As Raízes Do Romantismo.

Isaiah Berlin As raízes do Ro111antis111o EDIÇÃO Henry Hardy TRADUÇÃO lsa Mara ....,4 TRÊS ESTRELAS J Lando Primei

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Isaiah Berlin

As raízes do Ro111antis111o EDIÇÃO Henry Hardy TRADUÇÃO lsa Mara

....,4 TRÊS ESTRELAS

J

Lando

Primeir queriam dizer "vida", c por ·'vida" não queriam dizer aquilo que se vê, mas aquele objetivo que, segundo eles, a vida luta para alcançar, cerras formas ideais para as quais toda a vida se inclina. Sem dúvida, foi algo muito intcligeme por parte do pintor Zêuxis, de Atenas, piorar uvas tão realistas que os pássaros iam bicá-las. Foi muito habilidoso por parte de Rafael pintar joias de ouro com tanta precisão que o estalajadeiro pensou que eram genuínas e o deixou sair sem pagar a coma. Mas esses não foram os mais altos arroubos de gênio artístico humano. O gênio artístico mais elevado consistia em visualizar, de alguma forma, aquele ideal objetivo inter-

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no para o qual tendiam a natureza e o homem, c, de alguma forma, incorporar isso em uma pintura nobre. Ou seja, existe um padrão universal, e o artista é capaz de incorporá-lo em imagens. tal como o filósofo ou o cientista é capaz de incorporá-lo em proposições. Gostaria de citar uma afirmação bem típica de Fontenelle. a mais representativa de rodas as figuras do Iluminismo, homem que levou uma vida muito cautelosa e racional, que lhe permitiu durar até os cem anos. Ele disse: "Uma obra de moralidade, de política, de crítica, talvez até mesmo de literatura, será mais refinada, considerando todas as coisas, se feita pelas mãos de um geômetra".' Isso porque os geômetras são pessoas que compreendem as inter-relações racionais entre as coisas. Qualquer um que compreenda o padrão que a natureza segue - pois a natureza é certamente uma entidade racional, caso contrário o homem não seria capaz de concebê-la nem de compreendê-la, de maneira alguma (esse era o argumento) será capaz, com certeza, de extrair do aparente caos e confusão da natureza esses princípios eternos, essas conexões necessárias, que unem os elementos eternos c objetivos que compõem o mundo. René Rapin disse, no século XVII, que a poética de Aristóteles é apenas "a natureza reduzida ao método, o bom-senso reduzido a princípios"/ c Pope repetiu isso em versos famosos, dizendo: Thosc rules o f old díscover'd not devís'd, Are Narure still, but Narure Methodíz'd. ) [Essas regras de outrora, descobertas, não inventadas, Ainda são a Natureza, mas a Natureza Metodízada.J

Essa é, grosso modo. a doutrina oficial do século XVIII, ou seja, descobrir o método na própria natureza. Reynolds, provavclmen56

te o mais representativo teórico da estética do 11éculo XVIII, pelo menos na lnglaterra, disse que o pintor cornge a natureza em seus próprios termos. trocando o estado imperfeito da natureza por um estado mais perfeito. Ele percebe uma idei a abstrata de formas mais perfeitas do que qualquer original real. Essa é a famosa beleza ideal. pela qua1. diz ele, Fídias adquiriu sua fama. Portanto, devemos compreender em que consiste esse ideal. A ideiaéa seguinte. Há certas pessoas que são mais eminentes do que outras. Alexandre, o Grande, é uma figura mais esplêndida do que um mendigo coxo ou cego c, portanto, merece mais do artista do que o mendigo, que é um mero acidente da natureza. A natureza rende à perfeição. Sabemos o que é a perfeição por algum