são assim, à sua maneira, revolucionários, mas permanecem conservadores na sua preocupação de salvaguardar ou reencontrar os valores essenciais do seu país. Não querem ser simples reaccionários que se agarram a um passado já terminado, a revolução deve ter por objectivo a restauração de valores que merecem ser conservados e que o curso do tempo põe em perigo.

Contrariamente ao conservadorismo tradicional e às suas nostalgias passadistas, a KR aprova resolutamente a modernidade instrumental, rejeitando ao mesmo tempo e de igual forma resoluta as Grandes Receitas emancipadoras da modernidade substancial. A KR é eminentemente moderna dado que traduz o desencanto face à modernidade e tende a substituir as religiões secularizadas por religiosidades novas, nacionais ou seculares (cristianismo nacional, misticismos pagãos, religiões políticas); é eminentemente modernista dado que aprova aquilo que Jaspers nomeia como “a ordem técnica de massa”, modernidade técnica e social, vector de uma mobilização total (daí as diversas triturações de socialismo nacional). Mas permanece antimodernista na medida em que rejeita sem concessão o projecto normativo da modernidade procedente do Aufklärung e prosseguida tanto pelo liberalismo (apesar da sua traição no e pelo capitalismo) como pelo marxismo (apesar da traição estalinista). Se a revolução se duplica aqui indissociavelmente e simultaneamente da sua contra-revolução, e que traduz correctamente o sintagma paradoxal de “revolução conservadora” avançado por Mohler, conclui-se que para alterar a modernidade não se pode fazê-lo senão assumindo-a plenamente. 6

Un Amor fati nietzscheano A particularidade da KR está naquilo que a levou a aprovar, ou mesmo a glorificar, o mundo como a modernização o fez e de ter proposto um impulso para uma espécie de hiper-modernidade desembaraçada dos discursos humanitários que nivelam a diversidade do real. Com o retrocesso, a sua vontade de superar o niilismo insuflando a energia originária extraída do povo alemão constituiu não tanto uma fuga para a frente mas antes uma aposta lúcida sobre o futuro, aposta carregada de gravidade mas também de força de alma.

“Fenómeno político que envolve toda a Europa e que ainda não atingiu o fim do seu curso” (Armin Mohler), a Revolução Conservadora alemã, que teve um impacto evidente nos movimentos nacionalistas-revolucionários dos anos 1970, permanece um universo ainda mal conhecido hoje. No limiar de um terceiro milénio carregado de perigos e de possibilidades, merece ser redescoberta pelas novas gerações de europeus que poderão extrair do seu realismo heróico uma lição de coragem, distante dos cobardes receios ou dos discursos de oposição formal que deixam no final o indivíduo desmobilizado, mas também explorado. Goethe recordava que por natureza a acção é início. Ela não se escreve sob o ditado das circunstâncias: empresta-lhes a sua matéria, insufla-lhes o seu espírito. Como o pensamento, a acção não é colectiva: associa, une ou opõe os indivíduos. Se os mistura, não os confunde. Como em todas as realidades enigmáticas e fundadoras, atributos contrários são a ela atribuídos: a acção é ao mesmo tempo o vazio e o cheio, o nada e o cumprimento, a ausência e a realização, o fugitivo e o essencial. Da sua opacidade criadora, dos seus desafios intermitentes e imperiosos, os homens escolhem à sua vontade a sua degradação ou a sua elevação.

As três grandes tendências da KR No seio deste movimento bastante polimorfo, podemos distinguir três grandes tendências: os nacional-revolucionários, os jovens-conservadores e os völkisch. Elas tinham em comum a rejeição violenta da República de Weimar que perpetuava sob ornatos republicanos o estilo de vida burguês, tornando os seus anos iniciais difíceis através dos sobressaltos provocados em grande parte por aqueles que regressavam das trincheiras e que consideravam a situação inaceitável. Contudo, estas três tendências divergem igualmente no estilo e na táctica, bem como na visão da futura Alemanha “regenerada”. Apesar de tudo reencontra-se uma mesma rejeição do Aufklärung. Note-se, porém, que a nação ou o Estado preocupam muito menos os völkisch que o povo, o qual tem de reencontrar o sentido da terra, ou seja da vida… Os völkisch recorrem a um recrutamento mais popular, ainda que esta “prática plebeia” (L. Dupeux) não significasse a adesão ao princípio democrático. Se eram animados por uma ética racialista, não se pode, todavia, reduzir esta a um racismo biológico ou a um fanatismo pangermanista.

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Descodifiquemos então essas três tendências:

1) A tendência völkisch é a mais voltada para o passado dado que quer defender o “povo”, entendido como identidade étnica e espiritual. Sem estar a pretender retornar a uma época ultrapassada – a origem indo-europeia – ela quer acima de tudo servir de ponte. Esta corrente exprimiu-se por orientações racialistas, um regresso a uma espiritualidade ocultista ou pagã, uma preocupação pela ecologia e pela conservação da vida no campo. É sem dúvida a tendência menos “política”, no sentido que se dá a este termo.

2) A corrente jovem-conservadora de facto difere totalmente deste projecto querendo claramente agir politicamente sobre o presente, afirmando-se de direita. Coloca-se na linha do conservadorismo alemão que pretende regenerar de acordo com a fórmula do teórico Albrecht Eric Günther: “entendemos por princípio conservador não a defesa do que existia ontem, mas uma vida fundada sobre o que terá sempre valor”. Violentamente hostil ao liberalismo, a corrente jovem-conservadora adopta uma terceira via económica entre a economia de mercado e a economia colectivista planificada, a qual se apoia largamente nas “corporações” (ainda que este termo seja inoportuno). Politicamente, os jovem-conservadores são assombrados pela memória do Santo Império germânico e o seu federalismo imperial que eles desejavam estender à Europa.

3) Por fim, a última tendência é a corrente nacional-revolucionária. Activista e anti-burguesa, identifica-se com o mundo urbano e industrial, distante da mística völkisch. Se a noção política central do movimento völkisch é o “povo” e a dos jovens-conservadores “o império”, os nacionalrevolucionários colocam a “nação” como eixo de análise. Encarnado por Ernst Jünger, o movimento tem uma ala esquerda bem conhecida: o nacional-bolchevismo, animado designadamente por Ernst Niekisch. É da corrente nacional-revolucionária que provirão a maior parte das tentativas de desestabilização da República de Weimar nos anos 1920: assassinatos políticos (os ministros Erzberger e Rathenau), tentativas de putsch…

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A Revolução Conservadora e seu legado Por Lucian Tudor

Durante os anos entre a Primeira Guerra Mundial e o estabelecimento do Terceiro Reich, as crises políticas, econômicas e sociais que a Alemanha experimentou de repente como resultado de sua derrota na Primeira Guerra Mundial deram origem a um movimento conhecido como "Revolução Conservadora" que também é comumente referido como "Movimento Revolucionário Conservador", com seus membros às vezes chamados de "Conservadores Revolucionários" ou até "Neoconservadores".

A frase "Revolução Conservadora" foi popularizada como resultado de um discurso em 1927 pelo famoso poeta Hugo von Hofmannsthal, que era um católico conservador cultural e monarquista [1]. Aqui, Hofmannsthal declarou: "O processo do qual falo é nada menos que uma revolução conservadora a uma escala tal como a história da Europa nunca conheceu. Seu objeto é a forma, uma nova realidade alemã, na qual toda a nação irá compartilhar". [2]

Embora essas frases dêem a impressão de que a Revolução Conservadora foi composta por pessoas que compartilhavam a mesma visão de mundo, isso não foi o caso porque os pensadores e líderes da Revolução Conservadora geralmente tinham desentendimentos. Além disso, apesar do fato de que as ideias filosóficas produzidas por este "novo conservadorismo" influenciaram o nacional-socialismo alemão e também tinham vínculos com o fascismo, é incorreto assumir que as pessoas que o pertencem são fascistas ou "proto-nazistas". Embora alguns conservadores revolucionários elogiaram o fascismo italiano e alguns, eventualmente, aderiram ao movimento Nacional Socialista (embora muitos não), em geral suas visões de mundo eram distintas desses dois grupos políticos.

É difícil resumir adequadamente os pontos de vista dos conservadores revolucionários, devido ao fato de que muitos deles tinham pontos de vista que contrastavam com certos pontos de vista de outros no mesmo movimento. O que eles geralmente tinham em comum era a consciência da importância de Volk (este termo pode ser traduzido como "povo", "nação", "etnia" ou "pessoa") e a cultura, a ideia de Volksgemeinschaft ("comunidade do povo"), e uma rejeição do marxismo, do liberalismo e da democracia (particularmente a democracia parlamentar). Ideias que também eram comuns entre eles era uma rejeição do conceito linear de história a favor do conceito cíclico, uma forma conservadora e não marxista de socialismo e o estabelecimento de uma elite autoritária. [3]

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Em suma, o movimento era feito de alemães que tinham tendências conservadoras de algum tipo, mas que estavam desapontados com o estado em que a Alemanha foi colocada pela perda da Primeira Guerra Mundial e procurou avançar ideias de natureza conservadora e revolucionária.

A fim de obter uma ideia adequada sobre a natureza da Revolução Conservadora e sua visão, é melhor examinar os principais intelectuais e seus pensamentos. As seções a seguir fornecerão uma breve visão geral dos mais importantes intelectuais conservadores revolucionários e suas principais contribuições filosóficas.

Os visionários de um novo Reich Os alemães mais notáveis que tiveram uma visão otimista do estabelecimento de um "Terceiro Reich" foram Stefan George, Arthur Moeller van den Bruck e Edgar Julius Jung. Stefan George, ao contrário dos outros dois, não era um intelectual típico, mas um poeta. George expressou sua visão revolucionária conservadora do "novo Reich" em grande parte na poesia, e essa poesia, de fato, atingiu e afeta muitos jovens nacionalistas alemães e até intelectuais; e para isso ele é historicamente notável [4]. Mas no nível intelectual, Arthur Moeller van den Bruck (que popularizou o termo "Terceiro Reich") e Edgar Julius Jung tiveram um impacto filosófico mais profundo.

Arthur Moeller van den Bruck Moeller van den Bruck foi um historiador cultural que se tornou politicamente ativo no final da Primeira Guerra Mundial. Ele foi um membro fundador do conservador "June Club", do qual ele se tornou o líder ideológico [5]. Em "Der preussische Stil" ("O estilo prussiano"), ele descreveu o que ele acreditava ser o personagem prussiano, cuja característica fundamental era a "vontade para o estado", e em Das Recht der jungen Volker ("O Direito das Jovens Nações") ele apresentou a ideia de "jovens" (incluindo a Alemanha, a Rússia e a América) e os "velhos" (incluindo a Inglaterra e a França), defendendo uma aliança entre as nações "mais jovens" com mais vitalidade para derrotar a hegemonia da Grã-Bretanha e da França. [6]

Em 1922, ele contribuiu, juntamente com Heinrich von Gleichen e Max Hildebert Boehm, para o livro Die Neue Front ("O Novo Front"), um manifesto do Jungkonservativen ("Jovens Conservadores") [7]. Um ano depois, Moeller van den Bruck produziu seu trabalho mais famoso que continha uma exposição abrangente de sua visão de mundo, Das Dritte Reich, traduzida como O Terceiro Império. [8] 10

No Terceiro Império, Moeller fez uma divisão entre quatro posições políticas: revolucionária, liberal, reacionária e conservadora. Os revolucionários, que incluíam principalmente os comunistas, não eram irrealistas no sentido de que eles acreditavam que poderiam ignorar todos os valores e tradições passadas. O liberalismo foi criticado por seu individualismo radical, que essencialmente equivale a egoísmo e desintegra as nações e as tradições. Os reacionários, por outro lado, foram criticados por ter a posição irrealista de desejar um completo reavivamento de formas passadas, acreditando que tudo na sociedade passada era positivo. O conservador, argumentou Moeller, era superior aos três anteriores porque "o conservadorismo procura preservar os valores de uma nação, tanto pela conservação dos valores tradicionais, quanto ainda possuem o poder do crescimento e assimilando todos os valores novos que aumentam a vitalidade de uma nação "[9] O" conservador "de Moeller era essencialmente um conservador revolucionário.

Moeller rejeitou o marxismo devido ao seu racionalismo e materialismo, que ele argumentou eram ideologias defeituosas que não conseguiam entender o lado melhor das sociedades humanas e da vida. "O socialismo começa onde termina o marxismo", declarou. [10] Moeller defendeu um socialismo corporativista alemão que reconhecesse a importância da nacionalidade e recusou a guerra de classes.

Em termos de política, Moeller rejeitou o republicanismo e afirmou que a verdadeira democracia era sobre a participação das pessoas na determinação do seu destino. Ele rejeitou a monarquia como desatualizada e antecipou uma nova forma de governo em que um líder forte que estava ligado ao povo emergiria. "Precisamos de líderes que se sintam um com a nação, que identificam o destino da nação com os seus próprios". [11] Este líder estabeleceria um "Império terceiro, um Império novo e final", que resolveria os problemas políticos da Alemanha (especialmente Seu problema de população).

Edgar Julius Jung Outra ótima visão de um Terceiro Reich veio de Edgar Julius Jung, um intelectual politicamente ativo que escreveu o grande livro "Die Herrschaft der Minderwertigen" [12], que algumas vezes foi chamado de "bíblia do neo-conservadorismo" [13]. Este livro apresentou uma crítica devastadora do liberalismo e ideias combinadas de Spann, Schmitt, Pareto e outros pensadores.

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A democracia liberal foi rejeitada por Jung como a regra das massas que foram manipuladas por demagogos e também a regra do dinheiro porque tinha tendências inerentes à plutocracia. As ideias revolucionárias francesas de "liberdade, igualdade, fraternidade" foram rejeitadas como influências corrosivas prejudiciais para a sociedade e fontes de individualismo, que Jung considerava uma causa chave da decadência. Jung também rejeitou o marxismo como um produto corrupto da Revolução Francesa. [14] A Revolução Conservadora para Jung foi, em suas palavras, a

Restauração de todas as leis e valores elementares sem os quais o homem perde seus laços com a natureza e Deus e sem o qual ele é incapaz de construir uma verdadeira ordem. No lugar da igualdade, haverá padrões inerentes, no lugar da consciência social, uma integração justa na sociedade hierárquica, no lugar da eleição mecânica, uma elite orgânica, no lugar do nivelamento burocrático da responsabilidade interna do autônomo autêntico, No lugar da prosperidade em massa os direitos de um povo orgulhoso. [15]

No lugar das formas liberais e marxistas, Jung imaginou o estabelecimento de um Novo Reich que usaria economia corporativista (relacionado ao sistema da guilda medieval), seria organizado em uma base federalista, seria animado pela espiritualidade cristã e pelo poder da Igreja, e seria liderada por uma monarquia autoritária e uma elite composta por membros qualificados selecionados. Nas palavras de Jung: "O Estado como a mais alta ordem da comunidade orgânica deve ser uma aristocracia; No último e mais alto senso: a regra do melhor. Mesmo a democracia foi fundada com essa afirmação ". [16]

Ele também criticou o conceito materialista da raça como "materialismo biológico" e afirmou, em vez disso, o primado da entidade cultural-espiritual (foi sobre essa base, e não sobre a biologia, que o problema judaico fosse tratado). Além disso, ele rejeitou o nacionalismo no sentido normal do termo, apoiando o conceito de um império federalista, supra-nacional e pan-europeu, enquanto ainda reconhece a realidade e a importância do Volk e a separação dos grupos étnicos. Na verdade, Jung acreditava que o novo Reich deveria ser formado em "um fundamento volksisch indestrutível a partir do qual a luta volkisch pode assumir forma". [17]

Edgar Jung, no entanto, não se contentava em escrever apenas sobre suas idéias; Ele teve grandes ambições políticas e trabalhou ativamente com festas e conservadores que concordaram com ele na década de 1920 até 1934. [18] A necessidade da batalha já fazia parte da filosofia de Jung: "Se o povo alemão vê isso, entre eles, os combatentes ainda vivem, então eles se tornam conscientes também do combate como a mais alta forma de existência. O destino alemão exige que os homens dominem. Pois, a história mundial faz o homem. "[19] 12

Durante sua atividade política, ele não gostava do movimento nacional-socialista devido a uma aversão pessoal para Hitler, bem como a sua visão de que o nacional-socialismo era um produto da modernidade e estava ideologicamente ligado ao marxismo e ao liberalismo. Jung foi altamente ativo em sua oposição ao NSDAP e eventualmente foi responsável por escrever o endereço de Papen em Marburg, que criticou o governo de Hitler em 1934, o que resultou na morte de Jung na Noite das Long Knives. [20]

Oswald Spengler O mais famoso teórico do declínio é Oswald Spengler, o "profeta" que previu a queda da Alta Cultura Ocidental em sua magnum opus, "O declínio do ocidente". De acordo com Spengler, toda Alta Cultura tem sua própria "alma" (isto refere-se ao caráter essencial de uma Cultura) e passa por ciclos previsíveis de nascimento, crescimento, realização, declínio e desaparecimento que se assemelham à vida de uma planta [21]. Para citar Spengler:

"Uma Cultura nasce no momento em que uma grande alma desperta da proto-espiritualidade da sempre infantil humanidade, e se aparta, uma forma a partir do informe, uma coisa limitada e mortal a partir do ilimitado e duradouro. Ela floresce sobre o solo de uma paisagem precisamente definível, à qual, tal qual planta, ela permanece atada. Ela morre quando a alma atualizou a soma plena de suas possibilidades na forma de povos, línguas, dogmas, artes, Estados, ciências, e reverte à proto-alma". [22]

Há uma distinção importante nessa teoria entre Kultur ("Cultura") e Zivilisation ("Civilização"). Cultura concerne a fase inicial de uma Alta Cultura que é marcada pela vida rural, religiosidade, vitalidade, vontade de poder, e instintos ascendentes, enquanto Civilização concerne a fase posterior que é marcada pela urbanização, irreligião, intelecto puramente racional, vida mecanizada, e decadência. Ainda que ele reconhecesse a existência de outras Altas Culturas, Spengler focou particularmente em três Altas Culturas as quais ele distinguiu e teceu comparações entre: a Magiana, a Clássica (greco-romana), e a atual Alta Cultura Ocidental. Ele mantinha a visão de que o Ocidente, que estava em sua fase tardia de Civilização, logo entraria em uma fase final imperialista e 'cesarista' – uma fase que, segundo Spengler, marca o lampejo final antes do fim de uma Alta Cultura. [23]

Talvez a contribuição mais importante de Spengler para a Revolução Conservadora, no entanto, é a sua teoria do "socialismo prussiano" que ele expressou no "Prussianismo e Socialismo" e que 13

constituiu a base de sua visão de que os conservadores e os socialistas deveriam se unir. Neste breve libro, ele argumentou que o caráter prussiano, que era o caráter alemão por excelência, era essencialmente socialista. Para Spengler, o verdadeiro socialismo era principalmente uma questão de ética e não de economia. [24]

Este socialismo ético e prussiano significou o desenvolvimento e a prática de éticas de trabalho, disciplina, obediência, um senso de dever para o bem maior e para o Estado, o autosacrifício e a possibilidade de alcançar qualquer classificação pelo talento. O socialismo prussiano era diferenciado do marxismo e do liberalismo. O marxismo não era o verdadeiro socialismo porque era materialista e baseado no conflito de classes, que contrastava com a ética prussiana do Estado. Também em contraste com o socialismo prussiano, o liberalismo e o capitalismo, que negavam a ideia do dever, praticavam um "princípio de pirataria" e criavam o governo do dinheiro. [25]

Ludwig Klages Ludwig Klages foi menos influente, embora ainda digno de nota, teórico do declínio que não se concentrasse em Altas Culturas, mas no declínio da vida (o que contrasta com a mera existência). A teoria de Klages, chamada "Biocentrismo", postulou uma dicotomia entre Seele ("Alma") e Geist ("Espírito"); duas forças na vida humana que estavam em uma batalha psicológica entre si. A alma pode ser entendida como impulso vital, sentimento e Vida, enquanto o Espírito pode ser entendido como intelecto abstrato, pensamento mecânico e conceitual, razão e Vontade. [26]

De acordo com a teoria biocêntrica, nos tempos pré-históricos primordiais, a alma e o corpo do homem estavam unidos e, assim, os seres humanos viveram em êxtase de acordo com o princípio da vida. Ao longo do tempo, a Vida humana foi interferida pelo Espírito, o que fez com que os seres humanos usassem o pensamento conceitual (ao contrário do simbólico) e o intelecto racional, começando assim a separação do corpo e da Alma. Nessa teoria, quanto mais a história humana progride, mais a vida é limitada e arruinada pelo Espírito em um processo longo, mas impossível de parar, que acaba em pessoas completamente mecanizadas, excessivamente civilizadas e sem almas. "Já, a máquina se libertou do controle do homem", escreveu Klages, "não é mais a serva do homem: na realidade, o próprio homem agora está sendo escravizado pela máquina". [27]

Este estágio final é marcado por coisas como uma desconexão completa da natureza, a destruição do ambiente natural, a mistura massiva de raças e a falta de vida verdadeira, que se prevê que acabe finalmente na morte da humanidade devido ao dano ao mundo natural. Klages declarou, "A destruição final de todos parece ser uma conclusão inevitável". [28] 14

Spann e o Estado Unificado Othmar Spann foi, de 1919 a 1938, professor da Universidade de Viena na Áustria, que era influente, mas que, apesar do seu entusiasmo apoio ao nacional-socialismo, foi removido pelo governo do Terceiro Reich devido a alguns desentendimentos ideológicos [29]. Ele era o exponente de uma teoria conhecida como "Universalismo" (que é completamente diferente do universalismo no sentido normal do termo). Sua visão universalista da economia, da política, da sociedade e da ciência foi exposta em numerosos livros, o mais importante dos quais foi seu trabalho mais memorável, "Der wahre staat" (O verdadeiro Estado). [30]

O universalismo de Spann foi uma teoria corporativa que rejeitou o individualismo. Para entender a rejeição do individualismo por parte de Spann, é necessário entender o que "individualismo" é, porque definições diferentes e até contraditórias são dadas a esse termo; o individualismo aqui refere-se ao conceito de que o indivíduo é absoluto e não existe uma realidade supra-individual (e, portanto, a sociedade não é mais do que uma coleção de átomos). O leitor deve estar ciente de que Spann não fez uma completa negação do indivíduo, mas sim uma negação completa da ideologia individualista. [31]

De acordo com a teoria universalista, o indivíduo existe apenas dentro de uma comunidade ou sociedade particular; o todo (a totalidade da sociedade) precede as partes (indivíduos) porque as partes não existem verdadeiramente independentes do todo [32]. Spann escreveu: "É a verdade fundamental de todas as ciências sociais (...) Que não são os indivíduos que são verdadeiramente reais, mas o todo, e que os indivíduos têm realidade e existência apenas na medida em que são membros do todo". [33]

Além disso, a sociedade e o Estado não eram inteiramente separáveis, porque do Estado vem os direitos do indivíduo, da família e de outros grupos. O liberalismo, o capitalismo, a democracia e o socialismo marxista foram todos rejeitados por Spann como produtos individualistas ou materialistas e corruptos das ideias revolucionárias francesas. Enquanto que nas sociedades passadas o indivíduo estava integrado na comunidade, a vida moderna, com o seu liberalismo, atomizara a sociedade. De acordo com Spann, "a humanidade pode conciliar-se com a pobreza porque será e permanecerá pobre para sempre. Mas para a perda de propriedade, insegurança existencial, desarraigo e nada, as massas de pessoas afetadas nunca podem reconciliar-se" [34]. Como solução para a decadência moderna, Spann vislumbrou a formação de um Estado cristão, corporativista, hierárquico e autoritário semelhante ao Primeiro Reich (o Sacro Império Romano). [35] 15

Um historiador conservador revolucionário menos conhecido, Hans Freyer, também teve visões semelhantes a Spann e desafiou as ideias e os resultados do "Iluminismo", particularmente o secularismo, a ideia da razão universal, o conceito de humanidade universal, urbanização e democratização. Contra a sociedade moderna corrompida por essas coisas, Freyer postulou a ideia de uma "sociedade totalmente integrada" que seria completada por um poderoso e não democrático Estado. Cultura, Volk, raça e religião formariam a base da sociedade e do Estado para restaurar um senso de comunidade e valores comuns. Freyer também se juntou aos nacionalsocialistas acreditando que o movimento realizaria seus objetivos, mas depois se decepcionou com isso por causa do que viu como sua natureza repressiva durante o Terceiro Reich. [36]

Hans Zehrer Hans Zehrer foi um colaborador notável e editor da revista "Neoconservador", Die Tat, e, portanto, também é um membro fundador de um grupo de intelectuais conhecido como Tat-Kreis. Zehrer considerava que "todos os movimentos começaram como movimentos intelectuais de minorias inteligentes e bem qualificadas que, devido à discrepância entre o que é e o que deveria ser, aproveitaram a iniciativa" [37]. Sua teoria era algo relacionada com o conceito de Vilfredo Pareto de uma "circulação de elites" na medida em que acreditava que os intelectuais, na maioria dos casos, homens talentosos e inteligentes emergentes de qualquer classe social, eram cruciais para determinar a ordem social e suas ideias.

Na Alemanha daquela época, a classe média, que constituía um grande segmento da sociedade e de que Zehrer era membro, enfrentava uma série de problemas econômicos. Era o sonho de Zehrer que uma nova ordem política poderia ser estabelecida por jovens intelectuais da classe média que ele tentou alcançar. Esta nova ordem resultaria na abolição da insegura república de Weimar e no estabelecimento de uma elite autoritária constituída em grande parte de tais intelectuais. Esta elite não seria sujeita ao controle das massas e escolheria seus próprios membros com base no critério de qualidade e habilidade pessoal, sem considerar a classe social ou a riqueza. [38]

A visão de Zehrer não foi cumprida devido a uma série de falhas para estabelecer um novo Estado por uma "revolução de cima" também por causa do surgimento do NSDAP, que ele tentou influenciar no início dos anos 1930, apesar do seu desdém pelas leis do partido e, depois de não ter conseguido, recuou da atividade política. No entanto, embora a maioria dos pensadores conservadores revolucionários não visse uma elite composta quase que exclusivamente de intelectuais, é notável que eles compartilhavam com Zehrer a visão de que uma elite autoritária deveria ter sua adesão aberta para indivíduos qualificados de todas as classes e classes. [39] 16

Werner Sombart Os socialistas com tendências nacionalistas e conservadoras como Paul Lensch, Johann Plenge, Werner Sombart, Arthur Moeller van den Bruck e Oswald Spengler ao surgimento de um novo socialismo conservador e nacional. Claro, deve-se lembrar que o socialismo não marxista já tinha uma longa história na Alemanha, incluindo pessoas como Kathedersozialisten ("socialistas catedráticos"), Adolf Stöcker e Ferdinand Tönnies [40]. O próprio Werner Sombart começou como um marxista, mas depois se desiludiu com a teoria marxista, que ele percebeu era destrutiva do espírito humano e da comunidade orgânica, do mesmo modo que o capitalismo era.

Sombart é, em sua maior parte, lembrado por seu trabalho sobre a natureza do capitalismo, especialmente suas obras ligando o caráter materialista dos judeus ao capitalismo. A obsessão com o lucro, as práticas comerciais implacáveis, a indiferença com a qualidade e as "características meramente racionalizadoras e absurdas do comerciante" que eram produtos-chave do capitalismo, destruíram qualquer "comunidade de trabalho" e desintegram laços entre pessoas que eram mais comuns na sociedade medieval [41]. Sombart escreveu: "Antes que o capitalismo pudesse se desenvolver, o homem natural precisava ser alterado de todo o reconhecimento, e mecanismo racionalista mental introduzido em seu lugar. Devia que haver uma transvalorização de todos os valores econômicos". [42]

As maiores objeções de Sombart ao marxismo consistiram no fato de que o marxismo visava suprimir todos os sentimentos religiosos, bem como os sentimentos nacionais e os valores da cultura indígena enraizada; o marxismo não visava uma humanidade superior, mas uma mera base de "felicidade". Em contraste com o marxismo e o capitalismo, Sombart defendeu um socialismo alemão em que as políticas econômicas seriam "direcionadas de forma corporativa", a exploração seria encerrada e a hierarquia e o bem-estar de todo o estado seria confirmado [43].

Ernst Jünger Ernst Jünger é bem conhecido por seu trabalho sobre o que viu como os efeitos positivos da guerra e da batalha, com ele mesmo experimentando estes na Primeira Guerra Mundial. Jünger rejeitava a civilização burguesa de conforto e segurança, que ele via como fraca e moribunda, em favor da experiência de ação duradoura e "magnífica" e de aventura na guerra, que transformaria um homem do mundo burguês em um "guerreiro". O tipo guerreiro lutava contra a "eterna utopia da paz, a busca da felicidade e Perfeição" [44]. Jünger acreditava que a crise e a inquietação dos alemães após a Guerra Mundial eram essencialmente uma coisa boa.

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Em seu livro "Der Arbeiter", o "guerreiro" era seguido pelo "trabalhador", um novo tipo que se tornaria dominante após o fim da ordem burguesa. Jünger percebeu que a tecnologia moderna estava mudando o mundo; o homem individual estava perdendo sua individualidade e liberdade em um mundo mecanizado. Assim, antecipou uma sociedade em que as pessoas aceitariam o anonimato nas massas e o serviço obediente ao Estado; a população passaria por "mobilização total" [45]. Para citar Jünger:

"A mobilização total é muito menos consumada do que consuma; na guerra e na paz, expressa a afirmação secreta e inexorável de que nossa vida na era das massas e das máquinas nos sujeita. Assim, resulta que cada vida individual se torna cada vez mais inequívoca a vida de um trabalhador; e que, seguindo as guerras de cavaleiros, reis e cidadãos, agora temos guerras de trabalhadores. O primeiro grande conflito do século XX nos ofereceu um pressentimento de sua estrutura racional e sua implacabilidade". [46]

A aceitação da tecnologia por Ernst Jünger no estágio "trabalhador" está em contraste com a posição de seu irmão, Friedrich Georg Jünger, que escreveu críticas à civilização tecnológica moderna (embora Ernst mais tarde concordasse com essa visão) [47]. Ernst Jünger mudou mais tarde em suas atitudes durante a Segunda Guerra Mundial, e depois quase inverteu toda a sua cosmovisão, louvando a paz e o individualismo; uma mudança que não veio sem críticas da Direita [48].

Ernst Niekisch Outro nacionalista radical notável na Revolução Conservadora foi Ernst Niekisch, que começou como comunista, mas acabou se dirigindo para uma mistura aparentemente paradoxal de nacionalismo alemão e comunismo russo: o nacional bolchevismo. De acordo com esta nova doutrina, Niekisch defendia uma aliança entre a Rússia soviética e a Alemanha, a fim de superar o Tratado de Versalhes, bem como contrariar o poder das nações ocidentais capitalistas e antinacionalistas. No entanto, essa facção desviante, em concorrência com comunistas e nacionalistas anticomunistas, continuou sendo uma minoria mal sucedida. [49]

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Carl Schmitt Carl Schmitt foi um filósofo católico notável de política e jurista que foi uma grande influência sobre o pensamento político e que também apoiava o governo do Terceiro Reich após sua formação. Seu livro mais famoso foi "O conceito do político", embora ele também seja autor de inúmeras outras obras, incluindo a "Teologia política" e "A crise da democracia parlamentar".

O "político", para Schmitt, era um conceito distinto da política no sentido normal do termo, e se baseava na distinção entre "amigo" e "inimigo". O político existe sempre que existe um inimigo, um grupo que é diferente e tem interesses diferentes, e com quem existe uma possibilidade de conflito. Esse critério inclui tanto grupos fora do Estado quanto dentro do Estado e, portanto, tanto a guerra interestatal quanto a guerra civil são levadas em consideração. Uma população pode ser unificada e mobilizada através do ato político, no qual um inimigo é identificado e batalhado. [50]

Schmitt também defendeu a prática da ditadura, que ele distinguiu da "tirania". A ditadura é uma forma de governo que é estabelecida quando existe um "estado de exceção" ou emergência em que é necessário ignorar processos parlamentares lentos para defender a lei. De acordo com Schmitt, o poder ditatorial está presente em qualquer caso em que um Estado ou líder exerça o poder independentemente da aprovação das maiorias, independentemente de esse estado ser ou não "democrático". A soberania é o poder de decidir o Estado de exceção e assim, "soberano é ele quem decide a exceção". [51]

Schmitt criticou ainda mais a democracia parlamentar ou liberal argumentando que a base original do parlamentarismo — que considerava que a separação de poderes e o diálogo aberto e racional entre os partidos resultaria em um Estado em bom estado — foi de fato negado pela realidade da política partidária, em que os líderes do partido, as coalizões e os grupos de interesse tomam decisões sobre políticas sem discussão. Outro argumento notável feito por Schmitt foi que a verdadeira democracia não é uma democracia liberal, na qual uma pluralidade de grupos são tratados igualmente sob um único Estado, mas um Estado unificado e homogêneo em que as decisões dos líderes expressam a vontade do povo unificado. Nas palavras de Schmitt, "Toda democracia real se baseia no princípio de que não só iguais são iguais, mas as desigualdades não serão tratadas de forma igual. A democracia exige, portanto, a primeira homogeneidade e a segunda — se for necessária a eliminação ou a erradicação da heterogeneidade". [52]

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Karl Haushofer Karl Haushofer foi outro filósofo da política que é conhecido por seu trabalho teórico sobre a "geopolítica", que visava avançar a compreensão da Alemanha sobre política internacional e geografia. Haushofer afirmou que as nações não só tinham o direito de defender suas terras, mas também expandir e colonizar novas terras, especialmente quando viviam em excesso de população. A Alemanha era uma nação em tal posição e, portanto, tinha direito a Lebensraum ("espaço vital") pelo excesso de população. Para superar a dominação da estrutura de poder anglo-americana, Haushofer defendeu um novo sistema de alianças que envolvia particularmente uma aliança germano-russa (assim Haushofer pode ser visto como um "eurasiático"). Haushofer se juntou aos nacional-socialistas, mas suas ideias foram eventualmente rejeitadas pelos geopolíticos do Terceiro Reich por causa de sua hostilidade à Rússia. [53]

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As influências da revolução conservadora Os pensadores da Revolução Conservadora não tiveram apenas uma influência imediata na Alemanha no início do século XX, mas também um impacto profundo e duradouro na Direita (e, em alguns casos, mesmo na Esquerda) até o presente. Além da influência óbvia sobre o nacionalsocialismo, e se assumirmos que Otto Strasser não pode ser incluído como parte da Revolução conservadora, o Strasserismo ainda estava claramente influenciado por Arthur Moeller van den Bruck e Oswald Spengler. [54]

Francis Parker Yockey, o autor de "Imperium", também revelou influência de Spengler, Schmitt, Sombart e Haushofer [55]. Julius Evola, o famoso tradicionalista italiano, é mais um escritor que foi afetado por intelectuais conservadores revolucionários, como é claro em obras tão importantes como "Homens e as ruínas" [56] e "O caminho do cinábrio". [57]

Mais recentemente, a Nova Direito Europeia mostra uma grande inspiração dos conservadores revolucionários. Armin Mohler, que pode ser considerado uma parte da Revolução Conservadora da Alemanha, bem como o Novo Direito, é conhecido por seu trabalho seminal Die Konservative Revolution in Deutschland 1918-1932. [58] Além disso, Tomislav Sunic também desenha muitos conceitos intelectuais dos conservadores revolucionários em seu importante livro, "Against Democracy and Equality", incluindo Schmitt, Spengler e, em menor medida, Spann e Sombart. [59]

Mais um intelectual em liga com a Nova Direita, Alexander Jacob, é o tradutor de alguns livros de Jung e também é responsável por múltiplos trabalhos em vários conservadores revolucionários. [60] Quando se considera esses fatos, torna-se evidente que muito pode ser aprendido ao estudar a história e as ideias da Revolução Conservadora alemã. É uma fonte de riqueza filosófica que pode avançar na posição conservadora e que deixa sua marca no pensamento da direita, mesmo hoje.

NOTAS [1] On Hofmannsthal’s political views, see Paul Gottfried, “Hugo von Hofmannsthal and the Interwar European Right.” Modern Age, Vol. 49, No. 4 (Fall 2007), pp. 508–19. [2] Hugo von Hofmannsthal, Das Schrifttum als geistiger Raum der Nation (Munich, 1927). Quoted in Klemens von Klemperer, Germany’s New Conservatism; Its History And Dilemma In The Twentieth Century (Princeton: Princeton University Press, 1968), p. 9.

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[3] Armin Mohler, Die Konservative Revolution in Deutschland 1918–1932 (Stuttgart: Friedrich Vorwerk Verlag, 1950). [4] Robert Edward Norton, Secret Germany: Stefan George and his Circle (Ithaca, NY: Cornell University Press, 2002). [5] Klemperer, Germany’s New Conservatism, pp. 102–111. [6] Klemperer, Germany’s New Conservatism, pp. 156–159. [7] Mohler, Die Konservative Revolution in Deutschland, p. 329. [8] Arthur Moeller van den Bruck, Germany’s Third Empire (New York: Howard Fertig, 1971). [9] Ibid. p. 76. [10] Ibid. p. 245. [11] Ibid. p. 227. [12] Edgar Julius Jung, The Rule of the Inferiour, trans. Alexander Jacob (Lewiston, New York: Edwin Mellon Press, 1995). [13] Larry Eugene Jones, “Edgar Julius Jung: The Conservative Revolution in Theory and Practice,” Conference Group for Central European History of the American Historical Association, vol. 21, Issue 02 (June 1988), p. 142. [14] Ibid. [15] Edgar J. Jung, Deutsche uber Deutschland (Munich, 1932), p. 380. Quoted in Klemperer, Germany’s New Conservatism, pp. 121–22. [16] Jung, The Rule of the Inferiour, p. 138. [17] Jung, “Sinndeutung der konservativen Revolution in Deutschland.” Quoted inJones, “Edgar Julius Jung,” p. 167. For an overview of Jung’s philosophy, see: Jones, “Edgar Julius Jung,” pp. 144– 47, 149; Walter Struve, Elites Against Democracy; Leadership Ideals in Bourgeois Political Thought in Germany, 1890-1933 (Princeton, N.J.: Princeton University, 1973), pp. 317–52; Alexander Jacob’s introduction to Europa: German Conservative Foreign Policy 1870–1940 (Lanham, MD, USA: University Press of America, 2002), pp. 10–16. [18] Jones, “Edgar Julius Jung,” pp. 145–48. [19] Jung, The Rule of the Inferiour, p. 368. [20] Jones, “Edgar Julius Jung,” pp. 147–73.

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[21] Oswald Spengler, The Decline of the West Vol. 1: Form and Actuality (New York: Alfred A. Knopf, 1926). [22] Ibid. p. 106. [23] Ibid. For a good overview of Spengler’s theory, see Tomislav Sunic, Against Democracy and Equality: The European New Right (Third Edition. London: Arktos, 2010), pp. 91–98. [24] Oswald Spengler, Selected Essays (Chicago: Gateway/Henry Regnery, 1967). [25] Ibid. [26] See: Joe Pryce, “On The Biocentric Metaphysics of Ludwig Klages,” Revilo-Oliver.com, 2001, http://www.revilo-oliver.com/Writers/Klages/Ludwig_Klages.html, and Lydia Baer, “The Literary Criticism of Ludwig Klages and the Klages School: An Introduction to Biocentric Thought.” The Journal of English and Germanic Philology, Vol. 40, No. 1 (Jan., 1941), pp. 91–138. [27] Ludwig Klages, Cosmogonic Reflections, trans. Joe Pryce, 14 May 2001, http://www.revilooliver.com/Writers/Klages/515.html, 453. [28] Ibid., http://www.revilo-oliver.com/Writers/Klages/100.html, 2. [29] Klemperer, Germany’s New Conservatism, pp. 204–5. [30] Othmar Spann, Der Wahre Staat (Leipzig: Verlag von Quelle und Meyer, 1921). [31] Barth Landheer, “Othmar Spann’s Social Theories.” Journal of Political Economy, Vol. 39, No. 2 (Apr., 1931), pp. 239–48. [32] Ibid. [33] Spann, quoted in Ernest Mort, “Christian Corporatism.” Modern Age, Vol. 3, No. 3 (Summer 1959), p. 249. http://www.mmisi.org/ma/03_03/mort.pdf. [34] Spann, Der wahre Staat, p. 120. Quoted in Sunic, Against Democracy and Equality, pp. 163–64. [35] Janek Wasserman, Black Vienna, Red Vienna: The Struggle for Intellectual and Political Hegemony in Interwar Vienna, 1918–1938 (Saint Louis, Missouri: Washington University, 2010), pp. 73–85. [36] Jerry Z. Muller, The Other God that Failed: Hans Freyer and the Deradicalization of German Conservatism (Princeton: Princeton University Press, 1988). The single book by Hans Freyer to be translated into English is Theory of Objective Mind, trans. Steven Grosby (Athens, OH: Ohio University Press, 1998).

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[37] Hans Zehrer, “Die Revolution der Intelligenz,” Tat, XXI (Oct. I929), 488. Quoted in Walter Struve, “Hans Zehrer as a Neoconservative Elite Theorist,” The American Historical Review, Vol. 70, No. 4 (Jul., 1965), p. 1035. [38] Struve, “Hans Zehrer as a Neoconservative Elite Theorist.” [39] Ibid. [40] Klemperer, Germany’s New Conservatism, pp. 57–58. On Tönnies, see Christopher AdairToteff, “Ferdinand Tonnies: Utopian Visionary,” Sociological Theory, Vol. 13, No. 1 (Mar., 1995), pp. 58-65. [41] Alexander Jacob, “German Socialism as an Alternative to Marxism,” The Scorpion, Issue 21. http://thescorp.multics.org/21spengler.html. [42] Werner Sombart, Economic Life in the Modern Age (New Brunswick, NJ, and London: Transaction Publishers, 2001), p. 129. [43] Jacob, “German Socialism as an Alternative to Marxism.” [44] Ernst Jünger, ed., Krieg und Krieger (Berlin, 1930), 59. Quoted in Klemperer, Germany’s New Conservatism, p. 183. See also Ernst Jünger’s Storm of Steel, trans. Basil Greighton (London: Chatto & Windus, 1929) and Copse 125 (London: Chatto & Windus, 1930). [45] Klemperer, Germany’s New Conservatism, pp. 185–88. [46] Ernst Jünger, “Total Mobilization,” trans. Joel Golb, in The Heidegger Controversy(Boston: MIT Press, 1992), p. 129.http://anarchistwithoutcontent.files.wordpress.com/2010/12/junger-totalmobilization-booklet.pdf. [47] Alain de Benoist, “Soldier Worker, Rebel, Anarch: An Introduction to Ernst Jünger,” trans. Greg Johnson, The Occidental Quarterly, vol. 8, no. 3 (Fall 2008), p. 52. [48] Julius Evola, The Path of Cinnabar (London: Integral Tradition Publishing, 2009), pp. 216–21. [49] Klemens von Klemperer, “Towards a Fourth Reich? The History of National Bolshevism in Germany,” The Review of Politics, Vol. 13, No. 2 (Apr., 1951), pp. 191–210. [50] Carl Schmitt, The Concept of the Political, expanded edition, trans. G. Schwab (Chicago: University of Chicago Press, 2007). [51] Carl Schmitt, Political Theology: Four Chapters on the Concept of Sovereignty, trans. G. Schwab (Chicago: University of Chicago Press, 2005), p. 1. [52] Carl Schmitt, The Crisis of Parliamentary Democracy, trans. E. Kennedy, (Cambridge, Mass.: MIT Press, 1985), p. 9.

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[53] Andrew Gyorgy, “The Geopolitics of War: Total War and Geostrategy.” The Journal of Politics, Vol. 5, No. 4 (Nov., 1943), pp. 347–62. See also Mohler, Die Konservative Revolution in Deutschland, p. 474. [54] Otto Strasser, Hitler and I (Boston: Houghton Mifflin Co., 1940), pp. 38–39. [55] Francis Parker Yockey, Imperium: The Philosophy of History and Politics(Sausalito, Cal.: Noontide Press, 1962). [56] Julius Evola, Men Among the Ruins (Rochester, Vt.: Inner Traditions, 2002). [57] Evola, The Path of Cinnabar, pp. 150–55. [58] See note #3. [59] See Sunic, Against Democracy and Equality, pp. 75–98, 159–64. [60] See Jacob, Europa; “German Socialism as an Alternative to Marxism”; Introduction to Political Ideals by Houston Stewart Chamberlain (Lanham, Md.: University Press of America, 2005).

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Sobre a Revolução Conservadora Por Robert Steuckers

Quando o termo Revolução Conservadora é usado na Europa é sobretudo no sentido que lhe deu Armin Mohler no seu famoso livro Die Konservative Revolution in Deutschland 1918-1932. Mohler apresentou uma longa lista de autores que rejeitaram os pseudo-valores de 1789 (desprezados por Edmund Burke como meros blue prints), exaltaram o papel do «germanismo» na evolução do pensamento europeu e recolheram a influência de Nietzsche. Mohler evitou, por exemplo, conservadores puramente religiosos, fossem católicos ou protestantes. Para Mohler a marca essencial da «Revolução Conservadora» era uma visão não linear da História. Mas ele não toma simplesmente a visão cíclica do tradicionalismo. Depois de Nietzsche, Mohler acredita numa concepção esférica da História. O que significa isto? Isto significa que a História não é simplesmente uma repetição dos mesmos padrões com intervalos regulares nem um caminho reto que conduza à bem-aventurança, ao fim da História, ao paraíso na terra, à felicidade, etc., mas que se assemelha a uma esfera que pode girar (ou ser empurrada) em todas as direções, de acordo com os impulsos que receba de fortes personalidades carismáticas. Tais personalidades carismáticas dirigem o curso da História através de algumas vias muito particulares, vias que não estão previamente fixadas pela mão da providência. Neste sentido, Mohler nunca acreditou em doutrinas políticas universalistas mas sempre em tendências particulares e pessoais. Tal como Jünger, queria lutar contra tudo o que fosse «geral» e apoiar tudo o que fosse particular. Mais, Mohler expressou a sua visão das dinâmicas particulares usando o algo invulgar termo nominalismo. Para ele, nominalismo era a expressão que melhor indicaria como as personalidades fortes seriam capazes de abrir novas e originais vias para si e seus seguidores na floresta da existência.

As principais figuras do movimento foram Spengler, Moeller van den Bruck e Ernst Jünger (e o seu irmão, Friedrich-Georg). Podemos acrescentar a este triunvirato os nomes de Ludwig Klages e Ernst Niekisch. Carl Schmitt, como advogado católico e constitucionalista, representa outro aspecto importante da chamada Revolução conservadora.

Spengler ficará como o autor de um brilhante fresco das civilizações mundiais que inspirou o filósofo britânico Arnold Toynbee. Spengler falou da Europa como civilização fáustica, melhor representada nas catedrais góticas, a intersecção da luz e das cores dos vidrais, as tormentas de neve com nuvens brancas e cinzentas de muitas pinturas holandesas, inglesas e alemãs. Esta civilização é uma aspiração da alma humana face à luz e ao autocompromisso. Outra importante ideia de Spengler é o conceito de pseudo-morfose: Uma civilização nunca desaparece

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completamente depois de uma decadência ou uma conquista violenta. Os seus elementos passam à nova civilização que lhe sucede e formatam-na em direção a caminhos originais.

Moeller van den Bruck foi o primeiro tradutor alemão de Dostoievski. Deixou-se influenciar profundamente pelo diário de Dostoievski, que continha severas críticas ao Ocidente. No contexto alemão, depois de 1918, Moeller van den Bruck advogava, com base nos argumentos de Dostoievski, uma aliança russo-germânica contra o Ocidente. Como podiam os respeitáveis cavalheiros alemães, com uma imensa cultura artística, mostrar-se a favor de uma aliança com os bolcheviques? Os seus argumentos foram os seguintes: durante toda a tradição diplomática do século XIX a Rússia foi considerada o escudo da reação contra todas as repercussões da Revolução Francesa e contra a mentalidade e modos revolucionários. Dostoievski, enquanto antigo revolucionário russo que mais tarde admitiria que a sua opção revolucionária fora um erro, considerava mais ou menos que a missão da Rússia no mundo era apagar na Europa o rasto das ideias de 1789.Para Moeller van den Bruck a revolução de Outubro de 1917 foi apenas um câmbio de vestes ideológicas: A Rússia continuava a ser, apesar do discurso bolchevique, o antídoto à mentalidade liberal do Ocidente. Derrotada, a Alemanha deveria aliar-se a esta força antirevolucionária para se opor ao Ocidente, que aos olhos de van den Bruck, é a encarnação do liberalismo. O liberalismo, expressa Moeller van den Bruck, é sempre a doença terminal dos povos. Após algumas décadas de liberalismo um povo entrará inexoravelmente numa fase de decadência final.

O caminho seguido por Ernst Jünger é sobejamente conhecido. Começou como um ardente e galante jovem soldado na primeira guerra mundial, saindo das trincheiras sem qualquer pistola, apenas com uma granada de mão, manejada com a mesma elegância com que um típico oficial britânico usava a chibata. Para Jünger, a primeira guerra mundial foi o fim do pequeno mundo burguês do século XIX e da «Belle Époque», onde toda a gente era como devia ser, isto é, comportando-se de acordo com normas estabelecidas por professores ou sacerdotes, exatamente como hoje temos de nos comportar de acordo com as autoproclamadas regras da correção política. Debaixo das tempestades de aço o soldado podia afirmar a sua insignificância, o seu mero ser biológico, mas esta afirmação não podia, a seu ver, levar a um pessimismo inepto, ao medo e desespero. Havendo experimentado o mais cruel dos destinos nas trincheiras, debaixo do bombardeamento de milhares de armas de artilharia que sacudiam a terra, vendo tudo reduzido ao elementar, o soldado de infantaria conheceu melhor que outros o atroz destino humano sobre a face da terra. Toda a artificialidade da vida civilizada urbana surgiu de repente como pura impostura. No pós guerra, Ernst Jünger e o seu irmão Friedrich-Georg, tornam-se os melhores escritores e jornalistas nacional-revolucionários. Ernst evoluiu para uma espécie de cínico, irónico e sereno observador da humanidade e dos factos da vida. Durante um bombardeamento sobre um subúrbio parisiense, onde as fábricas estavam a produzir material de guerra para o exército alemão, na segunda guerra mundial, Jünger ficou aterrorizado com a anormal rota aérea, reta, 27

tomada pelas forças norte-americanas. A linearidade das rotas aéreas sobre Paris era a negação de todas as curvas e sinuosidades da vida orgânica. A guerra moderna implicou a destruição dos ondulantes e serpenteantes traços do orgânico. Ernst Jünger começou a sua carreira como escritor fazendo a apologia da guerra. Depois de haver observado os irresistíveis assaltos dos B-17 americanos ficou totalmente enojado pela falta de nobreza da forma puramente técnica de conduzir uma guerra. Depois da segunda guerra mundial, o seu irmão, Friedrich-Georg, escreveu o primeiro trabalho teórico que levaria ao desenvolvimento do novo pensamento alemão crítico e ecologista, «Die Perfektion der Technik» (A Perfeição da Técnica). A ideia principal deste livro, em meu entender, é a crítica da conexão. O mundo moderno é um processo de intenções de conexão das comunidades humanas e dos indivíduos a grandes estruturas. Este processo de conexão destrói o princípio da liberdade. És um pobre operário acorrentado se estás conectado a uma grande estrutura, ainda que ganhes 3000 libras por mês, ou mais. És um homem livre quando estás completamente desconectado desses enormes tacões de aço. Em certo sentido FriedrichGeorg escreveu a teoria que Kerouac experimentou de forma não teórica escolhendo largar tudo e viajar, convertendo-se num cantante vagabundo.

Ludwig Klages foi outro filósofo da vida orgânica contra o pensamento abstrato. Para ele a principal dicotomia era entre Vida e Espírito (Leben und Geist). A vida é esmagada pelo espírito abstrato. Klages nasceu no norte alemão mas migrou enquanto estudante para Munique, onde passou o seu tempo livre nos pubs de Schwabing, local onde artistas e poetas se encontravam (ainda hoje). Tornou-se amigo do poeta Stefan Georg e um estudante da figura mais original de Schwabing, o filósofo Alfred Schuler, que acreditava ser a reencarnação de um antigo colono romano nas terras do Reno. Schuler tinha um genuíno sentido teatral. Disfarçava-se com a toga de um imperador romano, admirava Nero e montava peças evocativas do antigo mundo grego ou romano. Mas para além da sua faceta fantasiosa, Schuler adquiriu uma importância cardinal na filosofia desenvolvendo, por exemplo, a ideia de «Entlichtung», ou seja, o gradual desaparecimento da Luz desde o tempo das antigas cidades-estados da Grécia ou Roma. Não há progresso na História: Pelo contrário, a Luz está a desaparecer como a liberdade do cidadão para definir o seu próprio destino. Hanna Arendt e Walter Benjamin, na esquerda e no campo conservador-liberal, foram inspirados por esta ideia e adaptaram-na para audiências diferentes. O mundo moderno é o mundo da completa escuridão, com pouca esperança de encontrar períodos «iluminados» novamente, exceto se personalidades carismáticas, como Nero para Schuler, dedicadas à arte e a um estilo de vida dionisíaco, marcassem uma nova era de esplendor que duraria apenas o tempo abençoado de uma primavera. Klages desenvolveu as ideias de Schuler, que nunca escreveu um livro completo, depois da morte deste em 1923 devido a uma cirurgia mal conduzida. Klages, pouco antes da primeira guerra mundial, pronunciou um famoso discurso na colina Horer Meissner, na Alemanha Central, para os movimentos da juventude (Wandervogel). Este discurso teve o título de «Homem e Terra» e pode ser visto como o primeiro manifesto orgânico de ecologia, com uma clara e compreensível, mas sólida, base filosófica.

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Carl Schmitt começou a sua carreira como professor de direito em 1912 e viveu até à respeitosa idade de 97 anos. Escreveu o seu último ensaio aos 91.Não posso enumerar todos os pontos importantes do trabalho de Carl Schmitt neste espaço. Resumamos dizendo que Schmitt desenvolveu duas ideias principais, a de decisão na vida política e a de «Grande Espaço». A arte de moldar a política em geral ou uma boa política em particular está na decisão, não na discussão. O líder tem de decidir para liderar, proteger e desenvolver a comunidade política de que está à frente. A decisão não é ditadura como diriam hoje em dia muitos liberais na nossa era do «politicamente correcto». Pelo contrário, uma personalização do poder é mais democrática, no sentido que um rei, um imperador ou um líder carismático é sempre um mortal. O sistema que ele eventualmente imponha não é eterno, já que ele está condenado a morrer como qualquer ser humano. Um sistema monocrático, ao invés, procura eternizar-se, mesmo se os acontecimentos correntes e inovações contradizem as suas normas ou princípios. O segundo grande tópico no trabalho de Schmitt é a ideia de Grande Espaço Europeu (Grossraum). As forças externas devem ser impedidas de interferir nesse Grande Espaço.Schmitt queria aplicar à Europa o mesmo princípio simples que animava o presidente norte-americano Monroe. A América aos americanos. Ok, dizia Schmitt, mas apliquemos a ideia de Europa aos europeus. Schmitt pode ser comparado aos «continentalistas» americanos, que criticaram a intervenção de Roosevelt na Europa e na Ásia. Os latino-americanos também desenvolveram similares ideias continentalistas, tal como os imperialistas japoneses. Schmitt deu a esta ideia de Grossraum uma forte base jurídica.

Niekisch é uma figura fascinante no sentido em que começou a sua carreira como líder comunista no «Conselho da República da Baviera» de 1918-19, que foi destruído pelos Freikorps de von Epp, von Lettow-Vorbeck, etc. Obviamente Niekisch ficou desapontado pela ausência de uma visão histórica entre o trio bolchevique na Munique revolucionária (Lewin, Leviné, Axelrod). Niekisch desenvolveu uma visão euroasiática, baseada na aliança entre a União Soviética, a Alemanha, a China e a Índia. A figura ideal que deveria ser o motor humano desta aliança seria o camponês, adversário da burguesia ocidental. Um certo paralelo com Mao Tse-Tung surge aqui evidente. Nos jornais que Niekisch editou descobrimos todas as tentativas alemãs de apoiar movimentos antibritânicos ou anti-franceses nos impérios coloniais ou na Europa (Irlanda contra a Inglaterra, Flandres contra uma Bélgica francófona, nacionalistas hindus contra o Reino Unido, etc.).

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